Real Self-Care - Resenha crítica - Pooja Lakshmin MD
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Real Self-Care - resenha crítica

Real Self-Care Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Autoajuda & Motivação

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Real Self-Care: A Transformative Program for Redefining Wellness (Crystals, Cleanses, and Bubble Baths Not Included)

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 0593489721

Editora:  Penguin Life

Resenha crítica

Você já se imaginou abandonando seus amigos, família, carreira? Talvez se imaginou buscando conforto num lugar isolado, perto da natureza, onde poderia focar apenas em  si mesma e em seu crescimento pessoal? A dra. Pooja Lakshmin, autora desse livro, não apenas pensou como de fato fez. 

Sentindo-se incompleta e insatisfeita com a sua vida, que parecia perfeita a qualquer um que a observasse de fora, a promissora jovem médica deixou sua residência e se envolveu numa espécie de comunidade focada em meditação e orgasmo feminino, onde passou quase dois anos.

Fascinada por estar num ambiente no qual finalmente as mulheres eram o centro dessa nova "sociedade", e suas necessidades e vontades eram respeitadas, Pooja demorou para perceber as inconsistências daquele lugar, e ignorou enquanto pôde a sensação de que era deixada de fora dos círculos mais íntimos dessa sociedade, mesmo estando lá há tanto tempo e falando publicamente por eles. A psiquiatra percebeu que sua profissão era tanto uma benção quanto uma maldição lá dentro: Seu prestígio servia quando precisavam validar seus costumes pro mundo exterior, aqueles que não participavam dessa comunidade. Ao mesmo tempo, sua mente científica poderia facilmente perceber as incoerências dos ensinamentos caso chegasse perto demais, o que finalmente aconteceu e a médica se viu novamente forçada a abandonar esse novo mundo que tinha encontrado.

Agora, se vendo forçada a recomeçar sua vida e tendo que lidar com toda uma nova carga de frustrações, Pooja percebe que o caminho para o autocuidado e bem-estar não depende de nada além de como você lida com seus próprios limites, vontades e necessidades nesse mundo que é, por tantas vezes, tão cruel com as mulheres. Unindo sua expertise com sua história pessoal, a psiquiatra nos ensina (sem promessas mágicas) a como alcançar a melhor versão de nós mesmas, e mais importante, como mantê-la: bem-estar é um cuidado diário, um cuidado necessário.

O império do falso autocuidado 

No mundo das redes sociais, o termo autocuidado (ou em inglês self care), parece ser uma grande novidade. A mais nova técnica de yoga, garrafas de água turbinadas com cristais curativos, óleos para massagem, todas essas novidades que prometem relaxamento e cura instantânea parecem surgir de um novo tempo: o século XXI é o centro do autocuidado. No entanto, vamos ver que a história não é bem assim.

Na verdade, o termo autocuidado surgiu nos anos de 1950, quando os médicos utilizavam o termo para encorajar pacientes a serem mais independentes cuidando de suas dietas e atividades diárias. O termo continuou atrelado ao campo da saúde e do cuidado ativo com seu próprio bem-estar físico até os anos de 1970, quando passou a ser atrelado à uma ideia de autopreservação. O movimento dos Panteras Negras utilizava o termo como sinônimo de cuidar de si e dos seus ao mesmo tempo em que promoviam a busca pela mudança de um sistema opressor, veremos futuramente que este é para a autora a ideia mais próxima de um verdadeiro autocuidado.

Agora, entretanto, o termo é uma indústria: um produto do sistema capitalista que tenta nos vender nosso bem-estar. Quantos problemas diários enfrentamos? A autora nos aponta histórias reais, a sua própria e de algumas pacientes como exemplo de estresses que são tão corriqueiros que nos acostumamos a chamá-los de rotina. Arrumar a casa, aprontar filhos para escola, horas de trabalho abusivas, a jornada da mulher moderna é dupla, por vezes tripla. É extremamente cômodo para essas pessoas exaustas acreditar que seu estresse pode ser resolvido com uma passada do cartão de crédito. Acontece que, como a maioria dos estímulos rápidos, a sensação de leveza proporcionada por esses atos de consumo são momentâneos.

Por mais que o novo tipo de meditação que viralizou possa, de fato, provocar um relaxamento momentâneo e você sinta a descarga de dopamina ao adquirir o mais novo travesseiro do momento que promete as melhores horas de sono da sua vida, saiba que, muito provavelmente, a fama desses produtos não correspondem com sua eficácia no mundo real. Só é muito mais fácil jogar a responsabilidade do nosso próprio bem-estar em terceiros, sejam eles serviços, produtos ou o mais novo guru das mídias sociais.

Perceba que, ao mesmo tempo que esses mecanismos da indústria do falso autocuidado, como chamou a autora, são fáceis de adquirir, eles são ótimos em nos causar culpa. Se você investiu seu dinheiro (e mais valioso, tempo) numa nova atividade ou novo item, não deveria estar satisfeita e menos estressada? Ou numa outra situação, se você ontem fez a melhor e mais recomendada massagem que há, porque hoje está estressada novamente com sua rotina atribulada?

O que esse novo (e falso) autocuidado faz é nos culpar pelas falhas da sociedade em que todos estamos inseridos. Deveríamos mesmo estar sempre tão estressados? Quando a angústia constante se tornou o novo normal? Porque nos sentimos culpados quando tiramos um tempo para descansar? 

Tempo, na verdade, é um fator determinante para o sucesso dessa indústria de produtos que nos oferecem tão facilmente o bem-estar. Se você ou alguém próximo já passou por um processo psicoterápico ou psiquiátrico, sabe que não é uma tarefa fácil ou rápida. Pode demorar semanas, no caso mais otimista, apenas para encontrar um profissional com o qual você se identifique. O processo pode durar anos ou mesmo décadas. No caso de um tratamento com apoio psiquiátrico, ainda há uma outra dificuldade: o de encontrar a medicação certa para o seu caso e organismo. No final, somos atraídos pela conveniência desse império: porque gastar tanto em terapia por tantos anos se podemos comprar um pacote que chegará na nossa porta amanhã?

Os aliados do bem-estar

Chegamos à metade deste microbook e é preciso abrir um pequeno parênteses aqui. Não é objetivo da autora desmerecer qualquer tipo de atividade que promova bem-estar com exceção da terapia e acompanhamento psiquiátrico. A dra. Pooja nos aponta que o mais importante é sempre olhar para as necessidades específicas de cada indivíduo e como os efeitos daquela atividade se comprovam a longo prazo. Por exemplo, uma sessão de exercício físico pode ser, de fato, uma atividade enriquecedora para certos indivíduos, e para outros um momento de frustração e uma tentativa de escapar da raiz de seus problemas. A diferença é entre métodos e princípios.

Esses termos, emprestados de um outro autor, significam o seguinte: Métodos são como tentamos cuidar de nós mesmos. Musculação, corrida, meditação e yoga são métodos e todos de fato podem promover um bem-estar e serem aliados no combate ao estresse e à ansiedade. Para serem bem-sucedidos, no entanto, é preciso estarem bem alinhados aos seus princípios.

Assim, como métodos mais tradicionais que são cientificamente comprovados que funcionam, existem outros alternativos e outros ainda mais modernos (o caso das garrafas de água que vem com cristais embutidos, por exemplo). O problema é que se não cuidarmos da nossa vida como um todo, promovendo mudanças estruturais, esses métodos não dão em nenhuma mudança significativa no nosso bem-estar. As mudanças reais vêm sempre de dentro para fora. Imagine essa situação, que a autora aponta como exemplo. Você está sobrecarregado e decide entrar numa aula de yoga. Para isso, você precisa reservar uma parte do seu tempo para a yoga, o que implica em deixar de fazer outras coisas nesse mesmo horário: trabalhar, tempo com parceiro ou filhos. No momento em que você comunica tal decisão e segue em frente com ela, você está aplicando um limite seu em sua vida prática: um método pode sim levar a um autocuidado real.

É importante não se culpar também caso um certo método que antes trazia tanto conforto e resultado de repente não funciona mais da mesma maneira. A médica nos traz o caso de uma de suas pacientes, que costumava correr como forma de desestressar. Após uma gravidez e vários problemas com a adaptação da criança em casa, ela tentou voltar ao exercício que já a ajudou a controlar sua depressão, e mesmo assim só se sentia mais e mais frustrada: ela estava comparando seu desempenho com seu novo corpo com o anterior, pré-gravidez.

Os quatro princípios do autocuidado real

Como a dra. Pooja observou anteriormente, é de fato muito fácil cair nas garras da indústria do autocuidado. O autocuidado de verdade é um processo longo e doloroso, e não pode ser comprado num site. Como podemos observar nossas reais necessidades e alinhá-las ao nosso estilo de vida? A autora nos aponta os quatro princípios do autocuidado real: Impor seus limites, mudar o jeito que falamos com nós mesmos, se tornar mais próximo de si, e o autocuidado como uma afirmação de poder.

A busca pelo autocuidado é a capacidade de fazermos as melhores decisões para nós mesmos, e para escolher que decisões são essas precisamos olhar para dentro e entendermos nossas necessidades. Isso inclui também aprender a dizer "não" quando for preciso, e estabelecer limites, sempre com o cuidado de não se deixar ser tomado pelo sentimento de culpa. 

Por vezes, podemos ser muito duros consigo mesmos. Poderíamos ter trabalhado mais, estudado mais ou feito alguma decisão diferente no passado. Esse comportamento é apenas autodestrutivo: seus erros não lhe impedem de ser cuidado e amado, inclusive por você mesmo. Dê-se permissão para errar, e o crescimento vem também de ter um momento para cuidar de si.

O falso autocuidado leva você para mais longe de si, enquanto o verdadeiro nos força a olhar para dentro de nós mesmos. Você saberá quando está praticando o que é real quando sentir que suas ações e sua vida têm a ver com seus valores e princípios.

Voltando à questão do feminino, objeto principal das pesquisas da autora, o falso autocuidado faz as mulheres se sentirem cada vez menores, vítimas do sistema que as oprime. O verdadeiro, no entanto, questiona essas estruturas de poder, colocando as mulheres no centro de seus próprios desejos e necessidades.

Notas finais

O autocuidado, quando feito de forma correta, não é uma tarefa fácil que podemos colocar na agenda e riscar no mesmo dia. É um processo doloroso em que nos tornamos extremamente vulneráveis: afinal, para compreender nossas necessidades e desejos fundamentais, olhamos também para nossos traumas e falhas e, ainda, no processo da terapia, somos obrigados a externar isso para uma outra pessoa. 

 É preciso ter coragem para abraçar a si mesmo por completo, com seus defeitos e as chances de errar, mas esse é o único caminho para uma vida saudável, na quala sensação de bem-estar não desapareça assim que você lave seu mais novo creme facial ou sua sessão de massagem termine.

Dica do 12min

Em nossa sociedade, possuímos uma ideia culturalmente bem amarrada do que é ou não o papel da mulher. Como elas devem se comportar, agir, o que podem ou não querer. Quais seriam as raízes disso? Caso se interesse pelo assunto, veja nosso microbook Mulheres, mitos e deusas, já disponível em nossa biblioteca.

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Quem escreveu o livro?

Psiquiatra especializada em saúde mental feminina, a Dra. Pooja Lakshmin é professora assistente na faculdade de medicina na Universidade George Washi... (Leia mais)

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