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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-8578885953
Editora: Panda Books
A temporada de 2015 começou sofrida para o Corinthians. O time que já tinha vencido a Libertadores de 2012 com Tite enfrentava a competição novamente com o retorno do técnico. Mas a expectativa foi frustrada com a dolorosa eliminação em casa para um obscuro time paraguaio que chegou a arrancar lágrimas de decepção dos olhos do treinador.
Alguns dias depois do baque, Tite fez uma reunião com todos os jogadores. O treinador disse que o luto fazia sentido, mas não a desconfiança, cravando que o time seria campeão em algum momento porque fazia por merecer. A frase que tinha um pouco de motivação, um pouco de fé e um pouco de pressentimento não foi esquecida pelos jogadores.
Tite diagnosticou problemas na preleção e no desmanche do elenco. Logo mudou o estilo das palestras antes do jogo e enfrentou corajosamente a diretoria para manter os jogadores do time. O título do Brasileiro de 2015 foi definido com uma vitória por um gol de Vagner Love, um dos questionados na temporada.
Tite nasceu em uma colônia italiana no Rio Grande do Sul, sendo parte de uma família com condição de vida precária em que faltava dinheiro para pôr comida na mesa. Em um núcleo gremista, com um pai apaixonado por futebol, o menino cresceu participando das peladas na escola.
Nas competições intercolegiais, teve a sorte de conhecer Luiz Felipe Scolari, o então professor de educação física do colégio estadual Cristóvão Mendonza, que também era técnico do time intercolegial e jogador veterano do Caxias. Felipão se encantou com o futebol do menino e o indicou para fazer um teste no seu próprio time.
Isso abriu as portas do futebol para Tite, que se tornou jogador profissional do Caxias e engatou um namoro com Rose, sua futura esposa. Mas a carreira como jogador foi encurtada pelas lesões, com o jovem jogador se aposentando aos 27 anos.
A 27a rodada do Brasileiro de 2015 tinha uma aura de preocupação, com o Atlético Mineiro a apenas três pontos de distância. O Corinthians precisava da vitória a qualquer custo e contava com um espectador especial.
O torcedor João Marcos Andretta perdeu os movimentos do corpo, tinha uma expectativa de vida baixa e uma condição de saúde gravíssima por causa da esclerose. Mas sua presença no estádio emocionou Tite e deu sorte para o Corinthians, que venceu o Joinville com propriedade e alargou a distância para o galo.
O treinador apontou para João no último gol e ganhou do torcedor um terço. Mas também o presenteou com uma pulseira abençoada, um presente recorrente que também entrega aos jogadores que se lesionam e precisam de fortalecimento espiritual. O treinador é religioso, tem amizade com o padre Marcelo Rossi e liga com frequência para pedir benção para a mãe.
Tite sempre teve desprendimento em relação ao dinheiro e chegou a recusar a proposta financeiramente mais vantajosa do Inter para retornar ao Corinthians em 2015. Mas essa não foi a única vez que isso aconteceu.
Na primeira passagem pelo Corinthians, topou trabalhar durante uma crise financeira do clube e com um salário abaixo do que os outros clubes pagavam para os técnicos. Isso não foi um obstáculo.
O treinador já compartilhou o prêmio que ganhou como premiação dos jogos com funcionários do clube e chegou a doar 30 mil reais para uma vizinha de sua mãe. Pouco preocupado com status, já trocou um BMW que ganhou em uma rifa por um Monza.
O começo de Tite como técnico foi sofrido, sem conseguir se destacar nos pequenos times do interior do Rio Grande do Sul. A sua história começou a mudar com a improvável conquista do Gauchão pelo Caxias, sobre o poderoso Grêmio de Ronaldinho Gaúcho.
O título abriu abrindo as portas dos grandes clubes pelos quais rodou até ser escolhido pelo Corinthians em 2010 e se tornar o técnico com mais vitórias na história do clube nos anos seguintes. Nesse processo, rompeu a amizade com Felipão. O ex-professor fez menção a entregar uma partida do Brasileirão em 2010, quando era técnico do Palmeiras.
A ideia seria diminuir as chances do segundo colocado Corinthians de vencer a competição, o que magoou Tite. O técnico também guarda ressentimento de Carlos Amarilla, o árbitro que apitou tendenciosamente o jogo entre Corinthians e Boca Juniors da Libertadores de 2013. As irregularidades na arbitragem fizeram o time ser eliminado e foram reconhecidas até pelo jornal argentino Olé.
Já passamos da metade deste microbook e Tite chegou em uma fase em que teve que fazer esforço para extrair o espírito de grupo dos jogadores. Mas teve dificuldades em 2013 com o estrelado Alexandre Pato, que parecia viver em seu próprio mundo.
O auge da crise entre o jogador e o elenco foi a eliminação para o Grêmio na Copa do Brasil, fruto de uma cobrança de pênalti em que Pato arriscou uma cavadinha e errou. Na reunião pós-jogo, Tite deu o recado claro, foi direto e sem meias-palavras. Disse a Pato que ele precisava amadurecer, deixar de ser egoísta e desenvolver espírito de equipe.
Para os jogadores, o treinador tem um código de ética e é contra provocações e desrespeitos com os adversários. Os atletas devem ser sérios e respeitosos. A exceção é quando os jogadores do seu time são provocados pela primeira vez. Nesse caso, podem dar o troco.
O treinador cultiva a lealdade como um valor importante e chegou a repreender jogadores mulherengos por não serem leais às suas esposas. O mesmo vale dentro de campo. Jogadores que dão entradas desleais nos adversários são advertidos e comportamentos que prejudicam o grupo são reprovados.
Tite repreendeu Jorge Henrique durante a preparação para o Mundial por beber demais. O jogador estava insatisfeito com sua condição de reserva e passou a ser menos compromissado. Embora desconfortável, o sermão foi importante, com Jorge Henrique sendo um dos responsáveis por anular Ashley Cole e contribuir para a vitória do Corinthians sobre o Chelsea.
Mas nem sempre os conflitos tiveram final feliz. Quando era técnico do Inter, Tite e D'Alessandro quase se agrediram fisicamente e os dois não conseguiram conviver no mesmo clube. O jogador foi afastado e o treinador foi demitido algum tempo depois.
A disciplina é importante para o treinador e isso inclui qualquer coisa que possa prejudicar o ambiente do time. O técnico reprovou os atrasos de Emerson Sheik e o repreendeu em várias ocasiões. O jogador não só se recuperou, como desenvolveu uma amizade com Tite.
Quando seu contrato não foi renovado, Emerson Sheik se despediu de Tite com lágrimas nos olhos. Ainda assim, alguns casos eram irrecuperáveis. Por exemplo, o de Adriano e seus vários atrasos. Tite tentou recuperar o jogador de várias formas, chegando a deixar o Imperador concentrado no clube com uma dieta selecionada.
Mas nada disso funcionou e Adriano não lidou bem com a cobrança. Jogador e treinador chegaram a quase se agredir e o clima ficou insustentável para o Imperador. Até o vício em cigarro de Ronaldo e Roberto Carlos foi alvo de reclamações, com Tite fazendo campanha para os jogadores pararem de fumar.
Durante o ano que ficou fora do mercado, Tite se dedicou a estudar futebol internacional. Se apaixonou pelo 4-1-4-1, o esquema tático da França de Didier Deschamps. Estudou times que implementavam o modelo, como o espanhol Valência e o português Porto.
Ao retornar ao Corinthians, pôs logo o esquema para funcionar. O armador Jadson foi adaptado na inovadora posição de meia aberto pela direita, enquanto Renato Augusto foi deslocado de sua posição original. O modelo surtiu efeito, com Jadson se tornando o meia com mais assistências do campeonato e Renato Augusto sendo premiado como craque do Brasileirão.
Com o técnico argentino multicampeão da Libertadores, Carlos Bianchi, aprendeu a importância do equilíbrio tático no futebol e trouxe a sacada para o Corinthians. Mas a chuva de conhecimento veio com o técnico do Real Madrid Carlo Ancelotti, por meio do qual aprendeu sobre concisão, lealdade e criação de treinos realistas.
O trabalho do técnico é minimalista e sua comissão usa vídeos de câmeras que filmam os treinos e os jogos em ângulo aberto, para pegar todas as jogadas. Mas não são só os movimentos táticos que interessam. O técnico tem olhos para para lances sem a bola, como jogadores cobrando o árbitro no momento errado ou fingindo que estão machucados.
Tite trabalhou para desconstruir a classe boleira e trazer seriedade para o vestiário. Nas preleções, as emoções eram protagonistas. Mesmo em times que não era acostumado a treinar, como a seleção paulista que jogou contra a carioca treinada por Renato Gaúcho, em 2004.
Mas o perfil das palestras mudou com os anos e passou a contar com mais observações técnicas. O treinador é obcecado por futebol e até os filhos têm dificuldade de apresentar outros assuntos ao pai. Seu consumo de entretenimento é raro e limitado.
Trazer o time para a sobriedade depois da temporada vitoriosa de 2012 não era tarefa simples. Tudo foi ainda mais dificultado graças à relação complicada que Tite cultivava com Mário Gobbi, o presidente do Corinthians à época. Ele era rival de Andrés Sanchez, de quem Tite era mais próximo.
O mandatário não lidou bem com o jeito reservado do treinador e não gostou do desempenho do Corinthians em 2013. Depois de péssimos resultados, Tite chegou a desistir de treinar o time. Mas foi dissuadido pelos jogadores, que foram ao seu quarto de hotel pedir que ficasse.
Ainda assim, Tite ficou profundamente magoado ao ouvir a especulação de que Mário Gobbi era contra a sua permanência e que negociava secretamente com Mano Menezes para ocupar seu lugar.
Tite sempre busca o pensamento equilibrado para não ser injusto ou exagerar em um dos lados de uma questão. Quando o lateral titular se lesionou e não tinha nenhum reserva gabaritado disponível, o treinador buscou a resposta no equilíbrio.
Tite poderia improvisar um jogador experiente na posição ou pôr para jogo o jovem Guilherme Arana, de 18 anos. A segunda opção foi a escolhida e se mostrou a correta. Mas, às vezes, o desafio é encontrar o equilíbrio entre o resultado esportivo e a manutenção de um bom ambiente.
Por exemplo, quando transformou o colombiano Freddy Rincón em reserva no Corinthians em 2004, dependendo de uma conversa franca e aberta para manter o bom clima nos bastidores. Mas a troca mais ousada foi colocar o recém-contratado Cássio no lugar de Júlio César em 2012. A mudança exigiria cuidados no vestiário, mas alçaria o novo goleiro à condição de ídolo.
Tite tem o hábito de tentar prever tudo antes dos jogos. Quer saber exatamente tudo o que pode dar errado em um jogo e se preparar para as possíveis adversidades. Por exemplo, montando times alternativos para a hipótese de expulsão. O paradoxo é que toda sua carreira foi imprevisível.
O treinador se formou para ser professor de educação física e o convite para ser técnico foi uma surpresa. Assim como seu sucesso em clubes distantes da sua cidade natal. O falecimento do seu Agenor, seu pai, também não foi antecipado. Tite demorou para dizer “eu te amo” pela primeira vez para ele e hoje sabe que essa frase não pode ser guardada.
Mas o que o treinador realmente não esperava é que seria novamente campeão ao retornar para o Corinthians em 2015. O nome mais homenageado pela Fiel não foi um jogador, como Jadson, Vagner Love ou Renato Augusto, mas o de Tite, que conquistou os corações corintianos pela segunda vez.
A origem humilde e os fracassos nos primeiros trabalhos não impediram Tite de conquistar o mundo ao vencer o Chelsea em 2012 ou de mostrar um futebol moderno e encantador ao conseguir o título Brasileiro de 2015. O livro de Camila Mattoso mostra como princípios como ética e lealdade fizeram com que a filosofia pessoal de vida do Tite mudasse a história do Corinthians.
Alguns técnicos marcaram a história do futebol brasileiro e Tite está entre eles. Mas as duas Libertadores de Abel Ferreira também o credenciam a se colocar entre os que ocupam as páginas dos ídolos. O português conta seus segredos no “Cabeça Fria, Coração Quente”, disponível aqui no 12min.
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É formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em história pela Universidade de São Paulo. Tem passagem em veículos como Lance!, ESPN e, atualmente, e... (Leia mais)
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