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Este microbook é uma resenha crítica da obra: The intelligence trap: Revolutionise your thinking and make wiser decisions
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-14-736-6986-4
Editora: W. W. Norton & Company
Você já se perguntou por que as pessoas consideradas inteligentes fazem coisas estúpidas? Como é possível que um conhecimento mais profundo nos torne mais sujeitos ao erro?
Desde o século passado, a inteligência tem sido medida e associada a um conjunto de habilidades abstratas – como memória factual, raciocínio analógico e vocabulário.
Essa compreensão limitada do conceito de inteligência leva muitos a acreditarem que ela é caracterizada pela velocidade do raciocínio e outras suposições que nos deixam totalmente suscetíveis a numerosos erros de compreensão.
Para evitar essas armadilhas, devemos desenvolver a capacidade de “pensar além de nossas expectativas imediatas”, isto é, imaginar uma visão alternativa do mundo, na qual nossas decisões estejam cada vez mais corretas.
A reflexão cognitiva pode ser compreendida, segundo o autor, como a tendência de questionar nossas próprias suposições e intuições. Os indivíduos que obtêm baixas pontuações nesses testes são mais propensas a acreditarem em teorias da conspiração e fake news.
A interpretação da inteligência geral como uma espécie de “supercapacidade” de resolução de problemas enfrenta dificuldades para se manter quando consideramos o famoso “efeito Flynn” – o (até agora) inexplicado aumento no QI médio das crianças nascidas nas últimas décadas.
Robert Sternberg, da Universidade Cornell, oferece um meio-termo com sua teoria da inteligência, examinando 3 tipos específicos: prática, analítica e criativa. Articuladas, elas podem influenciar a tomada de decisões em uma ampla gama de culturas e situações.
Os conceitos trabalhados pelo autor são fundamentais para explicar a aparente contradição existente no fato de tantas pessoas inteligentes cometerem erros frequentes.
Entre esses termos, destaca-se o de disracionalidade: o descompasso entre inteligência e racionalidade. Outra definição muito útil é a da “heurística de disponibilidade”.
Trata-se da tendência humana de superestimar certos riscos, a partir da intensidade com a qual eles vêm à nossa mente (por exemplo, quando desenvolvemos medo de andar de avião, mas não receamos andar de carro, ignorando todas as evidências de que este é muito menos seguro).
Os cientistas cognitivos dividem nossos pensamentos em duas categorias:
De acordo com essa perspectiva, chamada de “teoria do processo dual”, muitas de nossas decisões irracionais manifestam-se quando dependemos mais da primeira categoria, permitindo que esses preconceitos turvem nosso discernimento.
Nas pesquisas elencadas pelo autor ao longo da presente obra, a inteligência desempenha um papel secundário, também, sempre que estamos perante a necessidade de adiar um ganho imediato em prol de uma recompensa maior no futuro (isto é, a ideia de “desconto temporal”).
Quanto mais “inteligente” uma determinada pessoa for, tanto melhor ela conseguirá defender o seu ponto de vista e combater as opiniões contrárias, não é mesmo? Mas, e se esse viés estiver, simplesmente, errado?
Na atualidade, os cientistas chamam de “raciocínio motivado” o fenômeno psicológico que nossas mentes ativam, a partir de grandes descargas emocionais, visando a autoproteção.
Existem algumas evidências de que, graças ao raciocínio motivado, a abertura às ideias contrárias pode, na prática, “sair pela culatra”. Dito de outra forma, além de rejeitar qualquer contra-argumento, as próprias opiniões tornam-se ainda mais arraigadas.
Há autores que adotaram um termo curioso – “doença Nobel” – para descrever o hábito infeliz de vencedores do Prêmio Nobel de corroborarem posições duvidosas sobre várias questões.
Presumimos que os especialistas socialmente reconhecidos têm as credenciais necessárias para manter suas opiniões, em uma espécie de “dogmatismo conquistado”.
Aliás, os japoneses codificaram o comportamento exatamente contrário na palavra “shoshin”, cujo sentido engloba a fertilidade da mente dos jovens e sua prontidão para aceitar novas ideias.
Para o monge zen Shunryu Suzuki, existem muitas possibilidades nas mentes dos iniciantes, o que se reduz substancialmente quando o mesmo estudante progride na carreira acadêmica.
Os psicólogos passaram a estudar esse tipo de mentalidade, abrindo todo um novo campo de pesquisas, nomeado por Robson como “sabedoria baseada em evidências.”
Como Salomão, o célebre rei israelita, muitas pessoas raciocinam sabiamente sobre os dilemas alheios, mas encontram dificuldade para vislumbrar claramente os seus próprios problemas.
Esse quadro apenas piora quando, devido ao orgulho dos conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, o indivíduo se torna mais arrogante em suas opiniões e menos capaz de dialogar com os outros.
Felizmente, podemos usar o paradoxo de Salomão a nosso favor, praticando um processo chamado “autodistanciamento”. Por exemplo, pense em um acontecimento recente que lhe deixou zangado.
Agora, “dê um passo para trás”, quase se estivesse se observando em uma tela e descreva a situação. Como você se sentiu? Ao realizar essa experiência com voluntários, o autor notou que os participantes conseguiram evitar o egocentrismo, de modo que seus pensamentos não serviam mais à raiva ou ao medo.
Agora que chegamos na metade da leitura, vamos nos aprofundar nos elementos que mais contribuem para que as pessoas inteligentes cometam erros.
De acordo com essa hipótese, qualquer experiência é inconsciente e imediatamente processada. Isso desencadeia uma série de mudanças em nosso corpo – como oscilações na frequência cardíaca, acúmulo de suor na pele ou indisposição estomacal.
As sensações físicas resultantes são os sentimentos intuitivos que chamamos de instinto, dando-nos uma noção da escolha correta (antes mesmo de podermos explicar racionalmente os motivos que nos levaram a ela).
Em outras palavras, os níveis de interocepção (saber acerca do próprio estado de doença ou saúde, isto é, a sua situação patológica e fisiológica atual) interferem diretamente na capacidade de tomar decisões acertadas.
O nosso autor cita os pesquisadores Schwarz e Newman, segundo os quais, a veracidade de uma afirmação é o resultado do contato entre dois sentimentos particulares: a familiaridade (o nosso hábito ou costume em relação a algo) e a fluência (a facilidade em interpretar dados e informações).
O excesso de confiança representa um enorme risco, uma vez que gera uma falsa sensação de segurança, tornando o indivíduo mais vulnerável a erros e falhas comuns.
Para não correr esse risco, o antídoto recomendado pelo autor é a intensificação da curiosidade. Os estudos científicos asseguram que os curiosos, em sua maioria, têm uma memória acima da média.
As crenças podem surgir, inicialmente, de necessidades emocionais. Só depois é que o intelecto entra em ação para racionalizar os sentimentos, por mais bizarros que sejam.
A conclusão do autor é a de que, quanto mais inteligente você for, mais vulnerável se tornará. Há fortes evidências de que, além de seus muitos benefícios para a saúde, a prática regular de “mindfulness” (ou “atenção plena”) pode melhorar cada elemento de nossa bússola emocional, sendo a forma mais rápida e fácil de tomar decisões acertadas e aprimorar a intuição.
As varreduras cerebrais mostram por que isso acontece, revelando que a curiosidade ativa a área conhecida como “sistema dopaminérgico”. Comprovadamente, a dopamina – um neurotransmissor – responde por nossos desejos por comida, drogas ou sexo.
A sugestão de Robson é a de que, em nível neural, a curiosidade é “uma espécie de fome ou luxúria”. No entanto, esse neurotransmissor também fortalece a memória de longo prazo e seu armazenamento no hipocampo.
Assim, fica mais fácil entender como as pessoas curiosas se sentem mais motivadas a aprender e capazes de se lembrar – ainda que dediquem menos tempo a um determinado objeto de conhecimento.
Uma das descobertas científicas mais interessantes foi a observação de um certo “efeito de transbordamento”. Isso significa que, tão logo o interesse de um indivíduo seja despertado por um tema estimulante, ele recebe altas quantidades de dopamina.
A consequência imediata consiste na preparação do cérebro para apreender novos conteúdos. De tal forma que, na atualidade, os psicólogos consideram que inteligência geral, curiosidade e consciência conformam os três pilares do sucesso acadêmico.
Enquanto as pessoas pouco curiosas se sentem ameaçadas ou frequentemente surpreendidas, os que desenvolvem essa virtude costumam apreciar os mistérios e os enigmas.
De fato, eles gostam de ser pegos de surpresa. Descobrir algo novo gera, conforme mencionado, aquele impulso de dopamina. Caso essa nova informação levante ainda mais questões, tanto melhor.
Os conflitos baseados na vaidade pessoal e no orgulho estão entre os principais fatores que levam as pessoas inteligentes ao erro. Isso ocorre, principalmente, quando esses indivíduos se tornam menos focados nas tarefas que desempenham.
Dessa maneira, gastam muita energia em afirmar sua autoridade no grupo (profissional, familiar, acadêmico ou de amigos). Para piorar, uma pessoa inteligente e bem instruída tem menos probabilidade de aprender com suas falhas ou de aceitar o conselho de terceiros.
Quando erra, ela é mais capaz de construir argumentos elaborados para justificar o acontecimento, tornando-se cada vez mais dogmático em seus pontos de vista. Esse cenário fica ainda pior, pois, devido ao tamanho de seu ego, será muito difícil reconhecer eventuais lacunas em sua lógica.
Caso você seja um líder empresarial, pode ter equipes inteiras formadas por profissionais incrivelmente inteligentes e que, devido aos conflitos egocêntricos, tomam decisões estúpidas.
O célebre psicólogo e filósofo inglês do século XIX, William James, teria dito, a esse respeito: “muitos consideram que estão pensando quando, na verdade, estão apenas reorganizando os seus preconceitos.”
A legitimação social conferida às pessoas que, devido ao seu notório saber ou aos diplomas acumulados, faz com que acreditemos que elas estão automaticamente equipadas para avaliar as evidências factuais antes de chegar a uma conclusão.
Merece destaque, também, o fato de que somos ensinados a considerar a velocidade do raciocínio como uma marca de qualidade mental. Nesse contexto, hesitações e dúvidas são tidas como indesejáveis, pois, quaisquer dificuldades cognitivas são prontamente rejeitadas.
De modo geral, respeitamos os indivíduos que pensam e agem rapidamente: tanto que ser “lento” é quase um sinônimo de estupidez. As habilidades mensuradas pelos testes de inteligência são um importante componente da legitimação social, indicado a rapidez no processamento de informações e no aprendizado de conceitos abstratos e complexos.
O perigo, aqui, segundo o nosso autor, está no uso da inteligência que, ao buscar o reconhecimento coletivo, se torna mais uma ferramenta de propaganda do que uma instrumento para buscar a verdade.
Cumpre ressaltar, por fim, que não devemos negar o valor das habilidades intelectuais ou abandonar os aprendizados baseados em conhecimentos factuais e oriundos das experiências práticas.
O cultivo das características propostas pelo autor aprimora as habilidades mensuradas pelos testes padrão de capacidade cognitiva, além de nos tornar pensadores mais completos e mais sábios.
Os estudos citados por Robson demonstraram que encorajar indivíduos a identificarem seus próprios problemas, explorar diferentes perspectivas, refletir sobre resultados alternativos para eventos e detectar argumentos falaciosos são exemplos de ações que podem elevar a capacidade geral de aprendizado e raciocínio.
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Robson atuou como editor da BBC Future e da New Scientist, com obras publica... (Leia mais)
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