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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-422-1638-7
Editora: Paidós
O conceito de “escuta” utilizado pelos autores ao longo desta obra deve ser compreendida como um tipo de subversão planejada do esquema que utilizamos para considerar a linguagem como meio de comunicação. A linguagem, para o escutador, é bem mais que isso.
A comunicação vem sendo tradicionalmente pensada como um processo a 5 termos (ou funções) que inspiram distintas atitudes de escuta, descritas pelos autores como:
A escuta lúdica permite esclarecer a dinâmica, com frequência aparentemente incompreensível, presente tanto nos diálogos quanto nas narrativas infantis. Por esse motivo, vale a pena ser considerada com um pouco mais de atenção.
De modo ideal, a comunicação perfeita ocorreria quando os emissores enviam mensagens que, supostamente, traduzem o que pensam ou a realidade referencial, mediante um código (como a língua) emitido por meio de um determinado canal (por exemplo, falas, e-mails, cartas).
À medida que as mensagens são transmitidas dos emissores aos receptores (que, conforme mencionado, também tornam-se novos emissores), uma certa relação é formada entre ambos, antecipando os efeitos inerentes às mensagens e aos códigos.
Um bom exemplo de funcionamento desse esquema pode ser encontrado na relação que as crianças pequenas têm com as histórias que escutam. Elas, invariavelmente, pedem para os adultos contarem novamente e repetirem as narrativas com, exatamente, as mesmas palavras.
Há, quase sempre, um verdadeiro fascínio com as personagens malvadas, como o lobo e a bruxa. Dessa forma, as crianças investigam a relação entre aquelas personagens e os signos que conformam suas realidades.
Isso significa que elas estarão sempre dispostas e hospitaleiras a ouvir aquelas mesmas histórias, como na primeira vez. A escuta espontânea das crianças é lúdica, pois, escutar histórias implica em construir brincadeiras.
A escuta envolve contratos, cuja primeira cláusula é o acolhimento. Assim como se dá em qualquer contrato, uma espécie de regra mútua é criada entre os participantes, podendo ser suspensa a qualquer momento.
Os pactos são constituídos, portanto, nos primeiros “contratos de escuta”, levando ao surgimento de um combinado que, inclusive, pode ser transgredido durante a escutação. Os tempos que o regem, segundo Thebas e Dunker, são:
Além de representar e jogar, a escuta ativa requer as qualidades de um bom viajante. Nesse sentido, os nossos autores consideram de fundamental importância entendermos o conceito de “escuta viajante”.
Há indivíduos que viajam com roteiros fixos, em que quaisquer contratempos são percebidos como uma ameaça. Outros, por sua vez, tiram tantas fotografias e gravam tantos vídeos para se lembrarem depois que conseguem se evadir do momento presente e, assim, deixam de vivenciar o que define a essência de uma viagem, qual seja, a “arte do encontro contingente”.
Para os autores, viajar implica em se redescobrir, em um local novo e diferente, transformando a pessoa do viajante. Afinal, interagir com elementos desconhecidos sem, para tanto, se sentir ameaçado é, precisamente, o que se espera de alguém disposto a ouvir e se surpreender com o seu interlocutor, como se fosse uma interessante viagem feita apenas de palavras.
Os maiores problemas, porém, surgem quando esse interlocutor não é nada interessante. Nesses casos, fica ainda mais difícil saber o que fazer ou como se comportar adequadamente, não é mesmo?
Agora que estamos na metade do microbook, chegou a hora de nos concentrarmos em elementos mais práticos e recomendações ancoradas nos conhecimentos e experiências dos autores.
Para ter sucesso ao escutar criminosos, você deve começar imaginando que sempre somos os irracionais de alguém. Isso significa que sempre existirá uma pessoa que o considerará ignorante, louco, incapaz de dialogar ou desqualificado acerca do nível e do contexto em que o outro vive.
Leve em consideração que, para muitos indivíduos, as conversas se reduzem a saberem que você é, não o que você aprecia e gosta, o que faz ou o que vocês poderiam fazer juntos. Há certas pessoas para quem o conceito de empatia não passa de um mero embuste, utilizado para transmitir uma imagem de simpatia, a fim de obter vantagens e benefícios pessoais.
Para tal perspectiva, a empatia é um atributo dos fracos, ou seja, daqueles que necessitam do outro e, logo, não são autossuficientes. Para quem enxerga o mundo dessa forma, você é somente alguém que, potencialmente, atrapalhará o destino glorioso que eles já estabeleceram para si mesmos.
Para conseguir falar com essas pessoas, é necessário despir-se de si, considerando que estas pessoas nunca falarão realmente com você, uma vez que apenas transferem os próprios preconceitos e estereótipos que têm em relação a “alguém como você”.
Por esse motivo, a arte da escuta passar pela capacidade de desnudar-se, mas, também, de abrir mão de si. Somente assim você permitirá ser colocado naquele local imaginário que o seu interlocutor adora posicionar os outros. Logo, é preciso entender que eles não conseguem fazer diferente.
O mais indicado, porém, é evitar confrontos ou debates com quaisquer tipos de fanáticos. Mas, se isso não for possível, será imprescindível adotar uma atitude de extrema coragem, baseada em um desejo intenso de escutar o outro.
Os autores apresentam algumas práticas e valores que, em contextos nos quais é necessário estabelecer diálogos valiosos, associam-se aos gestos a partir dos quais é possível construir situações de escuta que favoreçam a coragem e a abertura ao dizer.
O maior exemplo dessas situações pode ser encontrado nos ambientes profissionais, principalmente, quando você está à frente de uma equipe de colaboradores. Nesses contextos, Thebas e Dunker recomendam:
Para colocar em prática esses princípios, é imprescindível desenvolver a empatia. No entanto, diferentemente da espontaneidade com a qual ocorre a simpatia, a empatia tende a exigir dedicação, trabalho e muito empenho.
Dependendo da situação, você deve estar disposto a empenhar suor, paciência e, novamente, bastante coragem para ser capaz de conhecer de perto as experiências íntimas de sofrimento e dor daqueles que lhe cercam.
Tanto trabalho só é justificável quando existe algo essencial e anterior, que é um genuíno desejo de escutar os outros. Isso não quer dizer, de modo algum, que você deve estar disposto a sempre concordar com as ideias e opiniões alheias.
A empatia é formada nas relações em que há, efetivamente, hospitalidade ao outro, despojamento de si, reconhecimento do conflito e da divisão do outro nas relações conosco, além da invenção ou criação necessária para viabilizar a empatia.
A tolerância, simpatia pelos outros e a habilidade de nos colocarmos em seu lugar, são condições que, embora necessárias, são insuficientes para determinar a experiência empática.
Os autores afirmam que a empatia não se restringe a um circuito de mútua compreensão, sendo um modo de fazer as coisas juntos, uma forma de compartilhar ações e não apenas sentimentos. À medida que a empatia não se reduz à reconciliação, ela é uma espécie de trabalho criativo e conflito produtivo com a diferença.
Cumpre ressaltar, por fim, que a maioria dos livros sobre escuta servem apenas para pessoas que não precisam mais deles.
Nesse sentido, uma das maiores aspirações de nossos autores é que a presente obra ajude os leitores a valorizarem a importância da escuta ativa como tratamento psicológico e social dos conflitos e, também, como um meio de enriquecer a experiência humana.
Gostou do microbook? Então, não perca a oportunidade de aprimorar, ainda mais, as suas habilidades de escuta e potencializar as relações interpessoais: leia também “Como Ultrapassar a Timidez e Criar Coragem”!
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