O design do dia a dia - Resenha crítica - Donald A. Norman
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O design do dia a dia - resenha crítica

O design do dia a dia Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Carreira & Negócios

Este microbook é uma resenha crítica da obra: The design of everyday things

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-3252-083-8

Editora: Anfiteatro

Resenha crítica

A psicopatologia dos objetos do cotidiano

Você já se perguntou por que toleramos frustrações com objetos do cotidiano. São coisas que não descobrimos como usar, elegantes embalagens embrulhadas em plástico impossíveis de abrir, portas que prendem pessoas, máquinas de lavar e secadores que se tornaram confusos demais para serem usados. Por que aceitamos isso? 

Ao longo da evolução humana, nossa mente foi se aprimorando com perfeição para entendermos o mundo ao nosso redor. Com uma breve pista, ela é capaz de explicar, racionalizar e compreender tudo que nos cerca. 

Quando consideramos objetos como livros, rádios, e outros utensílios, logo pensamos em facilidade no uso e resolução de problemas. Se bem projetados, a interpretação pelo cérebro é simples e o entendemos bem. Se mal concebidos, a dificuldade para manuseá-los causa frustração.

Quantas vezes você já se deparou com um objeto complicado e sem indicação alguma ou pistas falsas de como colocar em prática sua utilização? O resultado disso é um mundo cheio de consumidores revoltados e objetos descartados pela falta de compreensão. São mecanismos que induzem ao erro e precisam ser modificados. 

Ao não pensar na usabilidade do consumidor, pequenas e grandes empresas sujam suas mãos com chateações do cotidiano. Infelizmente, o mundo está lotado de design de má qualidade, impedindo o usuário de ter acesso normal a seus produtos e dificultando a vida de pessoas comuns. Passou da hora de mudar esse cenário.

A psicologia das ações do cotidiano

Muitas pessoas cometem erros com dispositivos mecânicos, interruptores de luz, fusíveis, sistemas de operação de computador e processadores de texto. Chegam a causar acidentes com aviões e usinas de energia nuclear, por que não?

Quase todas se sentem culpadas e buscam alguma forma de esconder o próprio erro, estupidez ou falta de jeito. Ninguém gosta de ser notado quando tem um mau desempenho em qualquer função.

Então, o autor costuma mostrar como um design defeituoso levaria qualquer um de nós a cometer o mesmo tipo de equívoco. Mesmo no caso de uma tarefa superficial, é comum haver um orgulho perverso de provar a própria incompetência.  

Evidentemente, cometemos erros, vez ou outra. Mas equipamentos complexos exigem instruções, sem as quais as confusões são previstas. Designers deveriam se dedicar mais a evitar que isso ocorra. Afinal, se um erro é possível, alguém o cometerá. 

O bom designer deve presumir que todos os equívocos na utilização vão ocorrer e fazer seu projeto de modo a minimizar a possibilidade deles ou seus efeitos, depois que ele for cometido. Os erros deveriam ser fáceis de detectar, ter consequências mínimas e, se possível, com efeitos reversíveis. 

Na vida cotidiana, lidamos frequentemente com situações desconhecidas. No mundo ideal, teríamos acesso a instruções ou funcionamentos intuitivos para resolvê-las. Mas acontece o contrário e achamos que o erro está justamente dentro de nós. Quando passamos por sessões de terapia, os psicólogos trabalham muito com concepções que dão pistas sobre a organização e operação de nossas mentes. Pensando na coletividade humana, o mesmo se aplica ao design inadequado para uma fácil utilização. 

Conhecimento na cabeça e no mundo

Há um comportamento comum, detectado em pesquisas realizadas nas salas de aula estadunidenses. Ele ajuda a explicar a importância de um design adequado para os produtos de uso cotidiano. Alunos não costumam serem capazes de recordar as combinações entre números de sua agenda e a quem pertencem. É a demonstração de uma natureza falha do conhecimento e da memória humana. 

Nem toda informação exigida para lidar com questões do cotidiano precisa estar na cabeça, mas pode ser distribuída pela memória, mundo e restrições do ambiente. Isso explica um pouco como fazemos para nos adaptar aos problemas de design com intuição restrita no mundo contemporâneo.

Para ter um comportamento adequado diante de situações difíceis, com informações insuficientes, é preciso entender quatro aspectos de condutas comuns aos seres humanos. 

  1.  As informações estão no mundo: grande parte das informações de que uma pessoa precisa para realizar uma tarefa pode residir no mundo. O comportamento é determinado pela combinação das informações na memória com as que se encontram ao nosso redor. 
  2. Nem sempre é preciso grande precisão: precisão, exatidão e integralidade do conhecimento raramente são necessárias. Haverá um comportamento perfeito se o conhecimento descrever as informações ou o procedimento na medida suficiente para que se distinga a escolha correta entre todas as outras. 
  3. Restrições são naturais: o mundo restringe o comportamento permitido. As propriedades físicas dos objetos limitam as operações possíveis, como a ordem em que as partes componentes podem se encaixar e as maneiras por meio das quais um objeto pode ser movido, levantado ou de algum outro modo manipulado. 
  4. Restrições culturais: além das restrições naturais físicas, a sociedade desenvolveu numerosas convenções artificiais que governam o comportamento social aceitável. Essas convenções culturais têm de ser aprendidas, mas, uma vez introjetadas, se aplicam a uma ampla variedade de circunstâncias. Sem levar em conta esses quatro fatores, o design de produtos do dia a dia comum fica mais problemático e pouco ajuda a vida dos consumidores.

Saber o que fazer 

Já passamos da metade de O design do dia a dia. É bom lembrar a importância das pessoas saberem o que fazer com os produtos usados no cotidiano.

No passado, aparelhos de videocassete podiam ser assustadores para pessoas que não estivessem familiarizadas com eles, mesmo com uma utilidade que revolucionou a relação entre o público do mundo audiovisual. Eram tantos botões, controles e displays, que muita gente se atrapalhava. 

Quando encontrávamos dificuldade de operar um aparelho desses, tínhamos como culpar a aparência incompreensível da máquina e a falta de indicações sobre o que fazer. 

Bem diferente é sentir dificuldade de fazer funcionar aparelhos que esperamos que sejam simples. Ao lidar com situações novas, enxergamos uma variedade grande de possibilidades. 

Consideramos a situação e tentamos descobrir quais partes dos componentes podem ser operadas e que operações devem ser efetuadas para sua aplicação prática, facilitando o nosso dia a dia. Os problemas ocorrem sempre que existe mais de uma possibilidade. 

Quando uma única parte componente pode ser operada, com só uma ação possível a executar, não existe dificuldade. 

Em compensação, se o designer deixar muito complexa sua utilização, escondendo indicações visíveis, o consumidor poderá acreditar que não existem alternativas, sem saber por onde começar, podendo até desistir. 

Daí surge a dúvida: se podemos facilitar, por que dificultar? Se o produto é mesmo revolucionário, por que não deixar mais simples a utilização para quem o levou para casa?

Errar é humano

Todo mundo erra. O tempo todo. E voltará a errar. Outra vez. E de novo, e de novo, para todo o sempre. Não há nada de anormal nisso. 

Durante um dia comum, é difícil não se deparar com um tropeção, uma repetição, uma frase interrompida pela metade, para ser descartada ou reformulada. Possuímos mecanismos de linguagem que nos permitem fazer correções praticamente automáticas, nem reparamos. 

E artefatos artificiais não têm a mesma tolerância. Se você aperta o botão errado, o resultado pode ser o caos. Erros podem ter diversas formas. Duas categorias fundamentais são os lapsos e os enganos. Os primeiros resultam de comportamento automático, quando ações subconscientes que têm a intenção de satisfazer nossas metas são detidas a meio caminho. Já os enganos resultam de deliberações conscientes. 

Um mesmo processo nos torna criativos e perceptivos, mas pode trazer conclusões diferentes de acordo com a visão parcial ou imperfeita com a qual nos deparamos.  Seres humanos possuem capacidade de generalizar a partir de pequenas quantidades de informações em novas situações. As diferenças entre lapsos e enganos se tornam prontamente aparentes.

Quanto melhor o design de um produto, menor será a propensão de levar o usuário a cometer lapsos e enganos. 

O desafio do design

Boa parte do mundo do design evolui. Ele é testado, as áreas problemáticas são descobertas e modificadas, e depois é continuamente submetido a novos testes e modificado até que o tempo, a energia e os recursos se esgotem. 

Trata-se de um movimento natural de design, característico dos produtos construídos por processos semelhantes aos do artesanato mais popular. Quando os artigos são feitos à mão, as modificações eliminam pequenos problemas, com pequenos aperfeiçoamentos ou novas ideias colocadas em prática. Dessa forma, o trabalho resulta em itens funcionais, que proporcionam prazer e satisfação estética. 

Aperfeiçoamentos podem ocorrer por meio de uma evolução natural, desde que cada design anterior seja examinado com atenção e cuidado e o artesão esteja disposto a ser flexível. As características ruins têm de ser identificadas e corrigidas. Se uma modificação torna as coisas piores, precisa ser consertada para manter apenas o que é bom.
Para quem trabalha com produção manual, esse processo precisa ser contínuo, ainda que repetitivo. Caso atue com automatização, a lógica é a mesma. O design do dia a dia necessita ser permanentemente aperfeiçoado. Passou da hora de deixar a vida prática dos consumidores mais funcional, ágil e intuitiva. 

Notas finais 

O design do dia a dia deixa clara a importância de se pensar no consumidor, a razão de ser de toda empresa. Qualquer que seja o produto ou serviço oferecido, sem facilitar a vida de quem se dispõe a gastar seu dinheiro para utilizá-lo, é preciso ter atenção, respeitar a necessidade e facilitar sua vida. E, ao pensarmos nos aparelhos que nos cercam, é comum perceber como somos induzidos a erros devido à pouca usabilidade comum na indústria. Passou da hora de mudar esse cenário. 

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Quem escreveu o livro?

Donald A. Norman é professor emérito de ciência cognitiva na Universidade da Califórnia em San Diego e professor de ciência da computação na Universidade Northwestern, mas seus trabalhos de... (Leia mais)

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