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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Obousan Ga Oshieru Kokoro Ga Totonou Souji No Hon
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-422-0587-9
Editora: Planeta
A limpeza, para os japoneses, transcende o repetitivo e simples trabalho braçal. Sem embargo, é comum que os estudantes se encarreguem da limpeza de suas próprias escolas, algo impensável no mundo ocidental. Se você tiver a oportunidade de visitar um autêntico templo budista, notará que as suas dependências sempre estão impecáveis.
Receber bem os visitantes é, claro, um dos motivos para isso. Contudo, os monges aprendizes (que residem nos templos) consideram a limpeza uma missão ascética fundamental, cabendo a eles lustrar, esfregar, espanar e varrer todos os ambientes.
Enquanto foi estudante de um templo na cidade de Quioto, o autor foi instruído a dobrar e guardar roupas corretamente. Se cometesse algum pequeno erro, seria duramente advertido pelo monge veterano.
Caso tenha a oportunidade, observe monges trabalhando na limpeza dos templos: executam silenciosa e alegremente as funções que lhes são designadas, pois as tarefas de limpeza não são consideradas um estorvo que deve ser finalizado o mais brevemente possível.
Segundo a tradição, um dos discípulos de Buda alcançou a iluminação enquanto varria os corredores de um templo e vestia um simples samue.
Nas tarefas diárias dos templos, os monges trajam quimonos chamados de “samue”, que são de fácil lavagem e conferem liberdade de movimento, tornando-se vestuários essenciais nas faxinas, em pequenas incumbências e em trabalhos administrativos.
O samue é trocado pelo hábito “koromo” para atender aos ofícios religiosos. Matsumoto expressa sua preferência pelos tons sóbrios, como preto ou índigo, mas há samues de cores alegres, de acordo com os gostos pessoais de cada monge.
Tratam-se de quimonos simples que, mesmo com o correr do tempo, não ficam com a aparência envelhecida. No verão, os samue feitos de linho suave são os mais indicados, enquanto o inverno demanda peças mais grossas de algodão.
Vestidos com samues, os monges se dirigem à parte mais importante de qualquer habitação, lar ou residência: a cozinha!
Os monges encarregados pela preparação dos alimentos nos templos zen são chamados de “tenzos”. Essa palavra pode ser traduzida por “aquela que sente um forte desejo de iluminação”.
O cargo é considerado de grande importância, exigindo da pessoa que o ocupa um coração livre de pensamentos mundanos. Desse modo, as tarefas da cozinha podem ser cumpridas com extremo zelo.
Quando os templos organizam algum tipo de evento, toda a comunidade ajuda a preparar refeições, o que explica as exageradas dimensões de suas cozinhas – cestos, panelas e pias são imensas. As cozinhas dos templos também são impecáveis e todos os seus utensílios estão sempre guardados nos lugares adequados.
Com a cozinha organizada, o tenzo pode iniciar rapidamente o seu dia de trabalho. O tempo de cada preparo também diminui, e as refeições são servidas prontamente, ainda quentes.
A alimentação monástica é essencialmente vegetariana. Não há ingestão de carne vermelha ou branca e, tampouco, ingredientes com aromas pronunciados, como alho e cebolinha.
Quando o paladar se habitua aos estímulos sutis dos vegetais, ele se torna mais sensível e refinado, passando a detectar nuances que, de outro modo, seriam quase imperceptíveis.
A culinária budista, portanto, elabora pratos que valorizam o sabor dos alimentos sazonais, sem excesso de óleo e temperos exóticos, bem como grandes quantidades de utensílios. Por isso, a limpeza que se segue ao preparo é simples e rápida.
Os monges fazem todo o possível para evitar o acúmulo de lixo orgânico, aproveitando por completo cada ingrediente.
Por exemplo, as folhas de nabo podem ser picadas e usadas como tempero, e um kinpira (técnica culinária centrada no salteamento de vegetais) delicioso: deve-se cortá-la em pedaços finos, refogar em óleo de gergelim, adicionar pimenta vermelha e, depois, temperar com um pouco de molho de soja.
Caso exista algum lixo orgânico ao final da preparação, os monges o devolvem à terra para que se transforme em adubo. O modo de trabalho do tenzo visa criar uma percepção de que espírito e matéria se fundem, efetivando o ascetismo pela via culinária. A comida é suave, sazonal e preparada com utensílios ordenados e limpos.
Sem embargo, de nada adiantaria frequentar uma cozinha adequadamente limpa se o mesmo não acontecesse com os pisos, certo? É por isso que os monges budistas conferem centralidade à limpeza dos assoalhos.
Agora que estamos na metade deste microbook, chegou a hora de nos aprofundarmos um pouco mais nas fundamentações budistas das práticas de limpeza adotadas pelos monges zen.
Nos templos, a tarefa de lustrar os assoalhos é fundamental. Tanto que não há um único dia do ano em que não se efetue a limpeza dos corredores. Nos templos mais antigos, em que os pisos de madeiras já escureceram (uma vez que foram construídos há séculos), eles adquirem a transparência de fósseis lisos, à medida que são diariamente polidos ao longo de centenas de anos.
Os visitantes, embora caminhem bastante no interior de um tempo, jamais ficarão com a sola de suas meias sujas. Afinal, lustrar o assoalho também é uma forma de manifestação ascética. Independentemente de seu estado, o assoalho deve ser limpo diariamente: ao lustrá-lo, os monges lustram seus próprios espíritos.
Você, talvez, esteja pensando agora: “qual o sentido de lustrar alguma coisa que já esteja limpa?”. Segundo o autor, polir os assoalhos transmite a real compreensão de uma limpeza espiritual. A nossa mente e o nosso corpo tendem a acumular impurezas que, por sua vez, são refletidas na sujeira dos aposentos.
Quando, ao limpar o assoalho, você encontra alguma nódoa, trata-se de um sinal de que o espírito também está em desordem. Quando você é capaz de projetar as confusões mentais nos ambientes, assegurando-se de sua inexistência, conseguirá administrar melhor o estado geral do seu espírito.
Assim que a casa é limpa, a poeira volta a se acumular; no jardim recém-varrido, grandes quantidades de folhas secas voltam a cair. Com o espírito ocorre o mesmo: tão logo acreditamos estar livre de máculas, os pensamentos impuros ressurgem.
A ansiedade pelo que virá e o apego pelo que se foi, essa tensão entre o passado e o futuro, é algo que os monges buscam evitar, concentrando toda sua energia na limpeza.
Para Matsumoto, a faxina articula tarefas que convergem tudo o que existe ao momento presente. Assim, há uma verdadeira obsessão em conservar os ambientes agradavelmente limpos.
Essa preocupação, no entanto, não se restringe aos espaços internos das habitações e templos. Os ascetas não deixam de cuidar, também, da higienização de suas entradas.
A palavra japonesa “genkan” (ou entrada) traz o significado etimológico de “acesso ao caminho elevado”, isto é, a porta de entrada ao ascetismo. Caso o genkan esteja sujo, o caminho a seguir será comprometido. É por isso que os monges dedicam atenção especial à manutenção da entrada de seus templos.
No passado, o genkan era restrito aos samurais, porém, na atualidade, está presente também na entrada de lares que, por não significarem a iniciação ao ascetismo, dispensam cuidados tão rigorosos e cerimoniais. Contudo, a entrada é, ainda, a fronteira que separa o exterior do interior da casa, de modo que deve permanecer sempre limpa.
Quando visitar um templo, fique atento aos dizeres inscritos no banheiro e no genkan: “concentre-se em seus pés”. A verdade deve ser procurada dentro de você. Reflita sobre os seus passos e pondere sobre si mesmo. Indivíduos que não descalçam seus sapatos e o ordenam na entrada trazem um espírito em desordem.
Há quem seja consciente do procedimento, todavia, apressados e atarefados, deixam os calçados largados de qualquer jeito, evidenciando que seus espíritos estão totalmente apartados do momento presente.
A despeito de poucas pessoas utilizarem os tamancos geta (feitos de madeira), o nome getabako (isto é, “caixa de geta”) permaneceu. Nas cerimônias mais importantes, em que centenas de monges se reúnem, várias sandálias de tiras brancas e solas de couro ficam enfileiradas no getabako.
Depois do genkan, as pessoas passam pelo “tataki” – um piso acimentado no qual é permitido utilizar sapatos. Feito originalmente de terra batida e misturada com carvão mineral e água, o tataki é propenso ao acúmulo de muitas impurezas, sendo necessário manter-se atento ao pisar.
Quando um monge se suja no tataki, deve imediatamente procurar uma forma de se limpar – processo que, geralmente, é iniciado ao lavar o rosto.
A limpeza não se relaciona apenas como o entorno, uma vez que é necessário cuidar, também, do asseio do espírito e do corpo. Ao despertar, lavar o rosto é o primeiro ato que devemos fazer. Embora esse hábito seja bastante comum, você conhece o seu significado?
Dôgen, um sacerdote zen, sustentava que, sem lavarmos o rosto, tudo o que executarmos no dia será acompanhado pela falta de boas maneiras. A sujeira não é a única motivação para lavá-lo – mesmo com o rosto limpo, é altamente recomendável fazê-lo.
No templo de Eihei, uma toalha de cerca de 2 metros é usada para lavar o rosto. Ela envolve golas e mangas, evitando que a água seja espirrada na roupa. Para a escovação dos dentes, um alguidar é o suficiente.
A água é um presente sublime da natureza e, como tal, deve ser consumida parcimoniosamente e, depois, devolvida à natureza. Pensando nisso, os monges lavam seus rostos com sentimentos de gratidão.
Caso não vista quimonos, você pode utilizar toalhas de rosto comuns. Fique atento para economizar água e evite deixar a torneira aberta. Por fim, lembre-se de pendurar a toalha molhada para secar.
Lavar o rosto é um gesto de grande simplicidade, ideal para quem deseja seguir o caminho e, para isso, é necessário praticar o desapego!
Os monges habitam espaços muito pequenos que, em média, equivalem a um tatame. Nele ele, dorme, faz suas refeições e medita. Matsumoto viveu em uma comunidade de Quioto, pertencente ao templo da Terra Pura, na escola Shin.
Ali, quaisquer coisas além do minimamente necessário (como roupas de baixo e material de escrita), eram estritamente proibidas. Nos quartos, 10 neófitos compartilhavam a mesma rotina:
Esse cotidiano impedia que houvesse espaço para o aparecimento de pensamentos impuros.
Outro interessante exemplo de desapego pode ser encontrado na vida do mestre Ippen, que nunca teve endereço fixo ou posses. A plena liberdade de espírito é possível, segundo o autor, apenas em uma vida sem propriedades.
Ao seguir uma vida monástica, o indivíduo percebe que apenas as coisas boas permanecem ao seu lado – itens de excelente qualidade feitos mediante esforço e tempo.
Quando tocamos algo assim, toda a energia que se concentrou em seu processo de manufatura percorre nosso corpo, chegando ao coração. Se, ao contrário, estivermos rodeados de objetos sem valor, pouco nos importará se algum eventualmente se quebrar: jamais alcançaremos a verdadeira valorização dos objetos.
Escolha, para as crianças, uma quantidade restrita de brinquedos de qualidade. Ensine-as acerca da importância de usar tigelas de laca em suas refeições, e elas desenvolverão a sensibilidade necessária para reconhecer o valor de tudo o que existe.
Tendemos a acumular e, também, a descartar pessoas e objetos facilmente. Isso se converte em uma metáfora para o descaso com o qual vivemos nossas próprias vidas. A limpeza, nesse contexto, é um exercício espiritual que, embora pequeno, pode nos lembrar do que realmente é importante.
Assim, limpe a sua casa do mesmo modo com o qual pretende viver, com atenção, consistência e, sobretudo, comprometimento.
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O "Manual de Limpeza de um Monge Budista" foi escrito por Keisuke Matsumoto, vivendo em Tóquio, e sendo um dos únicos monges do mundo dotados de uma pós-graduação em MBA, ele é um personagem aclamado no cenário mu... (Leia mais)
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