Hipnose e neurociência - resenha crítica

A mente é sua maior aliada

Todos nós enfrentamos incontáveis desafios ao longo da vida. Muitos são de ordem prática, com a resolução dependendo da tomada de atitudes que interferem em sua rotina e na de pessoas no entorno. Outros são puramente internos. 

Em ambos os casos, é fundamental saber que a mente humana tem papel importante, já que usar os pensamentos em seu favor impulsiona melhorias. 

Quando uma pessoa tem dificuldade no gerenciamento de emoções ao se ver diante de um obstáculo, ou quer se desenvolver em uma área específica, nada faz mais diferença do que contar com a força de nosso bem mais precioso. 

Essa constatação transforma a visão que se tem de si mesmo e do mundo ao redor. Ao trabalhar com a mente, é possível descobrir novas possibilidades para o desenvolvimento pessoal, podendo resolver todos os problemas que lhe afligem. Técnicas que buscam compreender, interpretar e usar as emoções em seu favor fazem parte dessa busca pelo autoconhecimento. Uma delas é a hipnose.

Lembre-se sempre que o conhecimento de algumas ferramentas não substitui tratamentos farmacológicos ou psicoterapêuticos, que fazem toda a diferença no bem-estar mental. 

O que é hipnose? 

Uma ferramenta muito poderosa para o desenvolvimento pessoal, mas, na maioria dos casos, interpretada de maneira equivocada. Se você pensa na hipnose de um jeito assustador, é muito provável que seu entendimento esteja completamente equivocado. E os principais culpados são a religião, a cultura popular e a indústria do entretenimento, tratando-a como algo folclórico de forma sensacionalista. 

Tudo aquilo que você já viu sobre entrar em transe e latir como um cachorro, ter as memórias apagadas ou mesmo ver os segredos mais íntimos revelados diante de todos, talvez andando para sempre como um zumbi em transe, não passa de lenda. 

A hipnose é um estado natural da mente, que pode ser acessado por várias vezes durante o dia. Ao focar sua atenção de maneira plena ouvindo um podcast ou mesmo assistindo a uma série, sem perceber as horas passando, você possivelmente estava em estado hipnótico. 

Esse conceito deriva da palavra grega “hipnos”, que indica sono. Nos anos 1800, muitas pessoas participavam de sessões em que pareciam dormir. Com o passar do tempo, a ciência compreendeu esse estado como diferente do relaxamento profundo para repor as energias. 

A hipnose pode ser comparada a uma habilidade única, usada pelo cérebro para ajudar em algum tipo de mudança. O conteúdo das sugestões hipnóticas permite à mente saber como agir para modificar hábitos, pensamentos, comportamentos e emoções. Quando feito por gente bem preparada, é um método seguro e eficaz. 

Nela, você pode se concentrar para alterações que garantam mais bem-estar para seu cotidiano. Com o tempo, sua atividade cerebral se transforma, diminuindo o monitoramento e o gerenciamento das novas informações, naturalizando as sugestões hipnóticas.

As redes cerebrais relacionadas à hipnose

O cérebro possui muitas redes que se interconectam o tempo todo, mas são três as que estão relacionadas diretamente à hipnose. 

A primeira delas é a Rede de Saliência, conhecida pela sigla RS. Ela monitora as informações recebidas pelo cérebro, decidindo o grau de importância de cada uma e assim participando de comportamentos e funções cognitivas, nos permitindo entender as emoções, pensamentos e corpos. É a responsável por controlar a atenção.

Já a Rede de Controle Executivo, a RCE, gerencia habilidades mais complexas, usadas na resolução de problemas, raciocínio e memória. A Rede de Modo Padrão, chamada de RMP, é a mais ativa quando o cérebro foca em momentos específicos, seja do presente, do passado ou do futuro. Quando as outras redes estão mais engajadas, esta acaba menos ativa. 

A Rede de Saliência ajuda a escolher qual rede é mais crucial para ser acionada em cada momento. A hipnose atua nas mudanças de atividade, alterando o gerenciamento de informações recebidas pela mente. 

Na maioria dos casos de hipnose, a RS reduz sua atividade, permitindo uma atenção mais focada para a autoconsciência absorver informações dos sentidos. Nesse momento, a RCE também se modifica, compartilhando informações com as outras redes, permitindo que se lide melhor com o momento presente e o pensamento livre guiado na hipnose. 

Todo mundo é hipnotizável? 

Passamos da metade desse microbook e é importante definir o que é a hipnotizabilidade antes de responder à pergunta do tópico. Também chamada de responsividade hipnótica ou sugestionabilidade hipnótica, esse é o nome dado à capacidade de uma pessoa experimentar mudanças fisiológicas, sensoriais, comportamentais, cognitivas e emocionais em resposta às sugestões dadas durante a hipnose.

Nada mais é do que a capacidade de realizar mudanças desejadas por meio de um processo hipnótico. Mas isso também envolve componentes particulares, especialmente questões corporais e emocionais, além do contexto em que cada um vive. 

São aspectos que podem ser medidos em ambientes clínicos, analisando caso a caso como tudo isso influencia a pessoa que se submete à hipnose. Mas o fato é que quanto mais motivado você estiver, maiores as chances de a hipnose funcionar. 

Vale ressaltar que todos nós somos diferentes e cada cenário testado pode interferir no sucesso de uma sessão. Existem pessoas que respondem melhor quando submetidas de forma individual, enquanto outras são mais hipnotizáveis quando estão em grupo. 

É preciso experimentar, testar e analisar para saber qual o melhor cenário para cada um de nós. 

Hipnose é segura? 

Essa pergunta é muito comum. Muitas pessoas sentem receio de se submeterem a sessões de hipnose. Também há um temor geral de quem foi diagnosticado com depressão, insônia, transtorno psiquiátrico ou se recuperando de uma cirurgia ao passar por procedimentos hipnóticos. 

Mas a resposta é simples. Quando feito com responsabilidade, trata-se de um processo extremamente seguro para a maioria das pessoas. Apenas com profissionais clinicamente treinados, evitando participar de hipnoses de palco, podemos contar com um método eficaz e sem riscos. 

Não custa lembrar que estamos falando de um estado de absorção natural, fazendo com que qualquer um com habilidades hipnóticas possa, até mesmo, entrar em estados auto-hipnóticos, sem a ajuda de terceiros. 

Não é raro encontrar pessoas definindo essa experiência como sendo muito forte ou emocional. Ainda assim, a compreensão geral desse estado como terapêutico e transformador é rotineira. 

E se você teve o diagnóstico de transtornos psiquiátricos, especialmente os dissociativos, psicóticos, esquizoafetivos ou neurológicos, como convulsões, é fundamental consultar seu médico de confiança antes de iniciar a hipnose, reforçando a seriedade dessa técnica psicológica. 

E quando você faz auto-hipnose? 

Nesses casos, o começo é seguindo uma série de instruções até entrar em estado concentrado de atenção, outro nome dado ao estado hipnótico. Para isso, é preciso fechar os olhos e direcionar seu foco às sugestões dadas pelo profissional. 

Estando calmo e focado, será guiado por declarações direcionadas ao objetivo da sessão. Após ouvir e absorver tudo, voltará do estado hipnótico, reservando um momento para se reajustar e refletindo sobre os sentimentos atuais. 

Depois das sessões, é importante realizar exercícios ensinados em um lugar aconchegante e calmo, onde você possa se sentar ou deitar, aquietando a mente e entrando em um estado de atenção focada para entrar na auto-hipnose. 

É possível escolher entre várias atividades como gerenciamento de ansiedade e dor, melhoria de sono e autoconfiança, combate a fobias e até técnicas de hipnose para atores. Tiago Garcia, autor do livro, é pioneiro na pesquisa sobre o tema. 

Exercícios auto-hipnóticos contam com roteiros que podem ser gravados com sua própria voz e duram de 10 a 15 minutos. Esse é um método muito mais seguro e efetivo do que o uso de medicamentos na busca por mais bem-estar. 

Também é um tipo de abordagem complementar que ajuda em muitas necessidades médicas e psicológicas. Afinal, a hipnose usa o poder da mente para alcançar resultados desejáveis. Com ela, é possível reduzir a percepção da dor, aliviar o estresse e a ansiedade e ajudar as pessoas a adormecerem de forma rápida e natural.

Esqueça o folclore, o sensacionalismo e as lendas. Tome a hipnose como aliada para dias melhores. 

Notas finais 

Por mais que o senso comum envolva a hipnose em uma série de mistérios, quando aplicada de forma consciente no cotidiano, suas técnicas são capazes de nos conduzir a mais bem-estar. Porque os exercícios hipnóticos exigem de nós nada menos do que conhecimento sobre como funciona a mente humana. Ficou claro como é possível sermos disciplinados para encarar sofrimentos do cotidiano com sabedoria, tranquilidade e maturidade. Assim, a vida fica muito mais leve, plena e sem as aflições que o cérebro é capaz de produzir. 

Dica do 12 min

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