Deus: um delírio - Resenha crítica - Richard Dawkins
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Deus: um delírio - resenha crítica

Deus: um delírio Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Ciência

Este microbook é uma resenha crítica da obra: The God delusion

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-85-3591-070-4

Editora: Companhia das Letras

Resenha crítica

Respeito merecido

Seus pensamentos e emoções surgem por meio de um intrincado sistema de interconexões dentro do cérebro. Aí dentro da sua cabeça, inúmeras entidades físicas agem o tempo todo para que você acompanhe atentamente este microbook, por exemplo. A ciência demorou anos de estudo para entender e dissecar o funcionamento da mente. 

É lá que estão todas as emoções, dores, sentimentos, tomada de atitudes, elaboração dos sentidos do corpo humano e tudo mais. Não há máquina mais complexa que essa. É o auge do processo evolutivo humano. 

E no sentido filosófico do naturalismo, o ateu acredita que não existe nada além do mundo natural e físico. Os adeptos do ateísmo recusam haver uma inteligência sobrenatural vagando por aí, invisível e por trás do universo observável. 

Tampouco creem em uma alma sobrevivendo ao corpo, ou milagres, com exceção de fenômenos naturais ainda desconhecidos. Se houver algo além do mundo natural como compreendido pela ciência de hoje, depois de muito estudo rigoroso haverá a compreensão, por meio da utilização de métodos rígidos de comprovação, e dispensando as explicações mágicas usadas pela religião. 

Um bom exemplo para entender essa dinâmica é o arco-íris. Crenças diversas falam dessa beleza natural que brinda nossos olhos depois da chuva como o símbolo da aliança entre um ente divino e seu povo. 

Mas para cientistas como Einstein e Stephen Hawkins, o fenômeno não é causado por um ser barbudo comandando o mundo aqui embaixo. E nem por isso o arco-íris deixa de ser maravilhoso. 

Essa busca pelas respostas a tudo que nos cerca merece todo o respeito de quem preza pelo conhecimento, o verdadeiro deus contra soluções mágicas e irreais de interpretar o mundo. 

Respeito não merecido

Richard Dawkins deixa claro que o título do livro não se refere ao Deus dos cientistas acima citados. Muita gente confunde a religião einsteiniana com as crenças apregoadas há milênios pelo mundo, gerando guerras, conflitos e desinformação. 

Para os grandes cientistas do mundo, falar em deus é se referir às leis da física, da química e de todo o campo do conhecimento. Por meio delas, podemos entender como as coisas funcionam ao nosso redor e também internamente. 

Não se pode falar o mesmo dos deuses sobrenaturais, a maioria como parte da família de Javé, o Deus do Antigo Testamento. Leitores religiosos podem até ficar ofendidos por acreditar que há um desrespeito por suas crenças. 

Curiosamente, essas pessoas não se sentem insultando aqueles que pregam o ateísmo quando estão falando de Deus em todos os cantos do mundo, em ambientes públicos ou privados. É a fragilidade da fé em deuses que faz tantas pessoas se sentirem profundamente ofendidas ao terem suas crenças confrontadas com fatos científicos. 

O respeito exigido pelos crentes por seus deuses mágicos não existe no momento em que precisam recorrer à ciência para a resolução de problemas práticos do dia a dia. 

A seleção natural como conscientizadora

O autor sempre se espanta quando se depara com teístas falando da seleção natural como a maneira com que Deus criou o mundo. Para eles, a evolução seria um modo fácil e divertido de obter um mundo cheio de vida. 

Mas se Deus existisse, ele não precisaria fazer nada disso. Não haveria a menor necessidade de criar um sistema tão complexo de sobrevivência entre todas as espécies, sendo que com um estalo mágico tudo estaria resolvido. 

A menos que ele fosse muito preguiçoso, a ponto de tentar fazer o menos possível para colocar em funcionamento um universo com vida. Na época do Iluminismo, a crença média traçava a caricatura de um Deus ainda mais perigoso, ocioso, desocupado, desempregado, supérfluo e inútil, sem muita coisa para fazer além de ficar observando e julgando atitudes corriqueiras dos seres humanos, sem interferir nas injustiças e crueldades mundanas.

Quando se fala no criador segundo o cristianismo, o autor gosta muito da afirmação do cineasta Woody Allen: “Se descobrirmos que Deus existe, não acho que ele seja mau. Mas a pior coisa que se pode dizer dele é que, basicamente, ele é um desperdício de potencial”.

Nosso senso moral tem origem darwiniana?

Já passamos da metade deste livro e agora falamos de darwinismo. A ideia de que a evolução é impulsionada pela seleção natural parece inadequada para explicar a bondade que possuímos. A princípio, parece entender questões éticas como a moralidade, decência, empatia e piedade olhando para a teoria de Charles Darwin.

Em compensação, a seleção natural está perfeitamente ligada ao entendimento de fatos como o medo e o desejo sexual, dois fatores que contribuem diretamente para nossa sobrevivência ou para a preservação de nossos genes. 

E como a ciência poderia explicar o sentimento de compaixão ao ver uma criança chorando, uma viúva desesperada ou mesmo uma mãe solitária e sofrida? 

Na verdade, a bondade não é incompatível com a teoria do gene egoísta, que descreve o processo evolutivo não por meio da espécie, mas de um organismo individual buscando se replicar para se manter vivo. A partir daí, surge o sentimento de empatia, de uma identificação com o outro. 

Segundo a lógica do darwinismo, a unidade na hierarquia da vida que sobrevive e passa pelo filtro da seleção natural tenderá a ser egoísta. As unidades sobreviventes serão as mais bem-sucedidas a seguir em frente, mesmo em detrimento dos rivais, funcionando quase em um sistema hierárquico. 

A teoria do gene egoísta explica profundamente o funcionamento da sociedade em sobreviver em detrimento de seus rivais em seu próprio nível de hierarquia. Buscar a continuidade da espécie é perfeitamente compreensível de maneira científica, sem apelos a crenças irracionais. 

Se Deus não existe, por que ser bom?

Aparentemente, essa pergunta soa infame. Mas é muito comum ser feita desta maneira por pessoas religiosas ao questionar o ateísmo do autor. Em resposta, ele sempre diz que se o único motivo para alguém ser bom é ser aprovado e ganhar uma recompensa de Deus, então a crença não é baseada em moralidade, apenas bajulação, puxação de saco e preocupação com um guarda o observando. 

Também pode ser qualificada como uma chantagem. Se o crente fizer tudo aquilo que Deus mandar, vai ganhar um lugar no céu depois de morto. Quem não seguir o ente divino com todo o fanatismo do mundo, vai para o inferno. Se parece familiar, não se espante. Boa parte dos religiosos atuam seguindo essa lógica.

Já disse Albert Einstein: “se as pessoas são boas só porque temem a punição, e esperam a recompensa, então nós somos mesmo uns pobres coitados”. Para encerrar o debate, é simples: se alguém acha que sem Deus cometeria roubos, estupros e assassinatos, essa pessoa é alguém imoral e merece distância. 

Quem continua sendo bom mesmo sem um deus ao redor destrói facilmente a alegação de que um Deus é necessário para a nossa bondade. A religião explora essa culpa para manter seus fiéis ali, presos na crença de serem obrigados a seguir uma cartilha sem escolhas. 

Como a moderação na fé alimenta o fanatismo 

Nos Estados Unidos e no Afeganistão, há religiosos jogando bombas em clínicas de aborto, uma crueldade difícil de descrever. Há países em que mulheres sequer podem dirigir por causa da religião.

O comportamento comum dos ateus, de respeitar a fé alheia, mesmo as piores possíveis, alimenta o fanatismo e comportamentos intolerantes. Para o autor, é necessária uma militância em prol do ateísmo, com divulgação científica suficiente para desconstruir todas as formas de proselitismo religioso. 

Esse ateísmo rígido e sem brechas para negociações leva mais conhecimento e qualidade de vida para todos os povos, em todos os cantos do mundo, sem as amarras que as religiões impõem à humanidade há tantos milênios. 

Notas finais 

Se suas crenças foram abaladas depois deste microbook, é um bom sinal para o autor. Da mesma forma que os religiosos buscam atrair novos fiéis para igrejas e templos, Richard Dawkins se esforça há anos para disseminar o ateísmo convicto e o conhecimento científico em todos os cantos do mundo.

Não é à toa que ele busca levar explicações simples de entender para o público comum sobre a teoria da evolução e outros temas mais complexos. O autor crê em um mundo sem deus, não só aproveitando todos os benefícios que a natureza e a ciência oferecem, mas também melhorando a relação entre os seres humanos. 

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Quem escreveu o livro?

Clinton Richard Dawkins FRS (Nairóbi, 26 de março de 1941) é um etólogo, biólogo evolutivo e escritor britânico. É fellow emérito do New College da Universidade de Oxford e foi Professor para a Compreensão Pública da Ciência, na mesma universidade, entre 1995 e 2008. Dawkins ganhou destaque com o seu livro O Gene Egoísta, de 1976, que popularizou a visão da evolução centrada nos genes e introduziu o termo meme. Em 1982, ele introduziu, na biologia evolutiva, a ideia de fenótipo estendido - segundo a qual, os efeitos fenotípicos de um gene não são necessariamente limitados ao corpo de um organismo, mas podem ampliar-se também ao meio ambiente, incluindo os corpos de outros organismos. Esse conceito é apresentado em seu livro O Fenótipo Estendido. Dawkins é ateu declarado, vice-presidente da Associação Humanista Britânica e defensor do movimento bright. Ele é bem conhecido por suas críticas ao criacionismo e ao design inteligente. Em seu l... (Leia mais)

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