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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Campeões da Raça: Os heróis negros da Copa de 1958
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN:
Editora: Editora Independente/Não Encontrada
A primeira Copa do Mundo conquistada pela Seleção Brasileira de futebol foi em 1958, na Suécia. A conquista consagrou um certo Pelé e nomes como Garrincha, Didi e Djalma Santos.
O título veio apenas 70 anos depois do fim da escravidão. Mas a sociedade da época estava longe do desejo de integração racial. O estigma existia e o futebol era apenas um retrato da sociedade.
Menos de uma década depois do Maracanaço, em 1950, foram os negros os protagonistas da glória.
A derrota para o Uruguai no Maracanã na final da Copa de 1950 foi traumática. O país inteiro tinha convicção da vitória em casa. O final dessa história você já sabe.
E jogadores negros foram usados como bodes expiatórios depois do trauma. O mais conhecido foi o goleiro Barbosa, que passou a vida inteira estigmatizado pela derrota. Dizia cumprir uma pena maior que a de criminosos hediondos, que no Brasil têm o máximo de 30 anos de reclusão.
Nomes como Zizinho e Ademir tiveram elogios rasgados da imprensa internacional. Por aqui, a coisa foi diferente. Embora o passar do tempo tenha lhes dado o devido reconhecimento na história, o julgamento da época foi cruel.
E antes dessa derrota, o grande nome do Brasil em Copas foi Leônidas da Silva, artilheiro da edição de 1938, disputada na Itália. Ainda assim, com menos reconhecimento que o devido. Não por coincidência, um negro, o diamante negro, como ficou conhecido.
Nos anos de 1950, a rivalidade entre jogadores dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro era muito forte, a ponto de interferir até mesmo na convocação para jogos da seleção brasileira. Depois da eliminação precoce na Copa do Mundo da Suíça, em 1954, o desejo por mudanças inflamava essa disputa.
Na preparação para a Copa de 58, uma forte corrente colocava os negros como indisciplinados dentro de campo. Achavam que eles não sabiam seguir orientações táticas e eram vistos com desconfiança. Mais uma vez, a discriminação. E não era de forma velada, já que muitos artigos em jornais da época diziam abertamente que não deveriam dar lugar para pessoas “de cor” representando o Brasil no futebol.
A preparação para a Copa de 58 começou, de fato, em 1956. Foi um ano intenso, com muitos jogos amistosos e o começo de uma grande safra.
Nomes como Gilmar, Djalma e Nilton Santos, Zózimo e Didi começaram a se entrosar na disputa do Sul-americano de 1957, quando o Brasil perdeu a final para a Argentina, mas pintava o esboço de um time com potencial para chegar longe.
Era preciso calma e a preparação devida, além de um grande nome para liderar a delegação.
Chegamos à metade deste microbook para falar da personalidade que dá nome ao estádio do Pacaembu. Paulo Machado de Carvalho, então dono da TV Record e da rádio Pan-americana, que anos depois mudaria o nome para Jovem Pan, foi o chefe da delegação da Seleção Brasileira nas Copas de 1958 e 1962.
Responsável por unir o grupo e contratar o contestado Vicente Feola para o cargo de treinador. Não havia separação entre paulistas e cariocas, negros e brancos. Era um só time.
Mesmo assim, ele tinha resistência por parte da imprensa. Muitos cronistas criticaram a convocação de alguns dos 31 jogadores na preparação inicial para a Copa, em especial os negros, sem justificativas técnicas.
Paulo Machado de Carvalho ainda levou um psicólogo para a Seleção Brasileira. A ideia, revolucionária na época, surgiu porque os jogadores brasileiros eram considerados desequilibrados emocionalmente para confrontos emocionais. Alguns os viam como amarelões.
Os craques no divã tiveram diagnósticos curiosos. Pelé era classificado como infantil e Garrincha como imaturo. Ainda assim, o Marechal da Vitória bancou a permanência dos dois craques no elenco.
A presença do psicólogo foi fundamental para manter o time mais tranquilo, assim como as avaliações de dentistas evitou problemas, como dores antes dos jogos importantes.
Para se ter uma ideia de como o amadorismo ainda vigorava naquela época, antes da estreia contra a Áustria, a seleção não tinha indicados nas camisas os números condizentes com a posição de cada jogador.
Nas primeiras partidas, os jogadores negros e mestiços não entraram em campo. Sem substituições na época, nomes como Pelé e Garrincha teriam que esperar outra oportunidade. As vitórias do Brasil surgiram, mas sem a firmeza de um time campeão. Ainda pairavam dúvidas de até onde o time poderia chegar.
Dentre tantas histórias curiosas e pitorescas da Copa de 1958, está a de que um grupo formado por Didi, Nilton Santos e Bellini se reuniu para que Pelé, Garrincha e outros jogadores estivessem em campo na terceira partida da primeira fase. Delicioso fato, pena que não é verdade.
Com a entrada dos gênios em campo a seleção brasileira atingiu o patamar da excelência até vencer a Suécia por 5 a 2 na grande decisão. Detalhe: na casa deles.
Foi a prova de que a cor não deve ser critério para a escalação. Os dois maiores jogadores eram negros, contrariando as opiniões da crônica de então.
Um gol contra Gales, três contra a favorita França na semifinal e dois contra a Suécia na decisão da Copa. Pelé conquistava a coroa de rei do futebol da forma mais avassaladora possível, aos 17 anos de idade. Um jovem craque começava a trajetória para se tornar o maior jogador de futebol em todos os tempos.
Negro, na Europa, dando um show contra os donos da casa, na partida final. A imprensa brasileira teve que se render ao jovem classificado cmo "infantil" por um psicólogo. E o mundo via o começo da trajetória do maior de todos os tempos.
Bater os donos da casa por goleada, depois de tanta pressão pelos que desacreditavam dos negros, da geração pós-Maracanazo, da suposta indisciplina de uma raça, da rivalidade entre os estados mais ricos do Brasil.
A vitória na Copa de 1958 marca uma virada no futebol brasileiro. É o início da trajetória vitoriosa da seleção com mais títulos mundiais que já se viu. Um novo marco na forma de enxergar o negro no futebol. Quantos craques não brancos conhecemos desde então?
Se hoje a cor da pele não é critério de avaliação antes da entrada dos jogadores em campo, devemos à revolução da seleção brasileira de 58.
O futebol é uma grande metáfora da sociedade. O que acontece dentro das quatro linhas é reflexo da vida aqui fora. Entender o quanto o racismo no Brasil estigmatizou uma geração de jogadores, depois justiçada no primeiro título em Copa do Mundo pela seleção, é um resgate histórico de fundamental importância do jornalista Fábio Mendes.
A questão racial é tema antigo, ainda presente na formação social brasileira. Depois de conhecer os detalhes do racismo no futebol do século passado, ouça o microbook Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro, e aprenda como ajudar a combater o racismo estrutural vigente no Brasil.
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Jornalista, o autor tem passagens por veículos como Folha de São Paulo, R7, Yahoo! e Band. Também trabalhou como assessor de imprensa em órgãos públi... (Leia mais)
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