Resistir na era das incertezas - Resenha crítica - Antônio Campos
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Resistir na era das incertezas - resenha crítica

Resistir na era das incertezas Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Sociedade & Política

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Resistir na era das incertezas

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-65-5544-221-2

Editora: Gente

Resenha crítica

A felicidade e o propósito de Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa

Estamos na pós-utopia. É a era das ilusões. Há pouca margem para falar do propósito de vida. Estamos diante de uma crise na identidade humana. Hoje, mascaramos assuntos difíceis, como a morte, supervalorizando o materialismo e a forma física. É como se estivéssemos nos livrando da consciência social.

O filósofo francês Alexis de Tocqueville criticou nosso individualismo exacerbado. Para ele, as pessoas giram incessantemente em torno de si para que consigam prazeres vulgares. Vivemos em uma era na qual se banaliza tudo. Só a vida privada escapou da onda de apatia. 

Antônio acredita que é preciso conviver com a dor e compreender o sentido da vida. Nosso propósito nem sempre é a felicidade. O autor dá razão ao poeta e compositor Vinicius de Moraes, quando ele escreve que viver é melhor do que ser feliz. Também dá ao poeta Fernando Pessoa, que rejeita ideais otimistas e escreve: “sou quem falhei ser”.

O poder das cinzas na arte de Vik Muniz

As cinzas têm um simbolismo especial. Elas têm um lado triste, mostrando as ruínas de algo que pode ter sido grande. Mas também podem ser um sinal de esperança. É o caso da Fênix, que volta das cinzas mais bela do que já foi. Elas também simbolizam o fim e o nada.

O artista plástico brasileiro Vik Muniz soube aproveitar esse símbolo para criar algo novo. Ele usou as cinzas do incêndio no Museu Nacional como matéria-prima para uma série de obras inspiradas nas peças que foram consumidas pelo fogo. Ele criou algo do nada. 

Para muita gente, é uma ousadia inimaginável. O artista extraiu uma pluralidade de formas e fluxos do nada. O minimalismo é uma marca do talento de fazer com que uma coisa se torne outra. É o que desperta a reflexão de traduzir no mundo uma realidade interior incompreensível e incomunicável.

O legado de Camus

O filósofo franco-argelino Albert Camus, em sua corrente de pensamento chamada de “absurdismo”, questionou assuntos sobre os quais debatemos até hoje. Ele escreveu sobre a relevância de buscar um sentido para vida e o valor de agir como indivíduo. Vivemos em um mundo marcado por fanatismo, intolerância e irracionalidade.

Seu legado é valioso até hoje. Camus é um dos escritores mais importantes do século XX. Em “O Estrangeiro”, o personagem lida com um sentimento existencialista que também foi marcante no próprio filósofo. Ele lida com solidão, dúvidas e conflitos quase surrealistas.

Lembrar do legado do autor nos ajuda a pensar sobre nossa própria aventura existencial. Ele fala sobre a glória de amar e a dor de viver. Sua lição mais importante talvez seja a de que o mundo é absurdo. Acreditar que há um sentido pronto e satisfatório na vida é o que nos faz entrar em conflito com ela.

Jorge, amado do Brasil

O brasileiro Jorge Amado teve uma vida produtiva. Foi um escritor de sucesso, com várias obras adaptadas para o cinema e a TV. Também foi um representante da literatura modernista. Era uma pessoa de hábitos simples. Sua casa em Salvador era aberta para receber todo tipo de pessoa, independentemente da classe social.

Uma das lições que o escritor nos ensina é a luta contra a intolerância. Ele acreditava na liberdade. No livro “Tenda dos milagres”, levanta o debate contra a intolerância e o racismo. Quando se tornou deputado federal, trouxe à tona um projeto que incentivava a liberdade de culto. 

O candomblé também é um tema presente em sua obra, desde a juventude. Ele tinha grande preocupação em falar da cultura afro-brasileira. Essa religiosidade já sofreu com a intolerância. O preconceito é um grande desafio atual e vem de longe. A literatura de Jorge Amado contribuiu para formar o país. Sua obra é pulsante.

Eva Schloss, a luta para vencer a intolerância

Sobram conflitos na nossa sociedade. A intolerância é sua principal causa. Seja racial, ideológica ou religiosa. Embora esses problemas ainda sejam atuais, eles não são novos. A memorista austríaca Eva Schloss mostra isso. Ela é uma sobrevivente do Holocausto. Viveu as várias torturas e humilhações no campo de concentração de Auschwitz.

Ela é meia-irmã de Anne Frank. Chegou a ver seus diários antes de sua publicação. Eva Schloss defende que a Europa não aprendeu a lição de verdade. Por isso, é importante se lembrar do Holocausto. Ele serve como recado para que os ódios não se transformem em outras tragédias. 

O mundo tem crescentes tensões religiosas, étnicas e culturais. Eva é uma lembrança viva de que precisamos lembrar do nosso passado para que ele não se repita. Ela também é um exemplo para todos que pensam em desistir. Por pior que fossem seus dias em Auschwitz, ela se manteve de pé.

A paz de Portinari ao mundo

Em 1956, o artista plástico brasileiro Candido Portinari entregou os painéis “Guerra e Paz”, feitos por encomenda do governo brasileiro para presentear a sede da ONU, em Nova York. São dois murais com pinturas que mostram o sofrimento provocado pela violência. É um presente à consciência do mundo.

Os desenhos contrastam o horror da guerra e a esperança da paz. De um lado, há o desespero das pessoas. No outro, a felicidade e o afeto. Hoje, as nações reforçam o pedido pacífico de Portinari. A obra ainda é atual. A luta pelo seu ideal é urgente. As guerras recentes reforçam isso.

Portinari acreditava na organização para lutar pela paz e investir em uma frente antiguerra. Todas as pessoas deveriam agir pelo progresso e pela fraternidade entre as nações. A mensagem não envelheceu. Essa luta deve ser constante. Só assim poderemos chegar à época idealizada pelo artista.

Um olhar contemporâneo para Mario Vargas Llosa

Já passamos da metade do microbook e o autor conta como a literatura é um jogo de ideias e valores. Ela nos põe em nocaute diante de grandes autores. É o caso de Mario Vargas Llosa. Além de um romancista premiado, o escritor peruano também é um competente leitor do Brasil.

Sua obra nos ajuda a entender o que é ser um latino-americano perdido na América Latina e no mundo. É um exercício de autoconhecimento e prazer. O escritor é um observador perspicaz da cultura de massa. Ele rejeita a banalização da cultura.

O escritor peruano condena a fragilização da arte contemporânea e sua relação perniciosa com o dinheiro. Também é um crítico de vários regimes políticos e é uma voz intransigente na defesa da liberdade. Mario Vargas Llosa nos lembra da importância das coisas fundamentais na crise contemporânea de valores. 

A arte de pintar quadros de Christina Oiticica

A artista plástica brasileira Christina Oiticica já expôs em inúmeros países. Ela tem um método criativo de “plantar quadros” na terra. Para montar uma de suas exposições, por exemplo, ela enterrou seus quadros na floresta amazônica, da região do Acre, e os retirou depois de um ano.

Os quadros renascem com o contato com a natureza. Ela explora os elementos naturais em várias obras. Isso não aparece só nos materiais. Sua obra é cheia de marcas invisíveis. Ela abriu mão das paredes dos ateliês e exerce a criação das telas ao ar livre. Prefere os bosques e os leitos dos rios. A natureza é coautora.

É um convite também para nós, ainda que não sejamos artistas. Cada quadro plantado é um presente do solo e da marca das quatro estações. Christina Oiticica faz uma carta da terra para lembrar de que a natureza é nossa morada. É um lugar sagrado. 

O mar de Maria Bethânia

Às vezes, a literatura se esquece do valor do mar. A arte é impecável ao relatar o Grande Sertão, como Guimarães Rosa fez. No entanto, os autores se esquecem de que somos rodeados de água. O lado bom é que isso não acontece na música. A cantora Maria Bethânia, no disco “Oásis de Bethânia”, faz uma carta de amor ao mar.

A cantora baiana é declaradamente apaixonada pelo mar. Ela, com muitos anos de carreira, vem se tornando uma artista ainda mais apurada. O oceano a faz se sentir em casa. É a arte a serviço da beleza.

Falar sobre o oceano é lembrar de que temos o privilégio de viver em um país com lindas praias e mares reluzentes. A cantora, com todo seu talento, mostra que devemos manter uma relação de leveza, precisão e firmeza com o mar. As coisas são mais felizes perto da água.

O Gênesis de Sebastião Salgado

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado voltou às origens. No ensaio “Gênesis”, retratou comunidades que foram pouco influenciadas pela sociedade de consumo. Para produzir as fotos da natureza, ele fez mais de 30 viagens. Andou de navio, canoa e até de balões. Foi para condições remotas. Às vezes, perigosas.

Ele fotografou a Antártida, a selva amazônica, o deserto do Saara, os desfiladeiros do Grand Canyon, as geleiras do Alasca, os elefantes africanos e vários outros lugares. Ele precisou trabalhar em temperaturas de mais de 40º abaixo de zero. O trabalho virou uma exposição no Museu de História Natural, em Londres.

O ensaio é uma lembrança de que o planeta que habitamos ainda é desconhecido. Há muitas culturas e várias não foram tocadas pelo capitalismo. Precisamos preservar o mundo e reacender a fé na humanidade.

O amor de Carlos Drummond de Andrade

O amor é a revolução a dois. Se tive-lo, não morrerá de sede no oceano da vida. Marco Antônio e Cleópatra o imortalizaram na Antiguidade, enquanto Tristão e Isolda criaram uma lenda na Idade Média. O amor de Romeu e Julieta durou até a morte. Carlos Drummond de Andrade dizia que o amor é a palavra essencial.

Para o poeta, amar nos leva a descobrir o sentido no absurdo que é a existência. O poeta argentino Horacio Ferrer refez a frase de Descartes, dizendo que “amo, logo existo”. Toda a vida do homem na Terra se resume a procurar o amor. Não importa se ele finge buscar outra coisa.

As guerras, a violência, a intolerância e a fome são formas diferentes de desamor no mundo. Todas as grandes figuras da história estiveram vinculadas ao amor. Jesus Cristo, Buda, Gandhi, Martin Luther King e Madre Tereza de Calcutá, por exemplo.

Schopenhauer e o mundo como vontade e representação

Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, a vontade é a essência do homem. Ela não segue as leis da razão. O mundo é a vontade e, por isso, também é o sofrimento. Agimos irracionalmente. A solução seria aniquilá-la. Isso faz com que os ideais de Schopenhauer se aproximem dos de Buda.

A obra do filósofo alemão é uma das mais importantes da história. Influenciou Freud, Nietzsche, Jung, Tolstói e vários outros intelectuais. A lenda diz que Machado de Assis escreveu Memórias póstumas de Brás Cubas depois de ler um livro de Schopenhauer.

Para o filósofo, a vontade é, principalmente, de viver. Ela triunfa sobre a morte por causa do instinto humano de reprodução. Por isso, a proliferação da espécie é a tendência natural mais forte de todas. Somos permeados por uma força interior que grita por vida.

Notas finais

Apesar do título, “Resistir na era das incertezas” não é um livro de autoajuda. Antônio Campos reuniu textos sobre arte, cultura e filosofia que escreveu na forma de coluna, principalmente para a Folha de Pernambuco. No entanto, ele traz reflexões sobre felicidade, sentido da vida, amor e interação com a natureza.

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Quem escreveu o livro?

Antônio Campos é advogado, acadêmico e presidente da Fundação Joaquim Nabuco. É também... (Leia mais)

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