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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Men explain things to me
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-3161-416-3
Editora: Cultrix
Um belo dia, Rebecca Solnit foi convidada para ir a uma festa com Sallie, sua amiga. O local era numa encosta arborizada, logo acima de Aspen. As duas eram as pessoas mais novas do ambiente. Todo o restante parecia composto de gente chata. As duas amigas, já quarentonas, eram as mocinhas da festa.
A casa onde a festa foi realizada era um chalé a 2.700 metros de altitude, com muitos luxos. Em determinado momento, as amigas decidiram ir embora. Mas o dono da casa insistiu para que ficassem um pouco mais. Era imponente e rico. Depois dos outros convidados irem embora, o anfitrião as convidou para conversar em volta de uma mesa.
No diálogo, perguntou a Rebecca sobre um boato de que ela já tinha escrito um ou dois livros. Ela respondeu ter escrito vários, na verdade. E o homem se interessou, com a empáfia de um adulto ensinando como o mundo funciona para uma criança de 7 anos.
O insight que deu origem ao ensaio de mesmo nome deste livro veio quando o homem indicou a Rebecca ler um livro diferente, muito bem escrito, que mudaria a vida dela. É, o livro indicado foi escrito por Rebecca. Ele custou a acreditar. Por que será, né?
Rebecca conta dados alarmantes sobre os Estados Unidos. Por mais que os números sejam relativos às terras estadunidenses, é bom lembrar que o Brasil também tem uma vergonha semelhante a trabalhar e ser superada.
Na terra do tio Sam, ocorre um estupro a cada seis minutos e doze segundos. Segundo os dados indicados pela autora, uma a cada cinco mulheres que moram nos Estados Unidos será estuprada em algum momento da vida. Quando uma mulher indiana foi violentamente estuprada dentro de um ônibus, na Índia, em dezembro de 2012, a sociedade local tratou o crime como um incidente excepcional, não como sintoma de um machismo estrutural que contamina o mundo.
Em outro caso, no Texas, houve um episódio em que 20 homens estupraram uma menina de 11 anos. Outro caso de estupro coletivo ficou famoso no outono de 2012, quando quatro homens estupraram uma garota de 15 anos em Nova Orleans. No mesmo dia, quatro homens estupraram uma menina de 14 anos em Chicago.
O padrão de violência contra as mulheres é amplo, profundo, terrível e ignorado com frequência. E essa percepção de inferioridade feminina começa com os homens interrompendo as mulheres, como se elas fossem suas servas, sem deixá-las falar com propriedade dos assuntos que dominam.
Se não há o devido respeito aos corpos, por que haveria respeito à palavra feminina? A guerra por igualdade entre os sexos é longa.
Se você já se deparou com homens indignados com as novas reivindicações das mulheres, não se espante. Muitos não querem se adaptar aos novos tempos, se sentem chocados com dois mundos entrando em choque.
Se, no passado, a palavra da mulher não valia nada, hoje, cada vez, mais elas querem fazer sua voz chegar mais longe.
O mesmo ocorre quando há debates sobre os direitos civis para os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. O casamento de dois homens ou de duas mulheres não impacta diretamente nenhum casamento específico de um homem com uma mulher.
Mesmo assim, os conservadores sentem-se tremendamente ameaçados por essa união, numa preocupação que não existe quando falamos de casamentos tradicionais com violências, abusos, estupros e chantagens psicológicas. Nesse novo mundo que queremos viver, as questões referentes a mais igualdade de oportunidades e direitos não é prioridade para quem pensa no mundo de maneira arcaica.
Façamos um exercício. Elimine sua mãe, depois suas avós, depois suas quatro bisavós. É isso mesmo, estamos voltando gerações. Vamos continuar, retirando do caminho as mulheres que construíram tudo que foi feito até aqui. No que isso vai dar?
Primeiro, centenas, depois milhares de pessoas vão desaparecer. Agora que as mães sumiram, os pais também não estão mais presentes no mundo. Nem mesmo as mães dessas mães. Neste exercício imaginativo, as vidas vão sumindo uma atrás da outra. É como se elas não tivessem sido vividas. Até chegar a uma floresta como única forma de vida.
Esse exercício, meio maluco é verdade, é necessário quando desejamos construir uma narrativa linear para entender tanto a nossa árvore genealógica quanto a influência de mulheres de fibra. É necessário ir voltando, como se eliminássemos tudo o que aconteceu até o começo de todas as grandes conquistas da humanidade. Sem as mulheres ao redor nas gerações antes da nossa, o que seria do mundo?
Todos são influenciados por quem vem desde essa árvore até os dias de hoje. Fazendo esse exercício de voltar ao passado emsua área de atuação, quantas mulheres não foram excluídas no meio do caminho?
Quantas mulheres não foram silenciadas pela falta de oportunidades de estudar ou demonstrar seu talento? Quanta gente poderia ter o talento aflorado se mais mulheres tivessem a oportunidade de falar, de soltar a voz, como cobramos atualmente?
O tempo todo as feministas reescrevem a história. Não adianta os conservadores gritarem e se esgoelarem, dia e noite são as feministas provando que o lugar de mulher é onde ela quiser.
Imagine a disputa de uma Copa do Mundo das Ideias. Nos últimos anos, as duas equipes lutavam furiosamente pela bola, mas a equipe feminista, toda composta de estrelas, tentou por muitos anos chutar a bola entre as traves. Vamos chamar o gol de Problemas Sociais Generalizados.
O time adversário das feministas, em compensação, tinha pessoas da mídia dominante e se esforçava para chutar a bola na rede de sempre, o gol dos Eventos Isolados, para tentar provar que os problemas de machismo não são estruturais. Esse time sempre joga sujo, dá carrinhos pesados, não tem vergonha da própria violência em campo.
Por muitas décadas de partida, o time não feminista tentava evitar que a bola entrasse na rede. Mas o goleiro do time dominante acusava as adversárias de estarem desequilibradas sempre que havia reclamações.
O jogo está virando, aos poucos. Atualmente, o feminismo vem fazendo gols. Mas falta ainda algum tempo de partida. Não podemos descuidar da defesa nunca.
Muitas vezes, os direitos das mulheres e o feminismo são histórias narradas como se uma pessoa já tivesse chegado no auge da sua trajetória ou não conseguisse avançar mais.
Na virada do milênio, era comum ouvir que o feminismo estava fracassado ou havia se esgotado. Mas o feminismo é um esforço para mudar essa cultura mais que antiga, enraizada dentro de outras culturas, segundo a qual mulheres são inferiores e podem, sim, ser interrompidas.
Interrompidas, silenciadas, violentadas e subjugadas. As mudanças das últimas quatro ou cinco décadas são incríveis. E o fato de nem tudo estar no lugar certo indica que a estrada a ser percorrida para as conquistas sonhadas pelas mulheres ainda está longe do fim. Muito se avançou ao longo dos séculos, mas ainda faltam 999 quilômetros pela frente. Leva tempo, o caminho é longo.
Quantas vezes você se deparou com homens interrompendo a fala de mulheres, para explicar o óbvio ou mesmo repetir o que acabou de ser dito? Você, homem, já parou para pensar que nem sempre está ouvindo as falas das mulheres como deveria? A reflexão sobre como o machismo leva homens de todas as idades a cercear o direito de mulheres se expressarem com liberdade é mais que urgente no mundo contemporâneo.
Numa sociedade tão machista quanto a nossa, mulheres de sucesso inspiram a luta contra o sexismo. Por isso, ouvir o microbook Histórias de ninar para garotas rebeldes é fundamental neste aprendizado.
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É uma escritora nascida nos Estados Unidos e sempre aborda temas como política,... (Leia mais)
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