Indomável - Resenha crítica - Glennon Doyle
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Indomável - resenha crítica

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Biografias & Memórias

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Untamed

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-65-5511-052-4

Editora: HarperCollins

Resenha crítica

Faíscas

Quatro anos antes de começar a escrever este livro, Glennon Doyle era casada com o pai de seus três filhos, quando se apaixonou por outra mulher. Depois de algum tempo, viu sua vida se transformar de vez quando sua companheira contou aos pais da autora sobre o plano de pedi-la em casamento. 

Foi um dia de muita apreensão e libertação, quando se deu conta da coragem de seguir a vida adiante de outra forma, sem medo de julgamentos. Abby Wambach, com quem a escritora é casada desde 2017, é uma ex-jogadora de futebol que disse aos pais de Glennon sentir um amor incondicional pela filha e pelos netos deles.

Na manhã daquela tocante declaração, eles responderam que nunca tinham visto sua filha com tamanho amor desde os dez anos de idade. Havia uma faísca em seus olhos, que havia se apagado nos primeiros anos de vida, reacendida após três décadas com aquele amor incomparável, mesmo para quem havia passado tanto tempo casada e tinha três filhos. 

Esse amor mudou a postura de Glennon, deixando-a majestosa e até mesmo assustada por tanta confiança. Era como se tivesse se reencontrado consigo mesma. E, a partir daí, começou a fazer pesquisas sobre o comportamento humano, descobrindo que é por volta dos dez anos de idade que aprendemos a ser bons meninos e meninas, abrindo mão de ser quem somos para nos tornarmos quem o mundo espera que sejamos. 

No décimo ano de vida, começa uma domesticação interna devido às pressões sociais. O mundo nos faz sentar num canto para nos comportarmos educadamente. Daí em diante, ficamos enjaulados e tentamos caber nas caixinhas de adequação. Só quando recuperamos essa faísca dos dez anos a vida volta a fluir com mais naturalidade e felicidade. 

Maçãs

Uma lembrança marcante da autora fez com que ela voltasse aos dez anos de idade. Ela estava na salinha nos fundos da Igreja Católica da Natividade, com outras 20 crianças, na aula de catecismo. A professora é mãe de um dos colegas de classe. 

Segundo seus ensinamentos, Adão era a criação preferida de Deus, com uma vida perfeita, mas cuja solidão e estresse culminou na criação de Eva a partir de sua costela. Então, ele tinha uma companheira e ajudante. 

Desde cedo, Glennon se questionava porque a primeira mulher não nasceu como todos nós, mas surgiu de um órgão do primeiro homem. Sua professora seguiu dizendo que Eva pegou a maçã pendurada na árvore do conhecimento do bem e do mal e a ofereceu ao companheiro, desobedecendo a Deus, que indicou a fruta como a única coisa no jardim do Éden que não poderia ser mexida. 

Ainda segundo os ensinamentos do catecismo, todo o sofrimento humano é decorrente da desobediência de Adão, convencido por Eva. Os dois foram banidos do paraíso porque cometeram o pecado original. E de acordo com a doutrina ensinada na infância, pecamos ao querer saber mais do que deveríamos e ao desejar mais, em vez de agradecer pelo que já temos. 

Ao rememorar esse episódio, suas pesquisas fizeram mais sentido ao perceber o quanto nos enjaulamos para caber na sociedade tão cedo. E também fez ainda mais sentido perceber o quanto essa jaula é mais danosa às mulheres, tidas como o motivo de todo o pecado original. 

Enjaulada

Quando seu então marido admitiu que estava saindo com outras mulheres, os dois passaram a frequentar uma terapeuta de casais. Dessa forma, os problemas que aconteciam durante a semana eram compartilhados com uma profissional durante as noites de terça-feira. 

Naquela época, seus amigos perguntavam com frequência sobre as qualidades da terapeuta. Como resposta, Glennon costumava elogiá-la porque ainda mantinha seu casamento de pé, até que um dia ela pediu para ir a uma sessão a sós. 

Cansada e aflita, demorou algum tempo para sentir confiança e confessar que estava apaixonada por outra mulher. A reação da terapeuta foi de perplexidade, seguida da tentativa de convencê-la de que essa paixão era uma distração perigosa de sua mente, tentando fazê-la esquecer os problemas reais de um matrimônio em risco. 

Somente depois de muita conversa, se sentiu à vontade para sair da jaula e confessar que já não conseguia mais dormir com o marido. E isso fazia anos. Ela até perdoava s traições, mas as relações sexuais com o cônjuge haviam se tornado insuportáveis, notando essa transformação apenas ao conhecer a mulher que a encantou. 

Rememorando aqueles dias, Glennon conseguia sentir suas lágrimas escorrendo e percebeu como implorava por piedade e por respeito. Afinal, embarcou num relacionamento com outra mulher depois de ter uma família construída ao longo dos anos. E sair da jaula que a aprisionava foi uma transformação irreversível. 

As quatro chaves 

Agora que passamos da metade deste microbook, chegou a hora de entender quais são as quatro chaves expostas pela autora para se desprender das jaulas que nos aprisionam e partir rumo à felicidade de forma indomável. 

A chave número 1 é sentir tudo ao redor. Glennon conta que além dos problemas no casamento, também teve enfrentou o alcoolismo. Numa das reuniões na clínica de recuperação, ela se sentiu cheia de vergonha por se expor, mas perdeu a timidez ao sentir que cada história contada trazia a sensação de acolhimento. Por isso, sentir com profundidade tudo que nos cerca é fundamental para entender melhor o cenário vivido. 

E é a partir daí que vem a chave número 2. Pare e descubra. É preciso encarar o mundo, mesmo nos momentos de medo, como quando ela admitia ter sido traída por um péssimo marido, mas ótimo pai. Só quando descobriu que se sentia no fundo do poço, perdendo contato com seus princípios, pôde se abrir a uma nova vida. 

Ter a ousadia de imaginar é a chave número 3. Apesar de todas as evidências contrárias apresentadas por nossos problemas, é possível ser feliz. Basta pôr isso em sua cabeça, mesmo que pareça uma grande viagem, porque é daí que se começa a colocar em prática tudo o que você quer. Primeiro imagine para depois agir. 

Na chave número 4, construa uma nova vida e queime mentalmente os dias de penúria. Nosso interior se transforma diante de bons sentimentos. Quando nossa imaginação se vê diante da possibilidade de realizações, ela constrói uma nova vida e queima os dias difíceis, como lembranças superadas. Tudo de ruim vira pó dentro de sua imaginação. 

Vire a chave e rompa as jaulas que te aprisionam. Dê o primeiro passo agora.

Fantasmas

Durante seus vinte e poucos anos, Glennon acreditava na existência de uma mulher perfeita em algum lugar do mundo. Ela acordava linda, sem inchaço, a pele maravilhosa, o cabelo penteado, era muito corajosa e apaixonada, calma e confiante, esbanjando vida fácil e sem problemas reais. 

Diante de suas dificuldades no dia a dia de esposa, mãe e profissional, a autora se sentia assombrada pelo fantasma da mulher perfeita. Tentava, a todo custo, jamais errar. Foi só depois dos 30 anos que mandou esse fantasma de perfeição para bem longe, quando decidiu celebrar seus erros e sua humanidade. 

A partir daí, se identificava como um grande ser humano. Do tipo que erra e acerta, às vezes é bom, em outras ruim, com dias melhores e dias piores. Cada um de nós é uma verdadeira bagunça interna e precisamos nos orgulhar disso. Afinal, ninguém é uma máquina. Estamos nos transformando permanentemente e negar esse fato é uma ilusão, é perda de tempo. 

Você é a pessoa ideal para sua vida, a única capaz de enfrentar os problemas que lhe afligem, utilizando suas qualidades individuais e superando as dificuldades que precisam ser melhoradas. O fantasma da perfeição precisa ser exorcizado o quanto antes para seguir em frente, encarando a vida do pior ao melhor, todos os dias. 

Humana

Glennon finaliza sua obra citando um texto sagrado. Nele, um grupo de pessoas está desesperado na busca para entender e definir Deus. Quando elas perguntam o que Ele é, o Criador é curto e misterioso na resposta, dizendo apenas “Eu sou”. 

O questionamento continua, com as pessoas perguntando se Deus é feliz, triste, cristão, jovem, velho, profundo, sombrio, certo, errado, bem como tantos outros adjetivos. E a resposta nunca muda. Eu sou, não cansa de repetir a voz dos céus. 

A reflexão gerada a partir deste texto é que, diferentemente das jaulas que nos aprisionam ainda na infância, lá por volta dos 10 anos de idade, toda divindade é humana, com as complexidades que temos dentro de nós. Por isso, é fundamental respeitarmos nossos defeitos, tropeços, erros e inseguranças vividos cedo ou tarde. Afinal, ninguém é perfeito. 

Quando Glennon se enxergou como humana, com todas as implicações dessa constatação e vivência, passou a se sentir mais leve, menos cobrada. E assim, indomável ficou sua vontade de construir um futuro de felicidade plena.  

Notas finais 

Recomeçar nem sempre é uma tarefa fácil. Quando se trata de alguém que se apaixona por outra pessoa do mesmo sexo, tendo uma família estruturada dentro de padrões sociais parecidos com uma jaula, parece ainda pior. Mas a lição de Glennon Doyle é de que devemos nos concentrar na libertação de tantas prisões, incentivadas desde os primeiros anos de vida e ainda mais pesadas para as mulheres. Sua história é de superação de traumas como a traição do pai dos seus filhos e do alcoolismo, bem como de uma redescoberta interior que transformou sua vida para melhor. Ser indomável é muito mais do que buscar a felicidade: é aceitar as próprias imperfeições e se entender como um ser humano passível de falhas e decepções. 

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