Filosofia: E Nós Com Isso? - Resenha crítica - Mario Sergio Cortella
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Filosofia: E Nós Com Isso? - resenha crítica

Filosofia: E Nós Com Isso? Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
História & Filosofia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: 

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 8532658504

Editora: Vozes Nobilis

Resenha crítica

O que é isso?

A Filosofia é, antes de mais nada, uma forma de pensamento – metódico, organizado e sistemático, com precisão nas questões engendradas por aquilo que se faz – que visa indagar os porquês. Vale lembrar que “por que” não deve ser confundido com “como”.

Quem indaga pelo "como" são as ciências. A Filosofia se concentra em pensar a respeito das questões existenciais, conduzindo-nos a refletir acerca da condição humana e, frequentemente, de assuntos que nos causam angústia.

Para que serve isso?

Ser capaz de estimular as pessoas a pensarem é algo inerente à reflexão filosófica. Nesse sentido, a Filosofia abre caminho a toda uma série de questionamentos que podem tornar a nossa existência mais consciente, clara, nítida e, consequentemente, menos alienante.

Enquanto disciplina, a Filosofia não é capaz de desalienar os indivíduos. Afinal, não há nada que deva ser considerado, por si só, alienador ou libertador. Tudo dependerá do contexto e do conteúdo. As indagações, os questionamentos, as dúvidas são as forças motrizes do pensamento.

O nosso lugar na história, na vida, no universo tem sido uma preocupação constante da Filosofia, resultando de uma absoluta necessidade de compreender qual é, de fato, a razão de estarmos aqui.

A diferença entre Filosofia e as demais áreas que se ocupam da relação dos homens com o mundo deve ser encontrada no modo de abordar certas questões. Conforme mencionado, a Filosofia deseja interpretar e questionar a realidade, não se conformando com o óbvio.

Pensar e viver livremente, de forma a poder existir de modo consciente e decente em meio aos outros é, para o autor, uma das mais óbvias utilidades práticas da Filosofia.

Isso não é coisa de velho?

Cortella afirma que todas as coisas originadas no passado devem ser olhadas sob duas perspectivas. O termo “clássico” serve para designar aquilo que precisa ser protegido, mantido e levado adiante por ser tradicional.

Porém, muito de nossa história deve ser deixada de lado, uma vez que já está superada, ultrapassada. Isso é o que se denomina “arcaico”.

Embora nem tudo que veio do passado deve ser trazido para o tempo presente, devido exatamente ao fato de ser arcaico, ainda há o que se considerar em muitos conhecimentos antigos, sobretudo  relativos à história da Religião, da Filosofia, da Arte, da Literatura, que devem ser trazidos para os dias atuais, por serem tradicionais.

É por esse motivo que as produções na Filosofia, nas artes plásticas, na música e na escrita, isto é, tudo o que estiver de alguma forma relacionado à classe superior é chamado de clássico.

Todavia, com o passar do tempo no Ocidente, o conceito de “clássico” passou a ser usado para designar tudo aquilo que tenha maior perenidade. Dessa forma, à medida que os clássicos têm mais condições de sobrevivência ao longo das eras, estão ligados à noção das coisas que foram introduzidas entre as melhores, devendo ser, continuamente, reproduzidas e retomadas.

O clássico permanece no tempo ao atualizar as nossas perplexidades, reflexões, angústias e dúvidas. É tudo o que movimenta as nossas emoções, produzindo encantamento e levando-nos em direção ao futuro.

E isso com o meu Trabalho?

Cortella alerta que há diferença entre trabalho e emprego, uma distinção que transcende o registro nas carteiras de trabalho. Desde um ponto de vista mais técnico, o trabalho é a ocupação, aquilo que um indivíduo faz.

Emprego, por sua vez, é um tipo de trabalho mais específico, subordinado a uma determinada corporação, a uma hierarquia, a uma estrutura. Trata-se de uma fonte de renda, enquanto o trabalho é uma fonte de vida. Não obstante, esses conceitos não são excludentes.

Muitas pessoas encontram em seus empregos o trabalho dos sonhos. Existe, também, quem não encontra e tende a se lamentar por isso ou apenas cumpre suas rotinas em troca da remuneração mensal.

A identidade com o seu trabalho constitui a sua obra, ou seja, o que coincide com os seus anseios e projetos na vida e, assim, não pode ser resumida a uma mera questão financeira.

E isso com Liderança?

A habilidade de liderar implica na capacidade de garantir que as potencialidades das pessoas sejam manifestadas na prática. Não é por outro motivo que os melhores médicos foram formados no pronto-socorro – ambiente no qual se vivencia intensa e rapidamente as circunstâncias mais desafiadoras.

Os líderes são aqueles que mobilizam as pessoas, identificam oportunidades e sinalizam caminhos para os outros e para si mesmo.

E isso com Ética?

As pessoas, de modo geral, deixam-se guiar pelas aparências: de sinceridade, decência, honestidade etc. Os gregos chamaram de “hipócritas” quem ficava falando atrás das cortinas nos teatros sem entrar em cena. Daí surgiu o conceito de hipocrisia.

Aquilo que permanece oculto nas sombras. A ideia de retirar a sombra e se revelar é absolutamente necessária na Ética. Nós, seres humanos, somos os únicos animais capazes de questionar se o que fazemos é certo ou errado.

A Ética se ocupa justamente disso, um conjunto de valores e princípios que empregamos para decidir acerca de nossas condutas sociais. Falamos em ética porque a convivência entre os homens ocorre no plural.

Se vivêssemos sozinhos e isolados não existiriam questões éticas, uma vez que ela rege as condutas de nossa vida coletiva. Como vivemos juntos, necessitamos de valores e princípios de convivência, de modo que tenhamos vidas íntegras nos aspectos espirituais, materiais e físicos.

E isso com Religião?

Ainda que surjam, a todo instante, inúmeras modernidades tecnológicas, sempre restarão grandes dúvidas. Logo, as religiões continuarão encontrando espaço. Para o autor, isso é uma clara indicação de que a ciência e a religião não devem ser contrapostas, mas tidas como formas complementares de explicar a vida.

Na atualidade, a religião e a ciência estão juntas em diversos momentos, porém, nenhuma delas, tomada isoladamente, se mostra capaz de solucionar nossos questionamentos existenciais mais profundos.

A partir da Idade Moderna a ciência tem carregado, em suas narrativas, elementos discursivos ateístas. Em grande medida, a ciência serve para certas explicações de um mundo que, entre outras coisas, procura ser laico em suas dimensões.

Mulheres e homens que, por outro lado, abraçam uma confissão religiosa necessitam compreender que religião e ciência não são adversárias, mas formas de trabalhar o entendimento e interpretar a vida.

E isso com Ecologia?

Não podemos reduzir a consciência ecológica à proteção de rios, árvores e pássaros (embora isso também a integre). Ela é, de fato, uma consciência ética, segundo a qual os homens devem evitar a degradação e a destruição de todas as formas de vida.

A vida em nosso planeta é simbiótica: enquanto uma determinada forma de vida estiver sendo ameaçada, ninguém estará protegido. Proteger a simbiose é uma tarefa da Ética. Se, por exemplo, alguma pessoa não estiver livre da fome e do preconceito, ninguém poderá ser considerado livre dessas mazelas.

Ser vivo e ser humano é ser junto. Por isso, falamos tanto em convivência. Afinal, a vida de todos os seres é igualmente importante. Nesse contexto, as pequenas ações e os pequenos erros do cotidiano são muito negativos.

É a sujeira desnecessariamente produzida, a destruição de uma extensão florestal, a derrubada ilegal de árvores, a ofensa à existência do outro, tudo isso são pequenas ações que, se reproduzidas pela maioria das pessoas, ganhará proporções significativas e conduzirá a Terra a um efeito destrutivo.

Tudo o que atinge o nosso planeta também nos atinge!

E isso com Política?

Há quem olhe a democracia como algo penoso ou como um encargo, porque é preciso um certo nível de participação. Alguns ficam, até mesmo, chateados nos dias de eleição, supondo que, no fundo, se trata de uma entediante obrigação.

Não obstante o fato de que o voto é obrigatório no Brasil, ele permite valorizar nossa vida em sociedade. Essa atuação independe de se engajar em um partido político. A militância partidária é um modo de fazer política, mas não o único.

A participação cidadã pode ocorrer das mais variadas formas, nos conselhos de educação, de saúde, na fiscalização cotidiana dos gastos públicos, nas iniciativas de voluntariado, na aferição das ações do poder Executivo, no comparecimento em sessões do poder Legislativo.

Quem age dessa forma não se omite e, tampouco, se mantém conivente com as atitudes que impedem a possibilidade de conquistarmos uma existência mais feliz e plena.

E isso com Mundo Digital?

Redes sociais, mundo digital e tecnologia precisam ser utilizados prioritariamente para afastar as pessoas da atual escravização mental a que estão submetidas e para ajudar a pensarmos melhor.

Pensar melhor, segundo Cortella, é um gesto que requer persistência e foco, para não deixar que os vários lados de um mesmo tema passem despercebidos, buscando retirar dos objetos do pensamento tudo o que possa transcender a obviedade, em vez de nos deixarmos conduzir como “rebanho” ou “manada”.

Não se esqueça de que os nossos pensamentos exercem influência direta sobre a nossa realidade, contudo, não produzem a realidade. O que é somente pensado pode ser alterado pela concretude do real. Os pensamentos, porém, nos ajudam a preservar o que queremos nessa realidade e a buscar os meios necessários para conseguirmos isso.

É urgente que sejamos, cada vez mais, usuários e criadores de tecnologias que efetivamente nos coloquem em rede, formando grandes comunidades aprendentes e reflexivas.

O autor aponta a necessidade de desenvolvermos estruturas que nos auxiliem a pensar corretamente, ou seja, com humildade, paciência e coragem. Isso evitará que assumamos a posição arrogante de quem julga saber tudo e que sejamos presas de um imediatismo que nos arraste a conclusões errôneas.

Notas finais

Convém ressaltar, por fim, que a Filosofia não é a única capaz de impedir nossa mediocrização, mas é a que tem maior impacto nessa luta, requerendo pensamentos e reflexões que ultrapassem os limites do evidente e introduzindo suspeitas em tudo o que acreditamos.

Trata-se, enfim, da melhor alternativa para quem deseja potencializar sua consciência e, consequentemente, fortalecer sua própria autonomia.

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Quem escreveu o livro?

Mario é filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário. É muito conhecido por divulgar pensadores com outros intelectuais como Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal e Renato Janine Ribeiro e analisar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea. É professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e de pós-graduação em Educação da PUC-SP, na qual está de 1977 a 2012, além de professor-convidado da Fundação Dom Cabral, desde 1997, e foi no GVPec da Fundação Getúlio Vargas, entre 1... (Leia mais)

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