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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Anotações de um jovem médico e outras narrativas
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5525-027-5
Editora: Editora 34
Durante muito tempo, Mikhail Bulgákov permaneceu um escritor russo desconhecido. Embora nascido na Ucrânia, acabou se emancipando em Moscou e por lá se estabeleceu, trabalhou e viveu até a morte. O autor era pouco lido dentro e fora da União Soviética durante a vida, fato comum também a Marina Tsvetáieva, outra autora importante do século XX na literatura russa.
Hoje, é comum ouvir entre os russos que Mikhail pertence àquele país e sempre foi de lá. Mas, na década de 1920, a recepção à sua obra não foi das melhores. Ele chegou a sofrer uma tentativa de apagamento, quando foi descrito dessa maneira pela Grande Enciclopédia Soviética, em 1927: “a obra de Mikhail Bulgákov posiciona esse autor no flanco da extrema direita da literatura russa contemporânea, fazendo dele o porta-voz artístico dos estratos burgueses mais à direita da nossa sociedade”.
Esse documento era oficial, elaborado pelo partido único e publicado em 1927, no ano seguinte à publicação de alguns contos que compõem este livro. Na enciclopédia, havia menção a qualquer vínculo de Mikhail Bulgákov com atividades de natureza política.
Se agora os russos se orgulham, é porque a forma como enxergavam Bulgákov e sua obra foi se transformando no decorrer da abertura da União Soviética.
Em Anotações de um jovem médico, nos deparamos com um ciclo de sete contos, além da novela “Morfina” e da narrativa curta “Eu matei”. Uma característica de todas as histórias é o cunho autobiográfico. A hipótese de elas serem apenas parcialmente ficcionais é grande entre os críticos literários, fato que se repete nas notas do jovem médico que norteiam o livro.
Isso é ainda mais evidente pelo fato de todas as histórias terem sido impressas em uma publicação da área médica, a revista “Trabalhador da medicina”, antes do surgimento da coletânea em livro. Fato é que o leitor se depara com a publicação de um escritor maduro, que já sabia bem os caminhos a tomar na literatura.
Em 1926, era muito difícil publicar obras como essa. Por isso, Bulgákov enviou um conto para a revista “Panorama vermelho”, mas depois não voltou a tentar ser publicado. Apenas o conto “Eu matei” não saiu no periódico “Trabalhador da medicina”. O restante foi publicado por ali, dividido em duas ou três partes.
Na época de Bulgákov, a impressão das chamadas "obras duvidosas" em publicações especializadas de áreas, como a medicina, era uma forma de driblar a censura do governo soviético. Por isso, é comum nos depararmos com outros relatos de escritores publicando suas ficções em jornais deste ou daquele setor profissional.
Na União Soviética, o ciclo Anotações de um jovem médico só foi publicado em livro depois de quarenta anos em duas coletâneas, mas não em sua totalidade. Demorou muito tempo para os russos terem o privilégio de desfrutar de uma literatura que tinha como princípio o dia a dia de um jovem médico.
O tempo se move para a frente. Essa máxima pode ser vista nos contos “Tempestade de neve”, “A praga das trevas”, “Exantema estrelado” e “A toalha com um galo”. Com o passar das histórias, o leitor é levado outra vez aos tempos da chegada do jovem médico ao hospital. Mesmo voltando aos primeiros dias da vida profissional do narrador, fica bem claro como as decisões tomadas no meio de um plantão não podem ser desfeitas.
Os contos explicitam como a passagem do tempo é inerente a todos os seres humanos. O hospital mostra que a prática médica diária não se repete. Cada caso é um caso, eles não vão se repetir, mesmo guardando entre si forte semelhança. Tal como na vida, os dias se sobrepõem e as decisões que tomamos geram consequências inevitáveis, sem a possibilidade de serem apagadas.
Embora a publicação não seja de contos que sigam uma ordem cronológica, está nítido o sentimento do tempo passando, indo para frente, sem parar. A cada novo atendimento, uma nova situação, uma nova história a ser criada com o paciente em questão.
Passamos da metade deste livro para falar um pouco sobre como a neve é frequentemente usada como metáfora na literatura russa. Com Bulgákov, não é diferente. Ela aparece sorrateiramente ou mesmo por meio de nevascas, dando sinais de que os dias, e os próximos contos, serão pouco iluminados, com muita turbulência a ser enfrentada.
O mau tempo metafórico torna sua escrita ainda mais rica.. Um exemplo é este trecho: “No norte, uiva cada vez mais alto a nevasca, e aqui, sob os nossos pés, o ventre da terra ecoa o seu ronco surdo…”. Dá até uma sensação de desconforto ao perceber a sensação de mau agouro se aproximando.
Em um dos contos, o médico narrador se vê viciado em morfina, enquanto a neve assola os dias. Existiu o boato de que o próprio Bulgákov tenha perdido o controle no uso da substância para amenizar suas dores. E a neve estava ali, indicando a existência de algo muito errado, como os dias em que fica difícil se locomover com tanto gelo nas ruas. Às vezes, também nos sentimos paralisados na vida. Somente um autor refinado capta essas nuances entre o tempo lá fora e os sentimentos dentro de nós.
Em Anotações de um jovem médico, notamos uma produção literária radicalmente distinta da chamada literatura soviética, publicada entre os anos de 1920 e 1930. Isso porque naquela época as produções tinham quase um monopólio das causas sociais como enredo. Qualquer livro que não atendesse às exigências do governo, poderia passar por sanções, como as que levaram Bulgákov a publicar sua obra em periódicos médicos.
Aqui, ela não se resume apenas a denúncias sociais, mas possui riqueza na abordagem de temas também psicológicos. Sua prosa tem aspecto desafiador. Mesmo sem negar o fato dos seres humanos não existirem fora da sociedade, não deixa de abordar aspectos psicológicos em cada uma das tramas.
Anotações de um jovem médico pouco se identifica com a literatura soviética tanto por não ter caráter panfletário quanto por ter na mistura entre ficção e autobiografia sua marca mais chamativa.
As descrições de Bulgákov possuem o frescor de um cirurgião inexperiente. Em alguns momentos, sua ignorância sobre o resultado final das próprias ações e a surpresa por ser competente em seu ofício pegam o leitor de jeito.
Os contos médicos têm a riqueza na descrição de cada objeto e ambiente, como se os estivesse vendo pela primeira vez. O trecho abaixo dá um bom exemplo, quando o narrador conta sobre a primeira vez que precisou arrancar um dente. Está no conto “O olho desaparecido”.
“Lembro muito bem também do dente cariado, forte e colossal, solidamente cravado no maxilar. Apertando os olhos com uma expressão sábia e soltando grasnidos de preocupação, coloquei as pinças no dente […]. Ouviu-se um estalo na boca e o soldado uivou prontamente: ‘Oho-o!’. Depois disso, cessou a resistência sob a minha mão e as pinças saltaram da boca ainda apertando um objeto branco e ensanguentado. Aí o meu coração paralisou de medo, porque o objeto ultrapassava em volume qualquer dente, mesmo o molar de um soldado. De início não entendi nada, mas depois por pouco não me pus a soluçar: nas pinças, é verdade, sobressaía um dente com raízes bem longas, mas do dente pendia um enorme pedaço de osso, irregular, vividamente branco. ‘Quebrei o maxilar dele’, pensei, e as minhas pernas fraquejaram…”
Em Anotações de um jovem médico a realidade parece ser renovada. O drama ao tratar do atendimento a um suicida ou de um dente quebrado demonstram uma sensibilidade incrível de quem sabe bem o que escreve e porque escreve. A sutileza da literatura russa está à flor da pele nesta obra.
Quando nos deparamos com uma grande obra da literatura, nos sentimos profundamente encantados. Em Anotações de um jovem médico, esse sentimento é capaz de paralisar o leitor a cada narrativa. Conto a conto, o que parece ser uma frieza típica dos russos se desenvolve de maneira magistral, com a habilidade de quem enxerga arte mesmo em um ambiente duro, como o dos atendimentos médicos. Leitura indispensável para os amantes das boas histórias.
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Mikhail Afanássievitch Bulgákov nasceu em Kiev, na Ucrânia, em 1891, formou-se médico, se instalou em Moscou e... (Leia mais)
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