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Este microbook é uma resenha crítica da obra: A vida que não postamos: pensatas atrevidas sobre verdades on e off-line
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5660-151-9
Editora: Edipro
Freud dizia que seríamos muito melhores se não buscássemos ser tão bons. Somos cobrados para sermos gentis, pacientes, empáticos e evoluídos, mesmo quando a recíproca não é verdadeira. Caímos em um discurso enlatado de coach e ficamos obcecados por sermos a melhor versão de nós mesmos sempre.
Quando fazemos isso e tentamos ser políticos ao responder uma pessoa que não merece cordialidade, não “somos superiores”. Em vez disso, agimos de forma falsa. Não há benefício algum. Não estamos melhorando de verdade. Somos o que conseguimos ser, sem glamour. Não precisamos ser nota 10.
Às vezes, um 6 ou 7 é o que dá. Perder nosso ideal de “melhor versão” é algo que traz alívio. É um privilégio não precisar ser tão bom quanto nossa idealizada melhor versão pensa que deveríamos ser. A busca por se melhorar o tempo todo é exaustiva. Abandone o excesso de autocobrança.
Ser o melhor em tudo o que nos propomos a fazer é exaustivo e ilusório. É a receita para a frustração. Troque isso pela ideia de ser uma pessoa suficientemente boa. Esse tipo de obsessão não é saudável e se pauta na necessidade de se provar constantemente, fruto de um senso de autoinsuficiência crônica.
É um sentimento irmão da insegurança. Isso cria uma competitividade cansativa. Nem tudo envolve uma hierarquia do melhor ao pior. Quando a gente quer ser o melhor sempre, passamos a acreditar que nosso valor só existe na performance. O mérito se torna proporcional ao destaque que alcançamos.
Não alimente a obsessão de ser uma pessoa perfeita, a melhor ou a extraordinária. Ser suficientemente bom já basta. Seja o dedicado comum. Ofereça o básico, mas esteja presente e disponível. Erre, porque isso não importa. Quando não nos comprometemos com a perfeição, desfrutamos da plenitude das coisas.
As carícias de plástico envaidecem, mas não são verdadeiras. Elas são atraídas pelo sucesso. Vêm dos bajuladores, especialistas em afagos sintéticos. Esse grupo de pessoas é como gasolina para o nosso ego. Confirma que somos tudo o que pensamos e que demos certo na vida.
O problema é que as carícias de plástico cegam. Todos ao redor percebem. Só que o bajulador sabe persuadir. Então, tudo o que vocẽ faz vira razão para aplausos. Todos se tornam prestativos. Você deixa de conhecer o “não”. Quando fala uma asneira, é aplaudido. Seu sucesso é tudo o que os outros precisam para bajular.
O problema é que o sucesso passa. Você deixará de ser bola da vez um dia. É a vida. Em certos momentos estamos em cima, em outros estamos embaixo. Só aprendemos na segunda situação. Sucesso alimenta, mas não é capaz de nutrir. Só o afeto verdadeiro, que não se importa com sua popularidade, é.
Talvez você conviva com algum adulto não funcional. Ele não sabe lidar com a vida adulta e pensa que é o centro do universo. Sente-se a pessoa mais especial do mundo e acha que é tudo sobre ele. Pessoas assim alimentam uma fantasia infantil de permanente protagonismo, com um senso desproporcional de autoimportância.
Pensam que o mundo deve a elas a atenção que tinham dos pais quando eram crianças. Por isso, são pessoas que tendem a fazer parte de relações igualmente não funcionais. Com tolerância baixa à frustração, estão sempre na infância. Uma relação adulta exige uma troca de responsabilidades. Precisamos da capacidade de lidar com questões práticas e emocionais da vida adulta.
Adultos não funcionais estão sempre se vitimizando. Dizem que nunca têm sorte ou oportunidades, ainda que não tenham feito nada para buscá-las. Eles têm uma autoimagem do tamanho de seu autoengano. Sua vida é um caos e eles rejeitam qualquer responsabilidade sobre os problemas.
O não suficientismo é a sensação de que, por mais coisas que você faça bem, nunca será o suficiente. Fazemos parte de uma cultura com obsessão por performance, na qual, quando chegamos na meta, queremos sempre dobrá-la. Ainda que você esteja bem, sente que deveria estar melhor.
Com as redes sociais, isso fica pior. A autora cita sua profissão de influencer como exemplo, na qual ela é cobrada para produzir sempre mais conteúdo e com mais qualidade. É como se tentássemos ser uma colagem de qualidades de todas as pessoas excepcionais que admiramos e, quando não chegamos nesse ideal, ficamos frustrados.
É bom ter referências. As pessoas que admiramos estão no mundo para que possamos aprender com elas. O outro é um bom ponto de partida. Só não podemos perder de vista o que temos de único. Troque o não suficientismo pelo suficientemente bom. Ser o que você é já basta.
Quem está na internet pode sofrer de viralismo, a ideia de que é preciso viralizar para se valorizar. Pessoas assim têm a tendência de desejar que o outro fale sobre si, independentemente da razão. O viralismo é um empuxo que nos faz querer capitalizar sobre tudo que está em pauta.
É como se entrássemos em uma corrida para formar a melhor opinião, tecer o comentário certo e gerar mais impacto. Queremos aproveitar o timing da discussão. Ninguém quer perder a chance de tocar em um assunto com ênfase, apontar o dedo, sinalizar virtude e surfar em uma causa qualquer.
Afinal, esse é o caminho para os outros verem você. O problema da vida on-line é que há uma arriscada transferência de códigos, na qual confundimos internet com a vida real. Saímos da economia da atenção para a da tensão. Agora, convivemos com a obrigação de viralizar para sentir que temos alguma relevância.
Já passamos da metade do microbook e a autora conta que, em vez de perguntar para os outros “o que você tem feito?”, deveríamos perguntar “como você tem gastado seu tempo?”. “O que você tem feito” é aquilo que você vai se gabar nas redes sociais; “como você gastou seu tempo” é o que você lembrará no leito de morte.
É natural fazer o que traz likes e engajamento. O sucesso nos envaidece e orgulha. O problema é quando passamos ausentes pelo presente, porque, em vez de desfrutar, ficamos focados na próxima conquista, contrato ou post. A ânsia por mais e a sensação de insuficiência nos deixam ausentes.
Então, gastamos mal nosso tempo. A vida é só o tempo que temos. Não há poupança de vida. Não podemos economizar experiências hoje para viver amanhã. Gaste bem seu crédito vital. Grandes feitos são bons, mas a vida é a parte entediante que acontece entre eles
A dualidade entre vida real e vida idealizada nas redes nos traz angústia. Com as redes sociais ocupando parte do nosso tempo, precisamos criar padrões para organizar nossa mente insegura e viciada em comparação, postando só um recorte filtrado daquilo que vivemos.
A vida real é a versão nua e crua que está fora das telas. O problema é que nem sempre suportamos a realidade. Então, procuramos as imagens das redes sociais porque elas emprestam magia ao real. Precisamos dela. Os posts perfumam a vida e escapar do tédio cotidiano é uma questão de sobrevivência.
As imagens traduzem com beleza um mundo que não tem sentido e é difícil de engolir. Todas as imagens são parciais e essa é a graça. Não vemos todos os detalhes e isso não se aplica só ao Instagram. Quando nos olhamos no espelho, não nos vemos de costas. Imagens são sempre representações.
Intimidade não é mais íntima. A sociedade tem o vício coletivo de exteriorizar a intimidade, criando a “extimidade”. Espetacularizamos nosso eu mais pessoal. Se não postamos um acontecimento, é como se ele não tivesse acontecido. Somos moldados na cultura do espetáculo. O cerne é fazer ver.
É quase impossível se sentir um sujeito no mundo contemporâneo sem se render à necessidade de ser validado. Só que há tantos posts que tudo ficou pasteurizado. Por isso, a busca pela autenticidade virou uma nova obsessão. A questão é saber qual é o limite e até onde devemos tornar nosso privado público.
Podemos nos deixar levar pela carência e pela ausência de limites, cruzando a fronteira do razoável. Sentimos que não basta construir uma intimidade se não a expusermos com sucesso. Conquistar o troféu de ser visto é a meta. O desafio é erguer esse prêmio sem machucar a si próprio no caminho.
A autora conta que deixou de calcular o valor das coisas em dinheiro. Sua moeda se tornou o tempo de vida. Quanto tempo uma coisa vai custar é uma forma mais valiosa de tomar decisões. Isso é especialmente importante no clima de inquisição virtual que vivemos hoje.
Comprar brigas nas redes sociais pode envolver uma causa justa, mas precisamos pôr na ponta do lápis se o tempo de vida que gastaremos com isso fará com que valha a pena. Calcule quantos bons momentos com a família e amigos isso vai lhe tirar. Às vezes, o ditado “prefiro ser feliz a ter razão” se aplica.
Lembre-se de que não dá para poupar tempo de vida. Não podemos dispensá-lo com coisas irrelevantes e depois economizar para compensar. É um recurso não renovável, o aqui-agora. É a moeda do tempo presente. Gaste bem seu crédito vital e seja seletivo com suas experiências.
Hoje, somos bombardeados de mensagens de autoaperfeiçoamento constante, positividade tóxica e pílulas de autoajuda que dizem que “você pode tudo, desde que realmente queira”. A verdade é que não podemos tudo. Somos cobrados à excelência desde a Revolução Industrial, quando o mundo criou demandas de todo tipo para justificar o aumento da oferta.
Precisamos abandonar esse delírio e adotar a “aceitação pessoal radical”. Essa ideia é uma resposta à obsessão por autoaperfeiçoamento e se relaciona com uma autoaceitação emocional libertadora, um desejo de deixar fluir sentimentos mais autênticos. Não é um tipo de pessimismo, e sim, uma forma de escolher as lutas que realmente valem a pena.
Passamos a focar naquilo que realmente deve ser melhorado. Tentar ser notável em tudo é estressante e frustrante. Foque, então, na batalha do momento, a que fará a diferença. Lembre-se de que energia é um recurso limitado que precisa ser usado com inteligência. Atingir os níveis de exigência alardeados nas redes sociais é impossível.
Se você já parou o carro no acostamento para responder a mensagens de WhatsApp ou se preocupou seriamente porque uma pessoa ficou offline por duas horas, então já sentiu a fadiga da disponibilidade. Nos esforçamos para ficar sempre alertas e responder a qualquer demanda a qualquer momento.
Essa disponibilidade faz com que tornemos urgentes demandas que podem esperar. É como se só nos permitíssemos relaxar quando zerássemos as demandas. O problema é que isso nunca acontece. São tantas interrupções que sentimos como se não tivéssemos feito nada além de ficar disponíveis o dia inteiro.
Somos ocupados, mas não produtivos. Corremos maratonas sem sair do lugar. Tememos a rejeição que aconteceria se não respondermos. A dica é criar limites pessoais e profissionais. Estabeleça o que é urgente e o que não precisa de resposta imediata. Desative as notificações que não são importantes. Não fique sempre disponível.
Em “A vida que não postamos”, a autora explora a nossa relação com as redes sociais e a autoestima. Ela também incentiva o cuidado ao lidar com discursos de autocobrança, populares dos posts de autoajuda.
O excesso de redes sociais pode desequilibrar nossa relação com a dopamina. Em “Como acalmar sua mente”, Chris Bailey ensina como levar uma vida mais calma valorizando o mundo offline. Veja no 12 min!
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Mônica Salgado é jornalista, influenciadora, consultora e palestrante. É formada pela PUC-SP. Foi re... (Leia mais)
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