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Editora: 12min
O primeiro filósofo da Grécia Antiga a trabalhar o conceito de individualidade, Sócrates é considerado um dos patronos da filosofia ocidental e, ainda, a figura central no desenvolvimento da subsequente rica tradição intelectual europeia.
No entanto, ele não deixou nada escrito, não estabeleceu nenhuma escola e, tampouco, sustentou teorias originais. Assim, como Sócrates se tornou tão influente? Ademais, como seu nome e suas ideias chegaram a nossos tempos? Tais questões são, precisamente, o nosso ponto de partida.
No diálogo “Fedro”, de Platão, Sócrates menospreza a escrita, classificando-a como uma arte inferior: “um elixir da lembrança, não da memória”. Além disso, acrescenta, os escritos são, a um só tempo, rígidos e indiscriminados, pois transmitem as mesmas ideias tanto para quem as compreende quanto para quem não se interessa por elas.
Eles são, essencialmente, como pinturas. Isto é, por mais realistas que possam parecer, basta lhes dirigir uma pergunta para notar como eles preservarão um silêncio solene, esperando que o seu criador intervenha.
Por tais motivos, conclui Sócrates, a palavra falada, o diálogo vivo, é muito superior à escrita morta: “mais do que no papiro, ela está gravada, com conhecimento, na alma dos ouvintes; estes podem se defender, sabendo por quem devem falar ou permanecer em silêncio.
Devido a essa posição, Sócrates nunca escreveu nada. Consequentemente, dependemos de terceiros (seus contemporâneos, seguidores, detratores, dentre outros) para adquirirmos algum conhecimento a seu respeito. Nesse sentido, quatro nomes se destacam: Aristófanes, Xenofonte, Platão e Aristóteles.
De acordo com um historiador moderno, “a única afirmação comum a todos os quatro pode ser encontrada no fato de que houve um filósofo chamado Sócrates”. Embora qualquer avanço que transcenda essa indicação seja meramente especulativo, é possível excluir – com alguma segurança – a comédia de Aristófanes, “As nuvens”.
Afinal, essa peça oferece uma imagem excessivamente distorcida de Sócrates, caracterizando-o como uma espécie de sofista que se dedicava a enganar a juventude de seu tempo. Contudo, embora fosse um dramaturgo, Aristófanes é amplamente reconhecido por ter sido um pensador conservador, que favorecia os métodos antigos, opondo-se a quaisquer reformas ou novidades.
Diferentemente de Aristófanes, Xenofonte era amigo e, de certo modo, aluno de Sócrates. A despeito de ser visto como um historiador sério, os seus escritos a respeito do mestre são majoritariamente ficcionais e, tanto no estilo quanto na intencionalidade, são mais parecidos com romances históricos do que com testemunhos sinceros ou relatos biográficos embasados.
O próprio Aristóteles descreve as obras “Simpósio” e “Memórias de Sócrates”, de autoria de Xenofonte, como “conversas imaginárias, nas quais Sócrates se converte em um porta-voz das próprias ideias do autor.”
Muitos especialistas sustentam o mesmo em relação às obras tardias de Platão. Todavia, seus diálogos iniciais e intermediários parecem oferecer um relato histórico confiável de Sócrates.
Em sua maioria, Sócrates é o orador principal, dificultando a distinção entre os pensamentos de ambos. Mesmo assim, vários diálogos socráticos de Platão – principalmente, a “Apologia”, “Críton” e “Fédon” - são nossas principais fontes para a vida, o caráter e a filosofia do patrono da cultura ocidental.
De acordo com o biógrafo e historiador Diógenes Laércio (século III a.C), ao ouvir Platão ler em voz alta um de seus primeiros diálogos, Sócrates exclamou: “por Hércules, quantas mentiras este jovem está contando sobre mim.”
No entanto, em uma de suas últimas cartas, Platão – de um modo enigmático – observou que “nenhuma escrita de minha autoria jamais existiu ou existirá.” Com isso, segundo alguns historiadores, pretendia afirmar que todas as suas obras eram, na verdade, uma divulgação do pensamento socrático.
Desconcertados pela espantosa discrepância dessa afirmação, os historiadores da Filosofia passaram a comparar os diálogos de Platão com outras fontes, visando tirar conclusões sobre as semelhanças e as diferenças na forma como Sócrates é representado. As distinções catalogadas são tão vastas que não é possível elencar todas aqui.
De fato, enquanto o Sócrates de Aristófanes é um personagem enfadonho e irritante, o de Xenofonte, por sua vez, não passa de um propagador de banalidades mais ou menos óbvias. Em Platão, contudo, Sócrates adquire o status de pensador extremamente original, com ideias capazes de influenciar toda a civilização.
É principalmente a representação de Sócrates por Platão que interessa aos estudiosos contemporâneos, uma vez que é a única que constitui uma significação filosófica perene.
Como essa representação consiste em uma expressão da compreensão pessoal de Platão de um indivíduo, convém iniciar a nossa discussão a partir de um breve retrato biográfico solidamente enraizado nas pesquisas históricas, em detrimento de análises puramente literárias.
Nascido em Atenas no ano de 469 a.C, Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira. É provável que tenha exercido a profissão de seu pai enquanto estudava filosofia, antes de ser convocado ao serviço militar.
Ele ganhou reputação como soldado durante a Guerra do Peloponeso, travada entre Atenas e Esparta. Na batalha de Potideia, em 432 a.C, salvou a vida do jovem Alcibíades que, mais tarde, se tornaria seu amante, bem como um proeminente general e estadista ateniense.
Em Délio, no ano de 424 a.C, Sócrates foi o último ateniense a ceder terreno aos inimigos espartanos. Conforme um popular ditado grego do século V a.C. “se todos os soldados atenienses possuíssem o valor de Sócrates, Esparta certamente teria perdido a batalha.”
Após voltar da guerra para Atenas, trabalhou por um tempo como cortador de pedras e escultor. O geógrafo Pausânias (século II a.C) relata que, perto da entrada da Acrópole, havia duas esculturas entalhadas por Sócrates: um “Hermes” e as “Três Graças (ou “Cárites)”.
Não obstante, quando seu pai morreu, Sócrates herdou dinheiro suficiente para viver – sem ter que trabalhar – com sua mal-humorada esposa Xantipa e três filhos.
A partir de então, ele se tornou uma visão familiar em Atenas, envolvendo-se em questões filosóficas com outros cidadãos e conquistando a admiração de jovens estudantes.
Segundo o próprio testemunho de Sócrates (conforme Platão registra em sua “Apologia”), um evento específico teve um efeito transformador em sua vida e, sobretudo, em sua visão de mundo. Tal acontecimento merece um capítulo próprio.
Tudo começou quando Querefonte – um homem incomum e impetuoso nascido no mesmo ano que Sócrates – foi ao oráculo de Delfos para perguntar quem era o mais sábio de todos os homens.
A profetisa Pítia, ecoando as palavras do deus Apolo, respondeu que não havia ninguém mais sábio do que Sócrates. Ao saber da resposta divina, o filósofo ficou bastante perplexo. “O que o deus quer dizer”, ele se perguntou. “Qual poderia ser a interpretação desse enigma?”
Pois Sócrates estava ciente de não possuir sabedoria alguma. Então, o que um deus poderia querer dizer ao revelar que ele era o mais sábio entre todas as pessoas? Ora, um deus não pode mentir e, por seu turno, Querefonte jurou ter dito a verdade – aliás, o que este ganharia se estivesse mentindo?
Após muito refletir, Sócrates desenvolveu um método para testar o vaticínio: caso pudesse encontrar alguém mais sábio do que ele, poderia ir ao oráculo e dizer à profetisa: “aqui está um homem mais sábio do que eu”. Portanto, procurou um político que tinha a reputação de sábio e propôs uma discussão.
Depois de lhe dirigir algumas perguntas, no entanto, ficou surpreso ao constatar que o homem só pensava que sabia das coisas, mas, na prática, não sabia de nada.
Sócrates repetiu esse experimento diversas vezes, apenas para perceber que nem os artesãos, nem os poetas sabiam mais do que ele sobre outra coisa senão a arte de fazer vasos ou versos. Foi então que, em um lampejo de inspiração, finalmente decifrou a mensagem sagrada.
Ele era considerado o mais sábio dos homens não por que possuísse algum tipo de conhecimento que excedia o dos outros, mas porque era o único ser humano vivo a reconhecer a própria ignorância.
Com efeito, as outras pessoas não sabiam de nada, mas pensavam que sabiam muito. Logo, Sócrates era o mais sábio justamente por ter ciência de que não sabia de nada. Obediente aos deuses, tornou sua missão inquirir quaisquer pessoas, cidadãs ou estrangeiras, que fossem vaidosas o suficiente para se considerarem sábias.
Ao formular perguntas simples, Sócrates adquiriu o hábito de demonstrar como esses indivíduos eram apenas oradores competentes. Por mais simples que isso possa parecer, o método socrático de examinar os argumentos desde uma posição de ignorância foi efetivamente revolucionário.
Na época em que começou a colocar em dúvida as crenças das pessoas, um grupo de pensadores divergentes – os “sofistas” – ganhava muito dinheiro atuando como educadores profissionais itinerantes e preceptores dos jovens atenienses.
Os sofistas se apresentavam como especialistas em diversas áreas, tais como Música, Retórica, Matemática e Filosofia. Sócrates os desmascarou, provando que eram charlatães que, de modo geral, lidavam bem com as palavras – e nada mais.
O seu célebre aforismo “só sei que nada sei”, provavelmente foi elaborado como uma irônica admoestação da versatilidade superficial dos sofistas. Distinguindo-se deles, o nosso filósofo não estava interessado em ganhar dinheiro.
Com efeito, estava ainda menos interessado em vencer disputas retóricas ou oferecer respostas prontas. A sua principal – e única – preocupação era a realização de uma verificação adequada dos conhecimentos.
Nesse sentido, foi o primeiro filósofo da história a perceber que a resolução de um dado problema não é tão importante quanto sua investigação adequada. Portanto, ele também foi o primeiro a compreender que as perguntas, quando bem formuladas, podem constituir uma parte vital de qualquer resposta.
Isso significa que não eram as respostas, mas os questionamentos que confirmaram o cerne da filosofia socrática. Como Aristóteles comentaria posteriormente, a única coisa que Sócrates criou, propriamente, foi o raciocínio indutivo.
Mesmo assim, esse método simples – que usa conjuntos de perguntas críticas para verificar se as conclusões decorrem de premissas válidas – alterou drasticamente a própria maneira como pensamos sobre a verdade e o conhecimento.
Em termos práticos, o método socrático funcionava da seguinte forma: depois de solicitar uma definição de um conceito (por exemplo, o de Justiça), Sócrates endereçava a seu interlocutor diversas perguntas sobre o tema, demandando respostas breves e concisas que, geralmente, pudessem ser elaboradas em “sim” ou “não”.
Tendo obtido uma série de respostas aparentemente desconexas, ele comparava as respostas entre si e as convertia em silogismos, a fim de demonstrar que elas refutavam a definição original de seu interlocutor.
Dessa forma, ele nunca foi professor de ninguém, como ele mesmo admitiu. Seu objetivo era apenas examinar a incompletude das definições propostas, não oferecer uma nova, nunca alegando compreender os conceitos analisados. Apesar disso, sustentava que suas perguntas poderiam levar à confirmação, em vez da refutação, das respostas dadas.
As “vítimas” de Sócrates, porém, nunca acreditaram em nada disso. Pelo contrário, eles consideravam o método bastante confuso, adjetivando o filósofo como “astuto” por se recusar a oferecer respostas próprias e por fingir saber menos do que realmente sabia.
Curiosamente, o termo grego para “astúcia” é uma variante semântica da palavra “ironia” que, originalmente, significava “o ato de fazer perguntas”. Consequentemente, Sócrates é o responsável pela origem da concepção moderna de ironia como afirmação por meio de palavras que expressam literalmente o significado contrário.
Existe, de forma subjacente ao método socrático, segundo o célebre historiador da Cultura, Will Durant, “uma filosofia evasiva, provisória e assistemática. Mas, tão real que, na verdade, o filósofo morreu por ela. À primeira vista, não há filosofia socrática, porém, isso ocorre, principalmente, porque Sócrates, aceitando o relativismo de Protágoras, recusou-se a estabelecer dogmas e estava certo apenas de sua própria ignorância.”
Ora, esse Protágoras era um contemporâneo de Sócrates que criou uma enorme polêmica em Atenas ao afirmar que “o homem é a medida de todas as coisas” e que, no que concerne aos deuses, é impossível saber se existem ou não.
Sócrates foi um dos poucos a compreender Protágoras. Desse modo, tornou-se o primeiro filósofo moral da história. Afinal, a maior parte da filosofia pré-socrática era metafísica ou cosmológica, lidando exclusivamente com grandes questões – como a origem do universo ou a natureza fundamental da realidade.
Esses tópicos sequer foram abordados por Sócrates que, diferentemente, argumentou que qualquer um que decidisse perturbar sua mente com problemas nebulosos como a origem do Universo acabaria como uma fraude ou um louco.
Assim como Confúcio, na China, Sócrates gostava de perguntar aos seguidores se eles consideravam que os seus conhecimentos dos assuntos humanos eram tão completos que se sentiam prontos para buscar novos campos, intrometendo-se nos assuntos dos deuses.
Quando, eventualmente, alguém respondia afirmativamente, ele demonstrava rapidamente sua loucura, ressaltando o absurdo e a imoralidade da mitologia grega.
Em relação aos deuses, Sócrates insistia que nada sabia. Ele estava, diz Xenofonte, “sempre conversando sobre coisas humanas, examinando o que é piedoso e ímpio; o que é belo e o que é feio; o que é justo e injusto; o que é coragem e o que é covardia; o que é uma cidade, um estadista e por quais meios os governantes podem ser considerados bons ou ruins.”
Esses foram os problemas discutidos por Sócrates, acreditando que somente o conhecimento de tais questões pode fazer de alguém uma pessoa nobre e piedosa.
Nesse ponto, é possível observar a natureza real do pensamento religioso de Sócrates: ascetismo, rituais e sacrifícios não são essenciais ao serviço dos deuses. O que realmente agradaria a divindade é a sabedoria e as virtudes morais.
O que é bom e sagrado, argumenta brilhantemente no diálogo de Platão “Eutífron”, não o é por ser amado pelos deuses. Antes, é amado pelos deuses aquilo que é, em si mesmo, bom e sagrado.
Ao defender que o bem não é determinado pelos deuses, mas apenas reconhecido por eles, Sócrates deu início a uma revolução filosófica. A maioria das religiões, ainda hoje, equipara “ser bom” a ser um fiel ou devoto.
No cristianismo, por exemplo, não basta seguir os Dez Mandamentos: para entrar no Reino dos Céus, você também deve aceitar a Cristo como salvador, conforme Marcos 16:6 “quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.”
Em outras palavras, a moralidade tem uma base sobrenatural e os caminhos de Deus transcendem a compreensão humana. Quando Deus ordenou a Abraão o sacrifício de seu único filho, não lhe cabia questionar o mandamento divino, mas apenas obedecê-lo. Afinal, ele é um simples mortal e somente Deus pode decidir o que é bom e o que não é.
Essa moralidade não seria aprovada por Sócrates: os deuses não decidem o que é bom e o que é mau. Eles simplesmente sabem mais do que os humanos, podendo discernir melhor entre os dois polos.
Ou seja, a bondade não é proveniente dos céus – sua existência realmente precede as divindades. Os deuses são bons não por serem dotados de alguma qualidade que possa ser descrita como “bondade”, mas porque sabem tudo e, portanto, conhecem quais são as melhores ações. Nesse contexto, o trabalho dos humanos é seguir o exemplo deles.
Quanto mais soubermos sobre nós mesmos e nossas ações, diz Sócrates, tanto melhores podemos nos tornar e mais perto chegaremos da divindade. Nem a piedade e nem a virtude derivam da crença – ambas são filhas da sabedoria.
Fundamentalmente, a moralidade e o conhecimento são, em Sócrates, a mesma coisa. A única forma de realizar o bem na vida consiste em saber, de antemão, o que é o “bem”. Para tanto, é imprescindível seguir questionando e raciocinando.
Sem os conhecimentos adequados, é impossível praticar ações corretas. Virtude é conhecimento e ninguém comete erros por vontade própria, uma vez que não é possível agir contra o bom senso. Conhecer algo significa possuí-lo completamente.
Se alguém realmente acredita que Deus é todo-poderoso, então, nunca fará nada que possa ofendê-lo. Sem embargo, mesmo os crentes declarados cometem más ações porque, na prática, ninguém sabe se existe um Deus ou não. As pessoas que dizem o contrário não são inteligentes, mas desonestas.
Se conhecimento é virtude – uma das premissas de Sócrates – então, a democracia deve ser um conceito fracassado. O filósofo considerava insensato nomear funcionários públicos por sorteio (como no regime ateniense), pois “ninguém escolheria um piloto, construtor ou flautista” por esse método, “nem qualquer outro artesão – mesmo para trabalhos nos quais as falhas são muito menos desastrosas que os erros políticos.”
Devido a essas ideias, muitos proprietários de terras e homens abastados olhavam para Sócrates com aborrecimento e suspeita – quem detém o poder está sempre a favor da manutenção do status quo, não é mesmo?
Entretanto, Sócrates acreditava firmemente que apenas governantes selecionados por critérios de conhecimentos e habilidades poderiam salvar Atenas. Além disso, o filósofo não receava tornar suas opiniões conhecidas publicamente.
Certo dia, em 399 a.C., Aneto (um político endinheirado), o poeta Meleto e o mestre em Retórica Lícon apresentaram acusações formais contra Sócrates por “corromper a juventude e não acreditar nos deuses da cidade.”
Conforme relatado por Platão em sua “Apologia”, o discurso de defesa de Sócrates não foi nada conciliador. Em vez de aceitar uma multa financeira, o filósofo propôs que Atenas, em vez disso, pagasse por seus valiosos serviços.
“Não encontrareis facilmente outro igual”, disse, “que tenha sido adaptado pelo deus à cidade, do mesmo modo com a um cavalo grande e de pura raça, mas um pouco lerdo pela sua gordura, é aplicada a necessária esporada para sacudi-lo. Assim, justamente me parece que o deus me aplicou à cidade, de maneira que, despertando cada um de vós e persuadindo-vos e desaprovando-vos, não deixo de vos esporar os flancos, por toda a parte, durante todo o dia.”
Sem maiores sobressaltos, Sócrates acabou condenado à morte. Apesar disso, não vacilou, dizendo que “há bons motivos para esperar que a morte seja boa, pois é uma de duas coisas: ou estado de vazio e total inconsciência ou, como dizem alguns, migração da alma deste mundo para outro.”
Para ele, ambos os resultados eram bons. Se for o primeiro, então a eternidade seria como “uma única noite” e “as alegrias de todos os dias terrenos são incomparáveis à felicidade de um sono calmo e pacífico.”
Na segunda hipótese, Sócrates estava prestes a encontrar algumas das figuras mais famosas da história e poderia ter conversas com elas por toda a eternidade: “o que um homem não daria para conversar com Orfeu, Hesíodo e Homero?”
Teria sido fácil escapar da prisão ateniense. Críton, um velho amigo, subornou o carcereiro e implorou ao filósofo que fugisse de sua cela . Sócrates, porém, recusou: “prometi obedecer às leis de Atenas e pretendo cumprir com a minha palavra.”
Em consonância com o diálogo “Fédon”, de Platão, Sócrates passou as últimas horas em sua cela, entre os discípulos, discutindo a imortalidade da alma e a tarefa da filosofia de libertá-la de seu confinamento no corpo.
Na sequência, ingeriu solenemente o veneno preparado pelo Estado, enquanto seus amigos choravam impotentes. “Críton, devemos um galo a Asclépio”, sussurrou Sócrates. “Por favor, pague-o e não negligencie essa tarefa”. Críton perguntou: “há mais alguma coisa que você queira que eu faça?” Porém, não obteve resposta.
O fascínio gerado por Sócrates, segundo Christopher Charles Taylor – historiador da Filosofia – se deve menos a quaisquer doutrinas específicas do que ao retrato que Platão fez dele como um exemplo de vida filosófica, ou seja, uma vivência dedicada a seguir os seus princípios a qualquer custo, mesmo perante as adversidades como pobreza, condenação judicial e morte.
A descrição platônica da forma pela qual Sócrates vivia para a Filosofia o tornaria imortal e, ainda mais importante, o relato de sua morte conferiu ao filósofo um reconhecimento que atravessa os séculos.
O filósofo contemporâneo Richard Robinson concorda que os diálogos platônicos fizeram de Sócrates “o principal mártir da razão, assim como os Evangelhos fizeram de Jesus o principal mártir da fé.”
Na verdade, Sócrates fez mais convertidos à sua filosofia mediante sua vida impecável e morte gloriosa do que com qualquer uma de suas palavras e argumentos. “Por meio de seus alunos”, escreve o historiador Will Durant, “as diversas sugestões de seu pensamento tornaram-se a substância de todas as principais filosofias dos séculos seguintes.”
O elemento mais poderoso na influência de Sócrates foi o exemplo de sua vida e morte. Ele se tornou para a história grega um mártir e um santo; e cada geração que buscou um exemplo de vida simples e pensamento corajoso voltou a nutrir seus ideais com a memória do pensador ateniense.
Para Xenofonte, “ao contemplar a sabedoria e a nobreza de seu caráter, está além do meu poder esquecê-lo ou, ao lembrá-lo, abster-me de elogiá-lo. E se, entre aqueles que fazem da virtude seu objetivo, encontraram alguém mais útil do que Sócrates, considero esse homem ‘abençoado’.”
Mais de dois mil anos após o desaparecimento de Sócrates, o existencialista dinamarquês Søren Kierkegaard escreveu que, caso alguém deseje conhecer um verdadeiro filósofo, terá mais chances de sucesso se procurar em praças públicas do que em escolas ou universidades.
Ecoando a mesma convicção, Friedrich Nietzsche observou que apenas os filósofos que ensinam pelo exemplo merecem o respeito da posteridade. Sócrates é largamente apreciado, também, por ser o primeiro e mais famoso defensor da ideia de que a filosofia não é ensinada com palavras, mas com ações práticas.
Como argumento a favor desse ponto de vista, ele não produziu nem livros ou manuscritos. Com toda a certeza, Sócrates nos deixou algo muito mais valioso: a sua própria vida.
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