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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-8581743295
Editora: Principis
Roupa serve para proteger o corpo. Também serve para expressarmos nossa identidade. No caso das crianças, que não têm tantos filtros sobre o que devem usar, é muito interessante observar suas vestes e manias.
E cansativo também, porque seria bem mais fácil se elas usassem qualquer roupa, de qualquer cor, e pronto. Mas nunca é assim. A elegância, mesmo a infantil, pode custar muito caro.
Para driblar isso, a nossa autora herda algumas peças de familiares e amigos, compra em brechó e deixa que mexam em seu closet. Tudo é de todas. Uma casa com três mulheres tem potencial natural para ser um camarim bagunçado.
Anita, sua filha, está sempre vestida como se estivesse indo para uma reunião no Google. Ela combina uma paleta de cores bem básicas – azul, jeans, preto, branco e cinza – com uma peça de cor bem vibrante, de preferência verde-esmeralda ou laranja.
É tão pequena que usa as mesmas roupas anos a fio. O cabelo é cortado em casa. Depois que descobriram no YouTube uma técnica de pentear toda a cabeleira para frente, prender com elástico embaixo do queixo e cortar reto, nunca mais gastaram dinheiro com salão.
O corte sai todo em camadas e sempre fica num comprimento que dá para prender, o que é fundamental. Até sua sogra virou cliente do “estabelecimento”. “Cortes de graça em 5 minutos” é o slogan.
Na contramão do minimalismo, o estilo da Aurora, sua segunda filha, é sincretismo monárquico. “Ah não, se não for rodada eu não uso” é uma das exigências para saias em seu dresscode.
Tudo sempre tem um quê de princesa. Seu guarda-roupa é assim: vestido de Branca de Neve, de Elza da Frozen, de Chapeuzinho Vermelho, asas de princesa, borboleta e coroa para dar um toque real em qualquer look.
Os sapatos têm que ser sapatilhas, de preferência brancas, vermelhas ou douradas. Algumas regras servem para as duas: se está frio, elas querem as regatas, os sapatos abertos e os tecidos leves.
No verão, “mãe, cadê minha meia-calça de oncinha? A touca de coruja? A saia de flanela xadrez?”. Por que será que as crianças têm o sensor de temperatura invertido?
Nesse inverno, Ana Cardoso promete não cair mais no golpe do pijama de corpo inteiro de soft que protege crianças descobertas em noites congelantes. Ela tem meia dúzia desses guardados. Todos com etiqueta.
Obrigar uma criança a usar um tip-topão desses é como fazê-la comer toda a comida sem levantar da mesa nenhuma vez, tomar banho sem molhar o banheiro ou cortar as unhas sem ficar se mexendo. Aliás, obrigar uma criança a usar qualquer coisa é um trabalho do cão.
As crianças de hoje querem ser filhas das nossas mães, ou melhor, das nossas avós. Esqueça o bolinho recheado pronto e a barrinha de cereal e mãos à obra. Elas querem realidade, feito em casa.
Não querem lanche comprado e detestam ficar na fila da cantina. Se você manda bolacha, a criança fica feliz, mas oh, você mandou bolacha, puro carboidrato pobre com gordura trans.
Quando a opção é fruta, outro problema: não dá para cortar que apodrece, mas as crianças pequenas não conseguem comer inteiras. A autora conta que, certa vez, mandou uma maçã.
“Mãe, eu dei umas mordidas e joguei fora porque estava dura”. Lógico que estava dura, maçã é dura, a não ser que alguém corte. Não culpo a professora, eu mal dou conta das minhas duas crias.
Bom mesmo é pão de queijo e um suco orgânico. Mas tem que variar. Mandar sanduichinhos parece legal, mas as crianças estão cada dia mais veganas e não querem saber de presuntos, patês, queijos.
Porém, ainda não caíram nas graças dos iogurtes de leite de amêndoas. Ainda bem, porque esses não laticínios custam 10% de um salário mínimo.
E quando você manda um bauru, fica a tarde inteira pensando: “ai, meu deus, aquele queijo com tomate fora da geladeira nesse calor, que bela porcaria deve estar”. Outro dia ela estava se lamentando com uma amiga que tem uma filha da mesma idade de sua mais velha.
Ela confessou que o único bolo que assou na vida foi uma tragédia. Cresceu demais, saiu da forma, caiu no forno e ficou carbonizado. Quase estragou o fogão para sempre.
A amiga disse que sua própria situação era ainda pior, mesmo sabendo fazer bolos. Sua concorrência é desleal. As mães das amigas não só fazem bolinho, como mandam um poema junto a cada dia na lancheira.
Como assim? Estas mães estão inflacionando nosso mercado. Assim fica difícil. Você quer saber mesmo o que é um golaço nos dias atuais? Tomates-cereja num potinho, cookies caseiros sem glúten no outro, nozes ou castanhas-do-pará no outro e um suco de laranja-de-umbigo num vidrinho esterilizado.
Seu filho é comilão? Bota mais um potinho com damasco ou morangos desidratados. Simples assim. Rá-rá-rá.
O mundo parou, o chão está tremendo, vem aí uma catástrofe. Estão ligando da escola. Você não consegue ouvir mais nada e se lhe perguntarem se você aceita doar os seus órgãos para experimentos científicos em Marte, você vai dizer sim. Agora, já, pode levar.
Poucas situações deixam mães e pais em tamanha tensão. É tão horrível que a gente atende o telefone já na maior fatalidade: “Sim, sou eu, fala logo, estou indo praí agora”, antes mesmo que expliquem o motivo.
A saber, na maioria das vezes, banal. Às vezes, quando ligam para avisar sobre um princípio de febre, repetem “mas está tudo bem” tantas vezes que soa como uma mentira.
Como se eles mesmos estivessem querendo se convencer daquilo. Desesperador. Deveria ser proibido ligar da escola. Um e-mail, por exemplo, não assusta ninguém. É o melhor canal instituição-família.
Pelo bem da saúde cardíaca das mães, mais e-mails e recadinhos na agenda, por favor! E quando a coisa for séria, caso de polícia, ou melhor, de hospital mesmo?
Como quando a criança leva uma bolada e desmaia, cai da escada e quebra a perna ou tem uma convulsão na aula de ciências?
Que tal enviar um psicólogo ao encontro do responsável, medicá-lo e depois conversar? Ou então, as prefeituras terem helicópteros à nossa disposição para esse fim?
Porque nada pior que uma tranqueira no trânsito quando a gente tem que buscar os filhos na escola com o coração batendo mais de 200 vezes por minuto. A chance de bater o carro aumenta uns 500%.
As seguradoras deveriam nos perguntar: “A senhora tem filhos? Eles costumam ficar doentes no inverno? Acontece de a senhora ter que buscá-los no meio do expediente? Sinto muito, senhora, mas precisamos fazer um ajuste em sua franquia”.
Talvez seja exagero, mas a verdade é que a gente tem que confiar na escola e torcer para que nunca aquele número apareça no visor do telefone.
No mundo ideal das crianças, elas podem usar muita maquiagem, andar sempre riscadas com bigodes de gatinho ou pintinhas de festa junina e comprar todas as sombras coloridas da farmácia.
Pintar as unhas seria tão trivial quanto respirar. Duas sessões de manicure por dia? Pouco, segundo a Aurora. E não seria qualquer unha, teria que ter muitos adesivos, brilhos, caviar e pelúcia.
Desenhos de cupcakes, arco-íris, flores, corações e francesinhas também seriam obrigatórios no currículo da Mãe ou do PaiNicure. Batons teriam uso irrestrito: bochechas, pálpebras, lábios, em volta da boca e eventualmente na barriga.
Por que não? Os adultos também deveriam aderir a essa moda. As filhas de nossa autora não lidam muito bem com o fato dela gostar muito de maquiagem.
E quando o batom tiver cheiro ou gosto de morango e merecer uma mordida? Tudo bem, ninguém vai morrer por causa disso.
Nos cabelos, impera a lei da fartura. Se a sua cabeça comporta 50 tic-tacs coloridos, por que não os usar? Duas tiaras ao mesmo tempo? Muito legal. Elas adoram mesmo é pentear e encher de presilhas e elásticos.
Que mãe nunca se deu conta de noite que passou o dia todo com um elástico da Hello Kitty? Na rua, mães e pais devem saber o limite da fantasia e do exagero, do que é brincadeira e do que é adultizar uma criança.
Em casa, desde que não manchem de batom o sofá todo, que mal há em deixar as crianças serem felizes? É só esconder bem aquele primer caríssimo da MAC que a sua amiga lhe trouxe do free shop e está tudo certo.
Logo que os bebês nascem, eles ainda não estão 100% no planeta, sua consciência está viajando pelas galáxias. Eles só se conectam à Terra quando querem mamar, fazer cocô ou sentem frio, cansaço e vontade de sair para pegar uma brisa.
O resto do tempo ficam em Júpiter, Marte, Plutão. Adoram os anéis de Saturno. Vão até Netuno. O melhor que temos a fazer é deixá-los em paz. Você gosta quando alguém te acorda no meio de um sonho?
É como estar num mergulho incrível, vendo peixes de todos os tamanhos e cores, águas-vivas fluorescentes, cavalos-marinhos, pedras recobertas por estrelas e corais que abrem e fecham, e alguém te chama para pagar uma conta e arrumar a mesa do almoço.
Nenês pequenos gostam mesmo é de dormir. Se eles choram, é porque querem voltar para sua trip e não ficar ouvindo aquele papo “Gente, ele é a cara do Valdomiro, olha esse nariz. Se tivesse nascido de cesariana não teria essa cabeça amassada”.
Você acabou de nascer e todo mundo já está cheio de opiniões sobre a sua vida. É, no mínimo, muito desagradável. Antigamente, as pessoas enfaixavam os bebês. Os recém-nascidos pareciam pequenas múmias. Hoje, ninguém mais faz.
Para quem passou nove meses esmagado entre as costelas da mãe, a sensação deveria ser um pouco mais familiar do que um berço espaçoso repleto de aviõezinhos pendurados.
Apesar de não enxergar muito bem, uma coisa os bebês sabem: lá dentro era bem mais legal. Mães e pais que entendem isso terão em média quatro horas a mais de sono por noite nos primeiros anos de vida dos seus filhos. Pense nisso.
Certa vez, a nossa autora conheceu uma senhora na Flórida, que contou que ficava o tempo todo se policiando para não se distrair. Segundo ela, não importa o que um cachorro esteja fazendo, de tempos em tempos, ele parece se lembrar de que tem que caçar esquilos.
Então, sai correndo do nada farejando lixeiras, garagens e arbustos. Nós, humanos, a não ser que sejamos extremamente focados, também temos alguns estalos do nada e abandonamos o que estamos fazendo por outra atividade.
Isso não é uma característica boa. Mas, quando temos filhos pequenos, esta habilidade ou falta de foco é altamente providencial.
Especialmente em locais públicos, ou na nossa própria casa, perante as grandes ameaças da humanidade, também conhecidas como tomadas, gavetas, objetos pequenos engolíveis ou engasgáveis, quinas de mesas, portas sem trancas e toda sorte de perigos domésticos.
É meio impossível não ficarmos paranoicos. E a gente vai ficando tão, tão louco que tem vontades muito estranhas, como a de fazer um capacete de espuma para que a criança não se machuque nos 30 tombos diários que toma quando começa a andar.
No meio dessa loucura toda, buscamos ferramentas para nos tranquilizar. Sejam elas a prática da meditação ou trocentas quinquilharias para deixar o lar seguro. O importante mesmo é estar sempre alerta, com um olho na nuca, e nunca desligar, como um cachorro caçador de esquilos.
Dá uma canseira, você não acha? Mas não temos outra opção.
Já pensou se a gente pudesse assistir agora toda nossa infância, os primeiros beijos atrapalhados da adolescência, os vestidos bufantes das festas de 15 anos, as noites viradas nas casas das amigas conversando até amanhecer, rever o menino mais bonito da escola vestido de mulher na gincana de 93?
Não se trata de fitas VHS toscas, nem de ajustar o tracking do videocassete, mas sim de filmes em HD, editados com legendas, artes espertas e muitos emoticons.
Em menos de dez anos, nossos filhos vão ter acesso a uma infinidade tão grande de imagens suas e de seus amigos que poderão fazer longas-metragens e até mesmo séries sobre suas vidas.
Mas e se, no meio do caminho, alguém filmar uma filha sua em algum momento mais íntimo e isso for compartilhado em grupos da escola, grupos de pornografia de pedófilos, de abusadores, do seu próprio marido e de pré-adolescentes que ainda não aprenderam o que é um espermatozoide?
A mãe é sempre a última a saber. Mesmo que saiba em primeira mão, sinceramente, o que podemos fazer? Confiscar todos os celulares e computadores do mundo? Dar uma surra nas pessoas que compartilharam? Mudar para Marte? Nada disso está ao nosso alcance.
Devemos explicar a nossas filhas que consentimento é a palavra de ouro. Ninguém tem o direito de filmar, fotografar, nem mesmo conversar com alguém que não lhe deu consentimento, não disse sim.
É o velho “não fale com estranhos”, adaptado aos dias e aos perigos dos anos 10 do século XXI. Meninas são difamadas todos os dias. Suicidam-se. Têm que mudar de cidade. Ninguém quer isso para quem ama.
Enquanto isso, imagens de crianças e adolescentes tiradas às escondidas rodam sem obstáculos pela internet. Nossas filhas precisam saber que as suas vidas só dizem respeito a elas mesmas e que não podem ser registradas, que isso não é seguro.
Nossos filhos precisam saber o mesmo e ainda mais, que é importante respeitar as meninas, não as colocar em situações de perigo e jamais achar que estão dizendo sim quando falam não.
Para sermos ouvidos, precisamos pedir que eles tirem os fones e conversar sendo descolados e sérios, modernos e responsáveis, amigos e protetores, sinceros e divertidos. Mas acima de tudo, começar dando exemplo e apagando aquelas fotos ridículas que tiramos deles no vaso.
Criança pequena gosta de presente duro, ou seja, brinquedo. Se eles apalpam a embalagem e suas mãozinhas afundam no papel, raramente escondem o descontentamento.
Presente bom faz barulho quando chacoalhado. É pesado, usa pilha, pisca e toca alguma música insuportável. Quando o pacote é duro e pequeno, eles logo sacam que vão ganhar um livro. Os mais educados fingem alegria.
As crianças, em geral, gostam de livros, mas não gostam de ganhar um. Desde minúsculos, encaram como obrigação. Na real, a obrigação é nossa, de ler inúmeras vezes a mesma história mesmo quando estamos caindo de sono.
Por mais itgirl ou David Beckham que seu filho possa ser, ganhar roupa é a versão infantil de ganhar bijuteria barata quando você é adulta. Nem adultos se divertem ao ganhar roupas. Imagina as crianças.
Várias te olham com aquela cara de “É sério isso?” quando você entrega o pacote mole jurando que está arrasando com aquele conjunto de moletom todo bordado com algum personagem infantil que lhe custou o preço de um mês de pilates.
Portanto, antes de comprar um presente, lembre-se daquele dia em que recebeu:
Não seja essa pessoa, não vire estatística. Se a mãe insistiu que queria roupa compre algo bem básico e resista com todas as suas forças a dizer: “Achei a cara do fulano”.
Até porque a gente não achou a cara do pestinha coisa nenhuma. Achou na promoção e não tem etiqueta de troca.
Certa vez, um blog sobre maternidade publicou uma foto de mães sentadas num parquinho, todas em seus celulares. O post era sobre como somos julgadas por estar no celular quando deveríamos estar utilizando nossos corpos como escudo para eventuais quedas e nossa atenção deveria estar 100% focada na criança.
Dezenas de mães processaram o blog por difamação e uso de imagem. Diziam que tinham sido fotografadas sem autorização. A foto, na verdade, era publicitária e havia sido produzida para a postagem.
Aquelas mães nem eram de verdade, nem filho tinham. O que nos leva ao parquinho? Geralmente queremos que nossos filhos brinquem ou precisamos espairecer, respirar um ar puro.
De que adianta ir para o parquinho se o seu filho não socializa com outras crianças, quer brincar apenas com você e assim estar a salvo de todos os perigos? É conveniente para pais que não gostam de falar com pessoas, algo comum na idade adulta, mas cansa pacas.
Se o plano é a criança se divertir e cansar, gastar aquela fonte inesgotável de energia de outra forma que não seja pulando na sua cama quando você já está um zumbi, o parquinho pode ser uma boa.
Enquanto isso, você tem diversas possibilidades: ler um livro, conversar com babás, outras mães e pais, tirar fotos das crianças ou responder aquele e-mail urgente. Vida real, o que você faz?
Quem respondeu qualquer coisa tecnológica provavelmente acertou. Há algum tempo viramos ciborgues e vivemos com essa extensão no final das mãos chamada telefone celular.
É evidente que não podemos ficar só no celular, nem botar fones sob hipótese alguma. Independentemente de ficarmos como moscas em volta das crianças num espaço aberto, existe sempre a chance de elas se machucarem.
Se estivermos olhando, podemos tentar acudi-las mais rapidamente. Pesquisas mostram que, se estivermos distraídas, as crianças ousam um pouquinho mais. E isso não é de todo ruim. Pense na adrenalina que eles sentem. Isso faz parte da vida.
Nos Estados Unidos, a Associação Acadêmica dos Pediatras de San Diego analisou 371 cenas de dois minutos gravadas em praças públicas nas quais os responsáveis estavam distraídos quando seus filhos se machucaram.
Concluíram que o principal fator de distração eram as conversas entre os adultos, e não seus celulares. Lembre-se de que você não é uma super-heroína e nunca vai conseguir proteger seus filhos de todos os males do Universo.
Dito isso, caro ser humano sem extrapoderes, use seu tempo no parquinho como quiser. Só se lembre da máxima “um olho no gato, outro no peixe. E o modo ‘silencioso’ sempre ativado”.
Um dia o ônibus quebra, a chupeta cai no bueiro e o teu ombro arde de dor. No outro, um sorriso com os olhos e um par de mãozinhas a agarrando firme fazem você se sentir forte e importante.
Um dia você não dorme e de manhã percebe que vai faltar mais um dia no trabalho porque a febre não baixa.
No outro, você vê um rabisco com uma bolinha em cima, pergunta o que é e ganha a semana porque, entre todas as infinitas possibilidades do universo, é você que está ali naquela folha.
Um dia você não aguenta mais lavar os lençóis com xixi, ter cheiro de vômito e olheiras pretas de panda. No outro, você dorme agarrada com a sua prole numa cama pequena e entende que edredom nenhum jamais te fará sentir a plenitude daquele calor humano.
Um dia você pega muito trânsito e chega tão tarde na creche que os últimos funcionários que ainda estão ali, por sua causa, ficam naquele misto de sentimentos entre te odiar e ter pena de você.
No outro, você descobre como uma simples cartela de adesivos pode fazer uma criança muito feliz e percebe como a vida é bela, simples e justa.
Um dia você não toma banho, não consegue comer direito e não entende muito bem aquela criaturinha que não desgruda de você nem um segundo.
No outro, você sai só e, em vez de se sentir livre, sente saudades da pessoinha e entende que suas emoções nunca mais serão claras depois de ter passado por um processo de multiplicação.
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Ana Cardoso é jornalista, mestre em Sociologia Política, atuante em pesquisas sociológicas e grupos feminis... (Leia mais)
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