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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-8561773854
Editora: Papirus 7 Mares
Educação e comunicação lidam com formação. Isto é, nós supomos que as pessoas, não nascendo prontas, devem ser formadas numa direção que consideramos boa; empenhamo-nos, então, a formar a boa pessoa, a criar o bom espírito.
E o que é criar uma pessoa feliz? Não a pessoa eufórica, que ri de uma maneira desvairada, mas aquela que não tem uma vida não fértil, aquela que não tem uma vida banal, fútil, superficial, inútil.
A palavra felix, em latim, significa “feliz” e “fértil”. Porque felicidade é não esterilizar o sonho, não perder a esperança. Nesse sentido, a educação e a comunicação possuem um ponto em comum, que é formar pessoas que tenham vida fértil.
Essa vida fértil não é a vida do indivíduo fértil − porque não há fertilidade individual −, mas é a vida coletiva fértil, é ser fértil em meio a outras pessoas. Mesmo a felicidade, como a alegria súbita, ou um momento de euforia, é boa quando partilhada.
Afinal, se estou extremamente feliz por algo, quero que outra pessoa fique alegre junto comigo, de maneira que haja partilha. O ponto de chegada da educação e da comunicação, portanto, é a fertilidade para as pessoas
Há dois modos de aproximação à comunicação que se acentuaram nos últimos 50 anos: o modo jornalístico e o modo pedagógico. O modo jornalístico era o do relato do dia. A própria palavra jornalista é exatamente isto: aquele que conta como foi o dia.
Há uma divergência de ação entre os dois modos: o jornalista conta o dia e o pedagogo prepara o futuro. Quando você “entra em crise” ela nada mais é do que a crise de transição de crisálida para borboleta, de alguém que conta o dia.
A educação, por sua vez, é biópsia. É pegar uma coisa viva, ver o que ela tem de destrutível e de falecimento e procurar mantê-la viva de uma maneira mais substantiva.
No profetismo judaico antigo, profeta era aquele que fazia a denúncia e o anúncio. O profeta que só denunciava não era respeitado. O profeta que só dizia que as coisas não estavam bem, que algo não servia, ou não prestava, não tinha credibilidade.
O bom profeta era aquele que comunicava o anúncio. E o jornalismo, em grande medida, foi a denúncia e não o anúncio. O modo meramente jornalístico arcaico se contentava com a autópsia, e o modo pedagógico arcaico se contentava em doutrinar pessoas numa direção.
Entretanto, nos tempos em que estamos vivendo, essa transição, de uma perspectiva meramente informativa, denunciatória e menos propositiva, poderia nos levar a entender o jornalismo como isento.
Ora, isso é exatamente o inverso da educação escolar, cujo objetivo é propor. Aproxima mais a educação da política do que o jornalismo. Aliás, o jornalismo se colocou durante muito tempo como apolítico, embora não o fosse.
A educação jamais se colocou dessa maneira, tanto que Paulo Freire falava da educação como um ato político. Dificilmente alguém a favor da isenção escreveria: “o jornalismo é um ato político”. Na verdade, afirmaria o oposto, que o jornalismo não é um ato político.
Não são poucos os jornalistas que se envergonham de entenderem que o que fazem é um ato político, porque grande parte deles pressupõe política sempre de um modo estatal, oficial, ligado à dominação, ao passo que os educadores, em geral, se orgulham do fato de ela ser um ato político.
Juntando as duas coisas, nossos autores chegaram à seguinte conclusão: estamos na era da curadoria. E, para sobreviver no futuro, tanto na escola quanto na comunicação, cada um de nós vai ter que ser um curador.
Educação, comunicação e cidadania são conceitos interligados, e o que pode sintetizá-los é exatamente a noção de curadoria. Curar, em português lusitano, é “pensar”. Em português se diz: “você pode pensar este ferimento para mim?” E pensar é ser capaz de cuidar.
A era da curadoria é um momento em que organizamos os nossos espaços de convivência, de vida comum, estruturados em algumas instituições como a escola, os meios de comunicação, em que aquele que é o responsável por coordenar as atividades tem o espírito do curador.
O curador, desse modo, é alguém que tem que cuidar para repartir, alguém que precisa proteger e elevar para tornar disponível, para as pessoas que ali estão, seja o conhecimento na escola, seja a informação em relação ao mundo digital.
Não é um guardião porque este retém, não passa adiante; não é um guarda do museu, que não deixa o visitante chegar perto; não é um proprietário, que mantém a obra de arte dentro de casa. O curador não tem a visão de dono de uma propriedade.
Estamos assistindo a um processo darwinístico da informação. O indivíduo acessa o Google e vem um vendaval de possibilidades de informação. E isso só está aumentando, a atenção está cada vez mais dispersa. Vivemos numa era em que todos são, ao mesmo tempo, consumidores e produtores de informação.
Reside nesse ponto boa parte da crise da imprensa tradicional: o processo de comunicação gerou novos geradores de notícias. O leitor encara hoje a notícia como se estivesse olhando um caleidoscópio, tantas são as multiplicidades de uma mesma imagem.
Afinal, ele recebe a notícia por redes sociais, já comentadas e curtidas. E, por causa dos algoritmos, canais como o Facebook sabem o que o leitor quer. Ou imaginam que quer. O filtro, portanto, foi diminuído.
Antes, o jornalista era o sujeito que cantava sozinho no palco diante da plateia. De repente, se viu no meio de um imenso coral. E com cada um cantando a própria música.
Justamente aí está o fundamento da era da curadoria. Não significa que seja apenas para o jornalismo, mas para a comunicação. Por que curadoria? As pessoas vão buscar se informar com pessoas de credibilidade.
Pode ser um colunista, mas também um blogueiro que dá aulas em Harvard ou na USP. Se estou com dúvida sobre câncer, certamente melhor do que ler um jornalista que trata de mil assuntos, vou procurar, na internet, a visão de um médico especialista, que seja formado nas melhores faculdades.
Portanto, o Google e o Yahoo, por exemplo, são apenas a porta de entrada que vai levar o indivíduo a um grupo de curadores que constitui uma espécie de universidade livre − porque não conseguimos imaginar a universidade do futuro com a sala de aula que existe hoje.
Não conseguimos imaginar que o aluno vai chegar à escola e o professor vai lhe passar os conteúdos. Certamente será algo completamente diferente. Tanto que escolas como o MIT e Harvard já estão modificando a sala de aula.
E outras novidades se impõem ainda: por que ir para a escola todo dia? Talvez a frequência possa ser reduzida para três ou quatro vezes. E quanto ao horário? Sem dúvida não haverá necessidade de ir sempre naquele horário prefixado.
É preciso que o estudante tenha consciência de que, se quer fazer uma faculdade, como os conhecimentos estão todos disponíveis, ou ele se torna um curador ou não terá chance alguma.
Hoje, fala-se muito em rede social, Facebook, WhatsApp e outros inúmeros aplicativos. É uma verdadeira revolução! Na verdade, a grande rede social da história da humanidade – e que é a mais importante de todas – são as cidades.
Por que as cidades? Porque elas são o lugar onde as pessoas se comunicam. E quanto mais uma cidade é evoluída, mais ela transforma essa comunicação, essa interação em inovações.
Se considerarmos as grandes cidades do planeta na história da humanidade – Nova York, Roma, Viena, Paris, Frankfurt, Atenas –, o que elas são? São lugares que, antes de qualquer outra coisa, manifestam uma extrema inovação e uma extrema criatividade, que vemos com clareza nas artes e nas ciências.
Só são fulgurantes as cidades que possuem e valorizam as artes. Não existe na humanidade um caso em que seja considerada maravilhosa uma cidade cuja produção artística é ruim.
Geralmente, uma boa produção artística está no mesmo contexto de uma também boa produção científica. O que acontece aqui? O que a cidade faz? Como a cidade trabalha a questão da diversidade e da interação? Isso significa a base que favorece e possibilita a inovação.
Não existe inovação que seja isolada. Inovação pressupõe um grupo de atores. Como se fossem espermatozoides, eles vão competindo, vão interagindo para ver quem chega à fertilidade. O poder da atração das cidades é o poder da atração da comunicação.
As pessoas dizem: “agora posso morar no interior da África que mesmo assim vou saber de tudo, porque tenho acesso à internet”.
Mas por que elas querem continuar em Nova York, por que querem estar em São Paulo, em Paris, por que querem estar em Harvard, no MIT? Porque nesses lugares existe interação com a diversidade que gera inovação.
Nesse contexto, é verdadeiramente revelador o fato de que algumas pessoas tentam, mas não conseguem trabalhar em casa, porque não há comunicação. Elas até entram em contato com outras pessoas, mas não se comunicam de fato.
O local de trabalho, a cidade, a praça, a feira é onde aprendemos, ensinamos, nos relacionamos; o isolamento não leva a essa condição. Não é casual que muitas das cidades mencionadas são portos. Afinal, a cidade portuária é local de comunicação, é ali que se encontra o novo.
Não é casual que o Rio de Janeiro gere o novo: o Cinema Novo, a bossa-nova, a gíria. O porto é o lugar do comércio. Hermes não é só o deus do comércio, é o deus da interpretação, de cujo nome deriva o termo hermenêutica.
Dizemos que, quando algo está fechado, está hermético, e quando abrimos, enxergamos. Comunicar é ser capaz de esclarecer.
E para haver aprendizagem é fundamental que se estimule a concentração. O que a internet faz? As redes sociais dispersam a concentração, e talvez seja esse um novo tipo de concentração.
Alguns cientistas já afirmam que é mais fácil aprender no estilo internet, pois para haver concentração, é preciso fazer esforço. A dispersão vai se infiltrando; em algum momento, será necessário focar para não se perder.
Aqui, algumas questões se impõem:
Não existia o compartilhar, mas apenas o comunicar verbal, o boca a boca. Agora não, todos podem interferir, podem fazer comentários, podem, enfim, reconstruir aquele pensamento.
O jovem de hoje está o tempo todo conectado, compartilhando e gerando, de alguma forma, um tipo de contexto que pode ser legal ou não. Quando ele vai para a escola, muitas vezes o que ocorre é o contrário.
O que mudou na escola? Quase nada! De modo geral, temos o professor de um lado, os alunos do outro, e o livro como base. Esse sistema não mudou. Tanto que as escolas falam em impedir o uso do celular na sala de aula.
Infelizmente, vivemos numa época em que as pessoas sequer sabem usar um livro. Por exemplo, ao aplicar uma prova, o que normalmente o professor diz aos alunos? “Vamos fazer a prova, agora fechem o livro.”
Por que fechar o livro? O ideal seria que o aluno ficasse livre para consultá-lo. Mas ele não sabe sequer usar um livro em sala de aula! Se ele consegue fazer a prova usando o livro, podemos concluir que ela não presta.
Se ele, ao abrir o livro, encontra as respostas, é porque a prova está mal formulada. A prova boa é aquela que expõe várias referências e, a partir delas, por meio de uma leitura crítica, o aluno vai ter um pensamento original.
O inverso de fertilidade é esterilidade. Há uma informação estéril, há um espaço pedagógico estéril, há uma comunicação estéril, que é aquela que não gera a capacidade de elevação em relação ao que já se tinha, pois, educar é tirar o indivíduo de um lugar e levar para outro.
A própria palavra significa isso. Quando uma comunicação, uma estrutura de informação mantém o indivíduo onde ele já estava, ela esteriliza, não fertiliza. Fertilizar é gerar aquilo que é novo, portanto aquilo que eleva. Aquilo que interrompe é exatamente o falecimento das condições.
Uma habilidade indispensável nas escolas e que vai garantir ao aluno sua empregabilidade, sua cidadania, é uma leitura crítica da mídia. Por que? Se o indivíduo não souber ler as informações criticamente, sua capacidade de agir estará comprometida.
A nossa cidadania pode ser comprometida por elementos como:
A ideia da leitura crítica da comunicação é uma habilidade que tem que ser trabalhada, a começar pela escola. Ou seja: “vamos ler esta notícia do jornal, vamos ler esta notícia da internet, vamos ver tal programa da televisão”.
Uma coisa positiva do sistema de ensino dos Estados Unidos, por exemplo, é a forma como eles ensinam o aluno a defender um argumento numa sala de aula e depois levam essa mesma criança a desmontar o argumento que antes havia defendido.
Nesta nova era da comunicação, não é possível abrir mão dos conceitos da educação para comunicar, nem dos conceitos da comunicação para educar. Porque educação e comunicação estão se tornando uma coisa só, uma pressupõe a outra.
Quanto ao excesso de informação e ao excesso de confusão, as pessoas têm que entender esse universo, devem aprender a lidar com ele. Em tudo isso, houve uma coisa que não mudou: o fato de que as pessoas têm que tomar decisões.
Quem pretende comprar um batom, um relógio, um carro, ou quem vai ao oncologista, por exemplo, tem que tomar uma decisão. Para isso, a pessoa precisa de várias informações e tem que escolher entre elas. Então ela vai se ligar a meios de comunicação que são relevantes, com informações pertinentes.
O que nos faz acreditar no meio de comunicação é o fato de ele ser relevante ou não em nossa vida. Se ele não for relevante, não vamos considerá-lo. Pode-se questionar: o tema “celebridades” é relevante?
Para muitas pessoas, saber que biquíni a Gisele Bündchen está usando é uma questão importante, para outras não. Ou seja, no momento em que juntamos comunicação com educação, estamos expressando o seguinte: “quero fazer uma coisa que seja relevante na vida desse indivíduo”.
Talvez seja por isso que nunca foi tão forte a ideia de educação permanente. A frase “a educação nunca acaba”, que era só um mote para dizer que estamos vivendo e aprendendo continuamente, ganha hoje um nível de urgência.
Afinal, temos algo inédito no campo da comunicação e da educação, que é a simultaneidade.
Essa simultaneidade é, de um lado, a abolição das paredes, isto é, a desmontagem da estrutura física; de outro, a transformação de átomos em bits é cada vez mais veloz, em relação, inclusive, aos locais e aos modos de conhecimento e aprendizagem.
Todo conhecimento relevante da humanidade, seja em museus, seja em bibliotecas, pode ser disponibilizado. Todas as aulas relevantes da humanidade possivelmente estarão na internet, facilmente acessível e prontamente disponibilizada a qualquer pessoa que as desejem.
Os conhecimentos vão tomar formas cada vez mais interativas e interessantes. É possível que, em algumas situações, mais valha assistir a um vídeo interativo do que ter a presença de um professor.
Uma das iniciativas mais revolucionárias que se tem em educação e comunicação hoje é o “adaptative learning”, que em português se chama “ensino adaptativo”.
Funciona da seguinte forma: o aluno vai aprender matemática. Ele vai fazendo testes, até que o computador avisa: “você errou, faça de novo. Ou veja um novo exercício para aprender de um jeito diferente, recuperando o que você não sabia”.
O computador vai levá-lo a um estresse até ele chegar ao entendimento e ao acerto. O que significa isso? Que o professor na sala de aula pode acompanhar a evolução de aprendizagem de cada aluno para simplesmente orientar: “sabe essa conta que você não está conseguindo fazer? É assim”.
Na realidade, é como se criássemos um professor particular para cada estudante. Se na escola presencial existir um sistema de comunicação pelo qual o professor mude a sua forma de atuação de modo que o computador faça uma boa parte e ajude na resolução de problemas, os ganhos serão enormes.
Todavia, isso não significa que o professor seja dispensável, mas que ele é mais importante ainda. Significa o seguinte: “vou ajudá-lo a transformar a curiosidade e a dúvida na essência da minha relação”. A comunicação dele com o estudante muda.
O que não muda nunca é algo ligado a uma palavra simples: relevância. Enquanto alguma coisa for relevante para o indivíduo poder ter informação e viver melhor, ela não vai perecer.
A escola, hoje, ou é um centro de curadoria sofisticado ou perde sua importância, porque já é possível o acesso a excelentes aulas. Vemos, portanto, como a comunicação muda toda a visão do processo educativo.
Na nova era, há muita coisa obsoleta. Uma delas é, em grande medida, o modo de organização do currículo escolar. Ele é do século XIX, e isso faz que tenhamos algo que é quase uma herança jesuítica que organizava o modelo de ensino na relação ensino-aprendizagem pela compartimentação.
Enquanto sociedade, persistimos nessa tendência porque ainda não arriscamos a formação mais ampliada do próprio docente.
Não obstante, há vários projetos em ação no Brasil em que se trabalha com o professor polivalente do 1º ao 9º ano. Aí se pode questionar: “mas como alguém formado em filosofia ou biologia vai ensinar matemática ou português?”
Isso será possível se eu for formado num projeto em que é o meu colega que tem licenciatura em matemática que me forma para ensinar essa disciplina e eu o formo para ensinar filosofia.
“Mas ele será menos profundo”, pode ser o argumento. Mas qual é o nosso nível de interesse? A profundidade ou a largueza? O que queremos ampliar como percepção? O que oferece mais capacidade de ação?
Esse nível de audácia vem avançando nesses novos modelos que são provocativos. Porque, quando as plataformas digitais acossam os professores na escola, elas o fazem porque vão mostrando o verdadeiro grau de obsolescência presente nos modelos tradicionais.
Essa simultaneidade, essa instantaneidade, essa conectividade obsessiva retiram o maior combustível da criatividade humana: o tédio. Goethe dizia que os macacos não criam, não fazem ferramentas, porque não têm tédio.
Obviamente que no século em que estava ainda não havia estudos que mostravam que os macacos também criam. Nós não somos os únicos primatas capazes de criar. E essa avalanche informacional, com essa obsessão pela simultaneidade, pela conectividade, impede a existência do tédio.
Hoje, não há ninguém desocupado em lugar nenhum, e isso impede a criação. O tédio é o mais forte motivo para a criatividade. Portanto, a ausência de tédio permite informação, mas nos faz reduzir nosso espaço de conhecimento.
Não é o desespero o grande motor da literatura; é o tédio. Tem gente que passou a escrever poesia não porque sofria, mas porque estava num sofrimento desocupado. Quando sofremos, mas estamos ocupados, o sofrimento fica secundarizado.
Por isso, qual é o problema recorrente a uma parcela daquilo que é o mundo digital? Ele não nos dá respiro, isto é, não dá trégua. E sem trégua, não criação ou invenção. Temos um risco grande de formar gerações com a capacidade apenas de ser reiterativa e não criativa.
Quando queremos tudo no tempo real, presente, deixamos de pensar em coisas que temos que fazer durante muito tempo para atingir um objetivo. Há muitos alunos que ainda estão na faculdade, mas que já querem atingir logo seu objetivo. Não têm a paciência de construir o conhecimento.
A história da cidadania é a história do empoderamento. Hoje, se alguém fizer uma piada sobre negro, ou uma piada sobre mulher, pode se meter em uma grande confusão.
E há outras conquistas, algumas já há algum tempo, por exemplo, a preservação da natureza como elemento da cidadania, ou a ideia de abrir espaços para pessoas com deficiência, que já soma 30 anos. Portanto, a história do empoderamento, a história da comunicação é a história da cidadania.
Obviamente, a ideia de comunicação é a do vir à tona com o estar presente. É comunicar-se, estar com outros. É quando saio de casa, vou para a rua e digo: “eu sou homossexual”; “eu sou mulher”; “eu sou religioso”; “eu sou ateu”; “eu sou...”.
Quando me mostro e, portanto, não temo me comunicar com outras pessoas, ganho mais forças. E se nós nos juntarmos, ficaremos mais fortes ainda.
Tanto que hoje há uma comunidade gay com poder muito superior a outras comunidades que também são objeto de discriminação no dia a dia, mas que parece majoritária porque seus membros conseguiram se organizar de um modo que, indo para a rua, discutindo, acionando o Judiciário, acabaram provocando ruído.
Podemos considerar outros lados da comunicação: muito da corrupção que se tem hoje deriva da facilidade de captar as informações onde estão armazenadas e divulgá-las. Porque houve um tempo em que não se tinha acesso à informação, ela estava trancada numa gaveta. Agora, ela circula por aí, está no computador.
Há uma afirmação que, às vezes, parece até óbvia, mas dando o passo seguinte, talvez não: todo ser humano sempre viveu na época contemporânea, sem exceção. Portanto, somos todos contemporâneos, em qualquer idade.
Mas não somos contemporâneos do mesmo jeito. E é essa diversidade da nossa contemporaneidade que provoca colisões em relação aos modos de comunicação, educação e convivência.
Tomemos o exemplo de um homem comum, na faixa dos 50 anos. Ele é contemporâneo de um menino de 16 anos. Mas não é contemporâneo do mesmo modo. Sua contemporaneidade tem uma história anterior em que a ideia da proximidade era decisiva para a comunicação − mas uma proximidade física.
Nesse exemplo, sua contemporaneidade acha absolutamente estranho que alguém, estando no quarto ao lado, fale com ele pelo WhatsApp. Pode ser, até mesmo, que nosso homem quase beire a violência diante de uma situação como essa.
Obviamente, para um menino que conversa com o irmão que está no banco de trás do carro, os dois sentados, um dialogando com o outro pelo WhatsApp, joelho com joelho, é estranho que alguém precise se levantar para falar com outra pessoa.
Como lidamos com essa divergência? Buscando encontrar os pontos de convergência. O que ele quer com o irmão ao lado? Comunicação. O que o homem mais velho quer quando se levanta? Comunicação. Ninguém quer ficar isolado.
Não é à toa que uma das mais belas cenas do cinema é o E.T. com o menino que dele cuida, que é o seu curador enquanto ele estava ali. Porque aquilo é expressão humana! É o teto da Capela Sistina levado para as telas.
A ideia é que, se Deus não tem Adão para se comunicar, a solidão é infinita. Assim como no Grande sertão, tem que haver veredas. E a comunicação são as nossas veredas.
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Mario é filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário. É muito conhecido por divulgar pensadores com outros intelectuais como Clóvis de Barros Filho, Leandro Karnal e Renato Janine Ribeiro e analisar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea. É professor titular do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e de pós-graduação em Educação da PUC-SP, na qual está de 1977 a 2012, além de professor-convidado da Fundação Dom Cabral, desde 1997, e foi no GVPec da Fundação Getúlio Vargas, entre 1... (Leia mais)
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